A IDEIA
Ademir, que trabalha com plantio e conservação de gramados, conta como começou o projeto
que não era seu ramo de negócios: "Aluguei um barracão para estocar o couro de uma indústria de
Imbituva. E quando aquele couro começou a entrar no meu barracão eu vi que era muito. É um lixo tóxico,
não pode ser jogado nem a céu aberto, porque tem o cromo, que vai para o lençol freático e é
cancerígeno. E não pode ser queimado pois solta um gás que é nocivo para a atmosfera". O material,
segundo o empresário, era transportado para uma empresa em Chapecó, num aterro sanitário. Devido aos
altos custos de transporte e o impacto ambiental causado pelo lixo tóxico, as medidas de escavar um buraco, fazer alvenaria,
cobrir o couro com lona e fazer concreto em cima, não ajudavam muito o ambiente.
Assim, o empresário
teve a ideia de utilizar seu triturador. "Comecei a triturar e deu uma massa, tipo algodão. Era muito couro que chegava
de Imbituva, em 4 meses eu tinha 3,6 mil m³. Quando deu esse negócio, tipo algodão, parou por ali. O que
você faz com uma massa dessa? Aí fui para Florianópolis, passar uma semana, e lá encontrei um senhor
chamado Zé do Papel, de Guarapuava. Ele explicou que dava assistência no município e eu perguntei: de
couro, dá para fazer papel? Ele respondeu: não sei se dá, mas tudo que se transforma em fibra já
é matéria-prima para alguma coisa. E eu cheguei na fibra, como aquele algodão de couro". Posteriormente,
Ademir mandou a massa para o Guarapuava, onde o senhor, com uma máquina de produção de papel caseira,
utilizando canos de água, chegou a transformar o algodão em chapas mais resistentes, com diferentes molduras
estampadas e cores. "Aquilo me encheu os olhos", conta Ademir.
O SUCESSO
Contudo, depois disso, o processo ficou parado. Foi em contato com o Senai, através do gerente de
Irati e Guarapuava, Paulo Sérgio Lopes Zen, que o negócio começou a tomar forma. Paulo indicou o Senai
de Telêmaco Borba, município dos Campos Gerais do Paraná, que trabalha com celulose para ver a viabilidade
de transformar o couro em papel. "Eles levaram uns três sacos, que seria a fibra do couro. O Senai trabalhou para mim,
não cobrou nada, trabalharam seis meses mais ou menos, daí um dia eles me ligaram e eu fui lá. Almocei
com eles e me mostraram o que conseguiram em laboratório", conta Ademir. Na sequência, começaram a incidir
custos. Com a confiança do Senai em dizer que dava para fazer algo com aquele produto, Ademir resolveu investir. "?
Eles falaram que tinham certeza que no final ia dar alguma coisa, que vai dar retorno. Quando eles falaram isso, me dando
quase 100%, eu falei: então vamos fazer".
Visitas a Franca (São Paulo) e Novo Hamburgo (Rio Grande do Sul),
durante o processo, deram ainda mais respaldo para a ideia de transformar couro em celulose. No meio do processo, totalmente
sigiloso, Ademir recebeu uma homenagem discreta do Senai de Irati, para não atrapalhar o processo. O projeto, que começou
no dia 12 de março de 2013, estava pronto. "A Adriane (do Senai de Telêmaco Borba) me ligou e falou: você
está sentado? Eu falei que sim. Ela disse que eu poderia abrir um champanhe, pois o projeto foi aprovado no Ministério
de Ciência e Tecnologia em Brasília". Finalmente, com a conquista da patente, os vários testes e a aprovação
do Ministério, Ademir, um empresário do ramo de gramados, seria o pioneiro mundial em transformar couro em papel
- e em vários produtos, com diferentes texturas e finalidades.
PARCERIA
Paulo Zen, do Senai de Irati, conta sobre o prêmio que Ademir recebeu em Brasília, que foi o
valor do projeto. "O Senai, departamento nacional, investiu R$ 299 mil nesse prêmio para ser utilizado no projeto e
o Ademir fez a contrapartida de R$ 70 mil. Esse foi um projeto de inovação do Senai: o de Telêmaco Borba
fez o projeto, viu que era viável, mandou para Brasília, que comprou a ideia e investiu este valor, para custear
o projeto de pesquisa, que envolveu compra de máquinas, insumos para testes nos resíduos, até a fabricação
da pasta". O gerente ainda destaca a importância da parceria entre o Senai e o empresário Ademir. "Qualquer ideia
que alguém tenha e que seja plausível de acontecer, que a gente vê que realmente tem futuro, a gente investe
até financeiramente. Nós temos um histórico. Como nós atuamos no apoio a indústria, a gente
acaba conhecendo muito de muitos setores, então sabemos o que pode dar certo".
LIÇÃO
Já para Ademir, que conseguiu um projeto de tamanha dimensão, o sentimento é
de dever cumprido - não apenas com seu trabalho, mas com o meio-ambiente e o impacto que isso causará em todo
o mundo. "Isso aqui me sobra uma lição, eu aprendi duas coisas: não é importante o dinheiro que
eu vou ganhar. Porque na idade que eu estou, seria interessante ganhar aos 35, 40 anos. Mas, acho que o maior legado de tudo
isso é que daqui 40 anos vai vir um bisneto meu e vai dizer: isso é fruto do trabalho meu bisavô. Temos
que deixar um legado bom para a humanidade. Nem todo mundo consegue, Deus me iluminou de ter essa ideia".
FONTE: FOLHA DE IRATI
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