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08/06/2010

Aumenta a participação das mulheres na recapagem de pneus

O segmento de reforma de pneus, que até pouco tempo era estritamente masculino, já está cedendo espaço para a participação da mão-de-obra feminina.

Reza o senso comum que as mulheres chegaram ao poder. Afinal, elas estão em toda a parte. São 51% da população, 51,7% do eleitorado e 45,1% da população economicamente ativa no Brasil. Não foi somente o setor de reforma de pneus que se rendeu aos encantos femininos. Hoje, elas atuam como motoristas de caminhão, de taxi, motoboys, frentistas, engenheiras, jogadoras e até na política. Dilma Rousseff, Marina Silva, Kátia Abreu e Heloisa Helena são possíveis candidatas a presidente da República ou a vice. Enquanto no mundo, a média de representatividade das mulheres em alguns parlamentos é de 18%, no Brasil o índice é de 8,7%.

De acordo com estudos da Fundação Dom Cabral, num universo de 10 mil empresas pesquisadas, só 25% dos cargos de lideranças são ocupados por mulheres e 8% desses locais têm uma mulher como principal executiva.

A mulher na recapagem

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março de 2010, a equipe de reportagem da Revista Pnews saiu a campo para ouvir alguns executivos de empresas associadas à ABR (Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus) que resolveram abrir suas portar para a mão-de-obra feminina na linha de produção e ficaram surpresos com o resultado obtido.

A Pnecap Recauchutadora Pneus Ltda. - empresa com sede em Santana do Parnaíba (SP) e há mais de 50 anos no mercado - há dois anos resolveu apostar na qualificação das profissionais femininas para compor a linha de produção dos pneus reformados para veículos de cargas. "As mulheres têm mãos mais leves, são mais atentas, tranquilas e exigentes, qualidades indispensáveis nos trabalhos que antecedem a reforma do pneu", conta Daniel Fernandes da Silva, gerente de produção da empresa.

Segundo ele, atualmente a empresa emprega 35 funcionários dos quais seis são mulheres que fazem o trabalho de análise da carcaça, a escareação e a colagem da banda. "Um trabalho altamente artesanal que é exercido com muita competência pela equipe feminina", garante.

Pesquisas revelam que hoje as mulheres estão em todos os setores, desde o chão de fábrica até o mais alto posto de comando. Elas ainda sofrem preconceitos, e ganham menos que os homens. Silva diz que na Pnecap essa diferença não existe. "O salário é igual e todas são respeitadas", destaca.
Fernanda Franco de Godoy, solteira, 33 anos - segunda funcionária a ser contratada - trabalha como examinadora de pneus na empresa há cerca de três anos. "Minha função é verificar se a carcaça está em condições de passar por uma recapagem".

Segundo ela, quando começou a trabalhar na Pnecap percebeu um pouco de resistência por parte dos colegas masculinos. Na verdade eles acreditavam que as mulheres tirariam seus empregos. Quando perceberam que as contratações estavam sendo feitas somente para a linha preparatória ficaram mais tranquilos.

Em 2009, a Pnecap produziu mais de 27 mil unidades de pneus recapados para caminhões. Este ano, a média mensal de produção da empresa aumentou cerca de 20%.
Com sede em Barueri (SP), a Pneucargo Tecnologia em Pneus Ltda. já teve várias funcionárias do sexo feminino na produção e nunca se arrependeu. "Vale destacar, que hoje uma delas ocupa o cargo de Recauchutadora Líder. "Acreditamos que as mulheres são mais detalhistas e atenciosas na execução de algumas tarefas, principalmente em procedimentos que requerem mais cuidado, como os de escariação, conserto, cola e extrusão", explica Luiz Recchi, diretor-executivo da empresa.

Especializada em recauchutagem de pneu de cargas, a empresa - que foi fundada em novembro de 2003 - emprega 25 funcionários, entre eles está Sílvia Cristina Brandão, que está na Pneucargo há seis anos.

Para o diretor-executivo da Pneucargo, sob o ponto de vista de resultado operacional, não existe diferença entre a funcionária feminina e o masculino nas operações de uma empresa de reforma de pneus, mas é importante entender as diferentes etapas e processos de produção na indústria de recapagem e algumas limitações físicas para as mulheres. "Em nossa empresa temos obtido sucesso com mulheres na produção em atividades como raspa, escariação, cola, extrusão, consertos e outros", confessa.

Segundo Recchi, a empresa está muito satisfeita com o trabalho feminino e contratará tantas quanto forem necessárias. No entender do empresário, a presença de mulheres no quadro funcional do setor ainda é pequena, talvez pelas limitações físicas para alguns procedimentos operacionais e também por se tratar de um produto considerado pesado, como o pneu, problema esse amenizado na Pneucargo, pela completa automatização dos seus equipamentos, o que facilita, sobremaneira, a atuação feminina.
Outro ponto a ser considerado é a questão salarial. Em alguns setores, as mulheres - mesmo exercendo as mesmas funções dos homens - ganham menos e trabalham mais. No segmento de reforma de pneus, considerando as empresas entrevistadas pela reportagem da Revista Pnews, não ocorre essa discriminação. "Não posso falar pelo setor como um todo, mas na nossa empresa remuneramos pela função e não pelo sexo do funcionário", garante Recchi.

Sílvia conta que nunca teve problemas por trabalhar na linha de produção. "Quando cheguei, os colegas tiveram um pouco de receio, mas depois acostumaram e hoje somos bons amigos de trabalho. No início eles faziam piadinhas, mas levei na brincadeira e na esportividade", lembra.
A funcionária conta que nunca havia trabalhado em uma empresa da área na mesma função, mas o bom ambiente de trabalho que encontrou na Pneucargo foi primordial para habituar-se na função. "Tanto que estou na companhia há seis anos e hoje ocupo o cargo de Recauchutadora Líder", complementa.

O que Silvia mais gosta na empresa é do ótimo ambiente de trabalho e da possibilidade de interagir com seus colegas em outras funções. No seu entender, as empresas não contratam mais mulheres para trabalhar na área por preconceito ou por não conhecerem a força do trabalho feminino na produção. "Quando isso acontecer, mudarão totalmente de ideia", garante ela.

A Renovar Pneus tem 80 funcionários, dos quais 22 são do sexo feminino (na produção, no escritório, em vendas e em serviços gerais). "Aprecio muito o trabalho das mulheres, no quesito compromisso e dedicação. Pretendo, sempre que possível, contratar mais profissionais femininas, até para cargos de chefia. No momento certo isso vai ocorrer. Elas têm uma liderança muito boa", diz Alfredo J.M. Conceição, diretor da empresa.

Segundo ele, não é o fato de ser homem ou mulher que determina o sucesso, "mas quando temos bons profissionais de ambos os sexos, vemos uma diferenciação positiva na mulher. Não que não tenhamos problemas com elas, acho que estatisticamente são problemas menores. Mas na produção elas são excelentes", garante o diretor.

Alfredo diz que a diretoria da empresa resolveu começar a contratar mulheres há três anos para fazer o trabalho de preenchimento e preparação de bandas porque elas são mais cuidadosas, organizadas e caprichosas. "Estamos pensando em contratar novas funcionárias femininas para trabalhar no setor de escareação", anuncia.

No seu entender, o que difere uma funcionária feminina de um homem nas operações de uma empresa de reforma de pneus é o fato dela ser mais comprometida e dedicada."
De acordo com o empresário, o setor utiliza pouco a mão-de-obra feminina talvez pelo fato de algumas funções demandarem uma força física maior, e na maioria dos casos por falta de ideia e até preconceito se virmos por esse lado. "Em nossa empresa não existe diferença salarial. Aqui elas são equiparadas aos homens, se ocupam a mesma função", conta.

Com sede em Jandira (SP) e filial em Americana (SP), a Renovar Pneus foi fundada em 1971, no bairro do Limão (SP) e durante todos esses anos foi se desenvolvendo e aprimorando seus processos. Atualmente, as duas unidades respondem por uma produção mensal de 4.300 pneus de carga.

Maria José Fontanielo de Oliveira é diretora-geral da Bruma Com. Pneus Ltda, uma empresa familiar com sede em Atibaia (SP), que recapa 150 pneus de carga por dia.
Estão sob o seu comando 50 funcionários, entre os quais 10 são do sexo feminino. "Faço parte da direção da companhia há 26 anos, pois ajudei a fundá-la juntamente com o meu falecido marido em 1984", conta a executiva.

Segundo ela, no início houve uma certa resistência por parte dos funcionários em atendê-la em suas solicitações, mas, há algum tempo, isso não ocorre mais. "Os problemas que enfrento hoje são os do dia-a-dia, porém, corriqueiros", diz a empresária contando que a Bruma possui outra funcionária ocupando cargo de diretora Financeira.

Na opinião da diretora da Bruma, o que difere uma profissional feminina de um masculino nas operações de uma empresa de reforma de pneus, é a capacidade de resolver os problemas rapidamente e de serem práticas. "Estamos estudando a possibilidade de contratarmos mulheres para trabalhar na linha de produção", adianta.

No entender da empresária, as mulheres têm pouco espaço no quadro funcional do setor, quando falamos em chão de fábrica por se tratar de um trabalho muito braçal.

Segundo algumas pesquisas, há setores onde as mulheres - mesmo exercendo as mesmas funções dos homens - ganham menos e trabalham mais horas do que os colegas do sexo masculino. "Na nossa empresa não ocorre essa discriminação. Aqui todos são tratados com igualdade, pois efetuam os mesmos serviços"

 

Fonte: Revista Pnews - Edição 67

http://www.abr.org.br/Revistas/revista_atual.html 

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