O desenrolar da atual crise dos governos americano e
de vários países europeus tem apontado para um cenário com algumas diferenças em relação
às causas e os efeitos da crise global de 2008. Embora especialistas afirmem que a crise atual tem ligações
e é, em parte, efeito da crise de 2008, eles também afirmam que a natureza da crise atual é diferente.
A crise de 2008 afetou o setor privado,representado principalmente pelo setor bancário, havendo falta de crédito,
redução no consumo e paralisação e estagnação das empresas e, consequentemente,
do crescimento das economias mundiais. A atual crise não configura uma crise do setor privado, que hoje conta com crédito
e financiamentos disponíveis, mas sim uma crise dos governos que se endividaram, em muitos casos, justamente para ajudar
o setor privado na crise de 2008. Portanto, se o setor privado produz e se desenvolve, a crise dos governos, mesmo influenciando
negativamente o setor privado, tende a não afetar de forma tão drástica o crescimento das economias como
foi o caso da crise de 2008. Da mesma forma, analisando o setor do agronegócio, as tendências têm apontado
para uma situação em que a crise de estoque de alimentos (commodities) mundiais persistirá possivelmente por mais uma década. Por sua vez,
os preços agrícolas também vão ficar em alta em função do déficit de produção
de alimentos, da queda da produtividade do agronegócio e da perspectiva de crescimento populacional em alguns países
emergentes. Neste cenário, países com aptidão para produção primária tendem a estar
em uma situação favorável que, se bem aproveitada, pode colocá-los em uma posição
vantajosa no futuro. Considerando-se as tendências mundiais, o setor florestal, assim como todo o agronegócio,
pode estar se deparando com um cenário otimista dos negócios nos anos vindouros. A diferença temporal
entre a decisão efetiva de investir e os resultados oriundos dessa decisão pode-se apresentar como uma janela
de oportunidades para o setor. As crises e a possível redução de investimentos nos países produtores
florestais pode ser a oportunidade para que o setor florestal brasileiro se fortaleça com investimentos em tecnologia,
eficiência econômica e agregação de valor, desfrutando de ganhos oriundos da venda de produtos valorizados.
A análise
conjuntural do Centro de Inteligência em Florestas deste mês de outubro de 2011 continua a acompanhar os
movimentos e tendências dos vários segmentos dentro do setor florestal. Apesar da redução de crescimento
e desafios que segmentos específicos estão enfrentando, de modo geral, o setor continua se desenvolvendo e com
condições de tomar as decisões corretas para assegurar um fortalecimento da competitividade dos negócios
florestais brasileiros frente aos concorrentes mundiais.
Segmento de Madeira Processada
Em setembro, as exportações de madeira
e derivados foram de US$155.263 mil, representando uma queda de 6,7% em relação ao mês anterior. As importações
foram de US$17.067 mil, representando uma redução de 14,4% em relação ao mês anterior. Portanto,
o saldo na balança comercial de agosto foi de US$157.246 mil, queda de 5,7% em relação a agosto deste
ano. Quando comparado com o mês de setembro do ano passado, as exportações, importações
e o saldo da balança variaram -1,3%, 34,2% e -4,4%, respectivamente. Em 2011, de janeiro a setembro, a balança
comercial acumulou um saldo de US$1.422.689 mil, representando uma redução de 2,9% comparada ao igual período
do ano passado. Esses números indicam uma ligeira queda do ritmo de crescimento neste último mês.
Mesmo com as incertezas do mercado global, a Suzano anuncia
novos investimentos. O presidente da Suzano Energia Renovável, André Dorf, assinou um protocolo de intenções
com o governo do Maranhão, em 2 de outubro de 2011, que prevê o investimento de R$1 bilhão em florestas
plantadas e três fábricas, até 2014. A meta é instalar no estado três unidades de produção
de pellets de eucalipto (pedaços de madeira) para geração
de energia. Segundo Dorf, a disponibilidade de terras, preço mais acessível e a infraestrutura logística
do Maranhão foram fatores determinantes para a escolha do estado. O executivo disse que o mercado alvo da Suzano é
a Europa, que já é o principal consumidor de pellets de madeira. "Através do Maranhão, ganhamos cinco dias de navio até a Europa", declarou Dorf. Ele
ainda informou que a companhia já está negociando preço de frete para baratear os custos (Globo Rural
Online).
Outra boa notícia para o segmento de madeira processada
é que tramita no Senado uma proposta de proibição de exportação de madeira não beneficiada.
Esta medida estimularia o beneficiamento da madeira, agregando o seu valor, gerando mais empregos, renda e divisas. Madeiras
beneficiadas, de acordo com a proposta, são aquelas transformadas em vigas, pranchões, tábuas, lâminas
ou outras formas de comercialização. Segundo Bolsonaro, essa proibição temporária seria
um primeiro passo para que o País adote uma política eficiente de fiscalização de extração
da madeira nativa. “A floresta amazônica é a última grande reserva de madeira tropical do planeta.
As empresas que controlam o mercado internacional desse recurso já começaram a transferir suas operações
para a região”, alertou. Esta proposta já foi aprovada pela Comissão de Constituição
e Justiça e de Cidadania. Como tramitou de forma conclusiva, ela segue para análise do Senado. Em setembro de
2011, alguns preços do metro cúbico de madeira serrada na Zona da Mata Mineira tiveram alta, a saber: Angelim
Margoso (R$1.890,00), Cumaru (R$2.430,00), Jatobá (R$2.430,00), Sucupira (R$2.250,00), altas de 3,2%, 5,9%, 5,9% e
16,3%, respectivamente. Já os preços do metro cúbico de madeira serrada do Eucalipto (R$1.100,00), Pinus
(R$800,00) mantiveram-se estáveis (CIFlorestas).
Apesar de apresentar uma ligeira queda de atividades
durante o mês de setembro, perspectivas de maiores investimentos, já vislumbrando uma melhor situação
econômica mundial no futuro, e também iniciativas parlamentares para que se adicione valor às madeiras
exportadas apontam para uma melhor perspectiva de médio e longo prazo para o segmento de madeira processada.
Segmento Moveleiro
Os empresários do setor moveleiro brasileiro,
neste segundo semestre de 2011, continuam apreensivos em face das incertezas que persistem na economia global, principalmente
em função da crise que ronda os países da zona do euro. As mudanças repentinas no cambio têm
se refletido em instabilidades na produção, na exportação e na importação dos diversos
produtos desse segmento.
Apesar das ameaças da crise internacional, o setor
moveleiro apresentou indicadores positivos no mês de agosto, acompanhando o quadro geral da indústria de transformação
brasileira que registrou dois meses seguidos de aumento da atividade industrial. O setor apresentou crescimento de 12,0% em
relação ao mesmo mês do ano de 2010, valor acima da média da indústria nacional, de 6,7%.
O quadro de agosto não é de forte expansão, mas a continuidade de taxas de crescimento das variáveis
pesquisadas contrasta com a estagnação observada na primeira metade do ano. Em setembro e outubro, esses resultados
devem ser menos favoráveis em decorrência de mudanças macroeconômicas internas e externas.
As exportações do setor de janeiro a setembro
de 2011, embora crescentes, apresentam-se em queda em todos os meses no comparativo com os mesmos meses de 2010, exceto em
agosto, quando houve uma ligeira recuperação.
No acumulado do ano de 2011, o Brasil exportou, aproximadamente,
US$ 337 milhões
em móveis, um resultado 12% inferior ao obtido
no mesmo período em 2010.
Praticamente inexpressivas no passado recente, as importações
de móveis apresentam-se crescentes neste ano de 2011 (Tabela 2). No comparativo com 2010, de janeiro a agosto de 2011,
essas são 97% maiores do que aquelas no mesmo período. Tal quadro vinha revelando perda de competitividade da
indústria moveleira nacional frente a uma moeda nacional valorizada. No entanto, em setembro, percebese que houve queda
expressiva dessas importações, reflexo talvez da repentina e forte desvalorização do real frente
ao dólar em decorrência do agravamento da crise financeira nos EUA e Europa.
Acredita-se que as medidas de incentivo dadas pelo governo federal,
visando desonerar o setor de móveis, os investimentos em promoção e inovação, a redução
das taxas de juros, as mudanças no cambio, além do aquecimento natural da demanda
interna no segundo semestre, devam, em conjunto, resultar em um cenário
mais otimista para o setor no médio e longo prazo.
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