Na quarta-feira, dia 8, representantes da organização não-governamental Criança Segura e da Associação Brasileira de Produtos Infantis (Abrapur) foram recebidos, em Brasília, pelo ministro das Cidades, Mário Negromonte. Eles entregaram um ofício que pede mudanças e atualizações na Resolução 277 do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Esta regulamentação entrou em vigor em setembro de 2010 para obrigar o uso dos dispositivos de retenção para o transporte de crianças até sete anos e meio em veículos de passeio.
Alessandra Françoia, coordenadora nacional da Criança Segura, conta que o documento prevê a retomada da campanha de mídia, reforçando a importância do uso do equipamento, e o treinamento de agentes de trânsito. Outra solicitação é a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos dispositivos. Segundo Alessandra, isso poderia representar uma redução de 20% no preço do bebê conforto, cadeirinha e assento de elevação. O ministro teria se comprometido a marcar uma audiência com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discussão dessa proposta.
A coordenadora da ONG diz que o ofício também pede a inclusão de táxis e veículos de transporte escolar na obrigatoriedade do uso do dispositivo. Outra reivindicação é o aumento da faixa etária para obrigatoriedade do equipamento para 10 anos. “Nunca entendemos porque os 7 anos e meio”, completa ela. Também foi sugerido que todos os veículos passem a sair de fábrica com cinto de três pontos em todas as posições do carro (meio e laterais). Hoje, a grande maioria dos modelos tem, no banco de trás, cinto subabdominal no meio.
A jornalista Elizandra Morais não tem esse problema. Ela é proprietária de um Renault Scenic, que tem cinto de três pontos nos três assentos do banco traseiro. Com isso, ela consegue transportar com segurança seus três filhos: Lucas, de 7 anos, e as gêmeas Marina e Beatriz, de 4 anos.
Exceção e confusão
Os cintos de dois pontos provocaram tantas dúvidas quando a lei entrou em vigor, em setembro do ano passado, que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) precisou criar algumas exceções às regras impostas pela Resolução 277. Na ocasião, foi constatado que não há no mercado nenhum equipamento para retenção infantil adequado ao cinto de dois pontos.
A mudança atingiu usuários de veículos fabricados antes de 1998 e a maior parte da frota atual, que tem cinto subabdominal no banco central traseiro (nesse último caso, afetou quem precisa transportar ao menos três crianças).
Nos casos de veículos que têm, no banco traseiro, só cintos subabdominais, as crianças menores de quatro anos devem ser transportadas no banco da frente (com cinto de três pontos), no bebê conforto (até 1 ano) ou na cadeirinha. Já as crianças de 4 a 7 anos e meio, que devem ser transportadas normalmente usando assento de elevação, não devem usar o equipamento quando forem transportadas com cintos subabdominais.
A legislação exige dos pais, em algumas situações, muita atenção para colocar cada criança no local adequado. Um leitor, por exemplo, relatou que a sobrinha dele tem três filhos: uma menina de 4 anos e gêmeos de 2 meses. A mãe queria saber se poderia colocar a menina no banco da frente e sentar no banco central traseiro com os bebês. A informação da área de fiscalização de trânsito da Diretran é de que, como os bebês devem usar os cintos de 3 pontos, a menina de 4 anos pode ser levada no banco do meio, atrás, com cinto subabdominal, sem o equipamento de retenção.
Agora, se essa família tivesse um carro só com cintos subabdominais no banco traseiro, não seria possível transportar as três crianças juntas. Só um dos gêmeos poderia ser colocado na frente, com o bebê conforto, no cinto de três pontos, e a menina de 4 anos iria em qualquer assento do banco traseiro, presa ao cinto subabdominal. Não teria como levar o outro bebê sem infringir a lei.
Quem descumpre as regras referentes ao transporte de crianças está sujeito a penalidade prevista no Artigo 168 do Código de Trânsito Brasileiro, que considera a infração gravíssima e prevê multa de R$ 191,54, sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação e a retenção do veículo até que a irregularidade seja sanada.
Em Curitiba, no ano passado, a Diretran registrou 1.075 autos de infração. Na análise mês a mês, é possível verificar um aumento gradativo a partir de setembro, quando teve início a fiscalização do uso da cadeirinha. O total mensal passou de 75 em setembro para 85 em outubro, 107 em novembro, 150 em dezembro e 192 em janeiro deste ano. Depois os números começaram a cair: fevereiro (119), março (114) e abril (104).
Fique atento
Veja qual é o equipamento adequado.
Até 1 ano
Os bebês até um ano de idade devem ser transportados no bebê conforto ou conversível, voltados para trás, de costas para o movimento.
De 1 a 4 anos
Nessa faixa etária deve ser usada a cadeira de segurança. As crianças passam a ser transportadas voltadas para frente.
De 4 a 7 anos e 6 meses
Nessa fase a criança pode andar presa ao cinto de segurança do próprio veículo, mas usando o assento de elevação. O cinto usado deve ser o de três pontos.
De 7 anos e seis meses até 10 anos
A criança ainda deve ficar no banco traseiro, com o cinto de segurança de três pontos, mas sem o assento de elevação.
Multa
A falta do equipamento poderá render uma multa de R$ 191,54 e sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH), além da apreensão do veículo para regularização.
Pesquisa
Motorista tem novo comportamento
A organização não-governamental Criança Segura fez uma pesquisa sobre o transporte de crianças em carros. O trabalho foi desenvolvido em duas fases: antes e depois da entrada em vigor da Resolução 277 do Conselho Nacional de Trânsito. O objetivo era identificar se haveria ou não mudança no comportamento dos pais a partir da obrigatoriedade do uso dos equipamentos de retenção. O levantamento mostrou que o porcentual de motoristas circulando com o equipamento adequado passou de 77,5% em abril de 2010 para 98,6% em dezembro.
A pesquisa foi realizada em São José dos Campos (SP). Foram ouvidas 500 pessoas em cada uma das fases. Outro dado que chama a atenção é o que se refere à fiscalização. Dos motoristas ouvidos, 89,1% informaram que nunca foram parados por agentes de trânsito.
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