Entramos 2020 com as expectativas lá em cima! Naquele que tinha tudo para ser o melhor ano da história da indústria moveleira, com projeções de crescimento na casa dos 19%. Otimismo motivado, sobretudo, por questões como a redução dos juros e da inflação, bem como pela expansão do crédito e da massa salarial, após anos de uma crise econômica generalizada no Brasil. O que, entre outros fatores, puxou para baixo o desempenho do setor moveleiro. Causando recuo de 13,8% na produção e 14,8% em volume no varejo de móveis e colchões entre 2014 e 2019.
No início do ano, as primeiras notícias sobre a disseminação de um vírus deixa o mundo em alerta. Vem, então, o susto: uma pandemia a nível global, obrigando o mundo a se isolar dentro de suas casas. No Brasil, a quarentena tornou-se uma realidade a partir do mês de março, gerando impactos em todos os aspectos da vida e dos negócios, inclusive na cadeia moveleira.
A verdade é que as incertezas geradas pelo vírus, que continua a desafiar a ciência, causaram efeitos e volatilidade na economia global. Impactando especialmente aos mercados emergentes, como o brasileiro, que sofrem sobretudo com a questão cambial e as consequências dela. Em meio a tantos problemas e possibilidades, no entanto, o distanciamento social mostra-se, definitivamente, como o ponto de maior impacto até aqui.
Isso porque, a medida (muito necessária, temos de ressaltar!) culminou em restrições que não só afetaram ao consumo – ao impactar a dinâmica do varejo físico -; como também provocou diversas alterações no comportamento do consumidor – algumas que já se mostram permanentes. E é justamente este o desafio desta nova série de conteúdos aqui na Plataforma de Negócios Setor Moveleiro: tentar decifrar de que maneira essas mudanças vêm transformando ao setor moveleiro no Brasil, seja de maneira pontual ou definitiva.
Para começar, vamos aos números! A produção em valores de fábrica (sell in) de móveis e colchões no Brasil fechou 2019 em R$ 69,9 bilhões, segundo o Iemi – Inteligência de Mercado – relembre entrevista com Marcelo Prado, diretor da instituição. Olhando-se para esses números, o próprio Iemi projetava um crescimento de 19% no setor até 2021. Superando, assim, oito anos de oportunidades e enriquecimento perdidos, ao voltarmos ao bom patamar de 2013. Projeção, essa, sustentada por todos os elos da cadeia moveleira.
Até que… bem, vocês já sabem! O que parecia ser um cenário de crescimento consistente da produção, foi revertido para uma enorme redução nos primeiros meses de quarentena (entre março e maio). Estimando-se, então, uma queda de 10,2% no volume de peças e de 9,9% no valor de vendas nominais na indústria em 2020. Já no varejo, o Iemi prevê até então uma perda de 10,3% no volume de peças, contra 11,8% no valor de vendas nominais no acumulado deste ano frente aos resultados de 2019.
Sim, os planos de recuperação foram frustrados. A grata surpresa, no entanto, é que o setor moveleiro parece ser um dos que vem se saindo melhor – e quem sabe até mais fortalecido – da pandemia, apresentando ótimos sinais de retomada. Os motivos para essa boa gestão da crise são diversos. Vamos por parte. Primeiro temos os fatores externos, aqueles que afetam à indústria de fora para dentro. Um exemplo é o forte trabalho de entidades setoriais, como da Abimóvel, na garantia de direitos e benefícios para as empresas. Resultando, assim, em importantes medidas governamentais de proteção à produção nacional.
Portanto, observarmos a gama de políticas apresentadas num cenário tão conturbado e em tão pouco tempo, verificaremos que muitas ações foram implementadas. Tais quais medidas trabalhistas; de crédito para o micro, pequeno e médio empresário; prorrogação de financiamentos e contratos de câmbios; redução e postergação de impostos e tributos; auxílio emergencial aos trabalhadores e mais necessitados; simplificação e desburocratização de processos; melhoria do ambiente de negócios; etc.
Depois temos a própria reação do empresariado. Que além de buscarem alternativas para a máxima manutenção possível de seu capital humano e parceiros de negócios, também atualizaram as dinâmicas de negociação – tanto com fornecedores quanto lojistas e instituições financeiras -, bem como adotaram novos modelos comerciais e de gestão na indústria e no varejo. Nesse sentido, os canais de venda on-line – com a aceleração do domínio do e-commerce em todo o mundo – e a digitalização de serviços em geral é, certamente, o ponto alto para a retomada nesse momento.
Assim, com a economia do distanciamento em foco, o objetivo é buscarmos cada vez mais por formas de levar as marcas até à casa dos consumidores, como o é o caso do shop streaming e das lives – entenda mais sobre estes conceitos aqui. Os modelos de negócios low touch também ganham popularidade. Tais como as modalidades logísticas que priorizem estratégias “figitais” – conectando ações e plataformas físicas e digitais numa mesma operação. Conceito que, aliás, já impacta também ao futuro das feiras de negócios e apresentação de produtos no setor moveleiro a partir de agora.
Dessa maneira, grandes redes varejistas que já vinham se antecipando a esse momento de explosão do comércio eletrônico e das mídias sociais no geral, como a Magazine Luiza e a Via Varejo, tem aumentado suas vendas durante a pandemia, superando seu próprio valor de mercado. Em contrapartida, aquelas que resistiram à adequação aos canais digitais ou que chegaram muito atrasadas, amargam prejuízos – muitos deles irreversíveis – neste ano. Veja alguns cases.
Mas, afinal, qual é o elemento propulsor desse boom na venda de móveis que começou em junho e parece se estender pelos próximos meses? É esse, então, o ponto que buscaremos desvendar em nosso próximo conteúdo da série “Setor Moveleiro – Overview 2020”. Não perca!
https://setormoveleiro.com.br/setor-moveleiro-2020-aquecimento-em-meio-pandemia/
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