O aumento dos custos industriais vem trazendo diversas dificuldades para a indústria brasileira. Este cenário está pressionando as margens de lucro das empresas, impossibilitando investimentos, empurrando para baixo as estimativas de crescimento e encolhendo a maioria das indústrias.
De acordo com o Indicador de Custos Industriais da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), os custos para as indústrias brasileiras cresceram 8,1% em 2015 em relação ao ano anterior. O índice é o segundo maior registrado desde o início da série histórica do dado, em 2006, ficando apenas um pouco abaixo do observado em 2008.
Segundo os dados nacionais, o índice foi influenciado por aumentos em praticamente todos os principais fatores considerados pela CNI. O maior deles foi o aumento de custo com energia (38,9%), seguido pelo custo com capital de giro (16,3%) e aumento de custo com a produção (10,6%). Pesaram também no bolso dos industriais os aumentos de 9,6% com custo com pessoal e 9,5% com custo com bens intermediários - aqueles bens ou componentes adquiridos para serem utilizados no processo produtivo para a fabricação do produto final. No cenário nacional, o único índice que apresentou resultado negativo foi o de custo tributário (-2,2%).
Só o aumento de custo em si já seria um fator preocupante. No entanto, soma-se a isso uma demanda cada vez menor em função da perda de poder de compra e alto índice de endividamento da população, desvalorização do Real frente ao dólar e dificuldade de acesso ao crédito. A redução do volume produzido provoca, também, aumento de custos unitários, a chamada deseconomias de escala. São fatos que estão presentes desde 2015 e vem se agravando neste início de 2016.
Outro fator que torna a situação ainda mais complicada é a impossibilidade de a indústria repassar totalmente o aumento de preços ao mercado. De acordo com o relatório da CNI, os preços dos produtos manufaturados cresceram cerca de 7% em 2015, quase 1 ponto percentual, ou 12,5%, a menos do que os custos, em um cenário em que as margens de lucro já vinham bastante pressionadas.
Paraná
Se para a indústria nacional a situação está complicada, conforme mostram esses índices, para os industriais paranaenses o caso é ainda mais grave, na avaliação do Departamento Econômico da Fiep. Estudos mostram que aumentos, como o de energia elétrica, foram ainda mais severos no estado: apenas entre julho de 2014 e julho de 2015 tivemos um aumento no custo de energia de 140%, por exemplo”.
Os custos tributários, que se mostraram como o único índice que teve retração no cenário nacional, também cresceram em âmbito regional. Houve acréscimo na cobrança de ICMS para diversos insumos, principalmente para as indústrias enquadradas no Simples Nacional e instituição do ICMS-ST para vários produtos, que aumenta a incidência tributária na indústria, portanto, no Paraná o índice relacionado aos custos tributários foi positivo.
Outro aspecto que atingiu a indústria foi a valorização do dólar. Nós últimos anos, com o Real valorizado, foi mais barato realizar compras de insumos e componentes do exterior para a fabricação de produtos. Com isso, fabricantes nacionais deixaram de operar ou migraram para outras atividades. Agora, com a desvalorização da moeda brasileira, nem sempre há fornecedor nacional disponível para essas aquisições. A alternativa é comprar em dólar, mas com um aumento significativo dos custos.
Fator igualmente importante é o aumento do custo com pessoal. Nós últimos anos, os salários tiveram reajustes significativos e agora, diante do baixo volume de produção, a massa salarial pesa para os industriais. Mesmo com demissões, a manutenção do quadro mínimo de profissionais acaba impactando fortemente os custos. “Apesar de uma redução no volume de empregos de 4,89%, ainda assim, houve, em 2015, aumento nos custos de pessoal na indústria paranaense em 3,47%, em um momento em que as empresas não conseguem repassar estes custos. Somadas a outras despesas, esse aumento é muito significativo”, esclarece o economista Roberto Zurcher.
Futuro
De acordo com ele, é bastante difícil prever os próximos passos para a economia paranaense e brasileira. Os indicadores demonstram que os custos continuam a subir e há pouca evolução quanto à oferta de crédito ou medidas para impulsionar o crescimento de forma mais imediata.
E, explica Zurcher, ainda que estas medidas ocorram há certa demora para que seus efeitos sejam sentidos na economia. “De momento o cenário é preocupante, com uma inflação em elevação e aumento de preços administrados que estão contaminando os preços de mercado”, salienta.
As iniciativas para contornar as dificuldades continuam sendo as de uma análise dos custos das empresas, visando a otimização dos recursos, a diversificação de mercados dentro do possível, atenção à precificação e busca por tornar a estrutura e a gestão mais eficazes, principalmente com atitudes que não envolvam grandes investimentos.
“A recuperação que a economia deverá enfrentar, quando houver medidas que propiciem esse retorno, deverá ser lenta. Hoje, a indústria está operando em um nível 15% abaixo do registrado em 2013. Com uma taxa média histórica de crescimento de 3,9% ao ano, para retornar ao patamar de 2013, precisar-se-á de quatro anos. Neste cenário, planejar e controlar custos, buscando alternativas de novos produtos e mercados, é mais do que necessário”, enfatiza.
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