Melhorar a competitividade e inovar é meta de várias indústrias. Ao menos no campo das ideias. No entanto, consultorias e programas oferecidos regularmente pelos sindicatos em parceria com a Fiep mostram que colocar na prática este objetivo não exige grande investimento. Dependem mais de uma mudança de cultura industrial, que implica em planejamento, adoção de estratégias definidas e estruturação da comunicação, tanto interna quanto externa, para que as soluções possam ser debatidas em rede.
Para o consultor internacional em qualidade, processos de operações, técnicas de design, layout de fábrica, processos de produção, gestão ambiental e gestão da qualidade, Francesco Balducci, inovação é uma palavra ampla e muitas vezes mal compreendida. “A inovação não diz respeito apenas à pesquisa aplicada. Pode ser uma mudança do que acontece no dia a dia no relacionamento com os fornecedores, com os clientes, com os funcionários, ou mesmo uma alteração na forma como algo é produzido, com redução de custos, aumento de produtividade ou melhoria da qualidade”, explicou o especialista italiano, que esteve em Curitiba no início de março ministrando o workshop “Design Industrial como fator de inovação”, evento promovido pelo Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiep.
Desta forma, segundo Balducci, inovar nem sempre quer dizer produzir algo novo, com um novo material ou nova tecnologia. Muitas vezes, é usar de forma diferente os métodos tradicionais. Mas, para o especialista, identificar essas oportunidades depende que a empresa tenha definido seu foco - seu produto - e sua filosofia esteja clara para todos os envolvidos na cadeia.
“Eu acredito que é preciso fazer uma escolha sobre o produto que deseja fazer e adotar uma filosofia de produto e de processo relacionada com ela. Esta filosofia deve permear toda a indústria e também o mercado, sendo transmitida ao cliente, que irá receber os produtos e aos fornecedores. Por exemplo, eu posso decidir trabalhar com ‘cozinhas ecológicas’ e irei buscar todas as informações e oportunidades relacionadas ao tema. Em resumo, todo o processo deve estar alinhado a esta filosofia. Desde a compra, relacionamento com o fornecedor, atenção às tendências e novas tecnologias, tudo precisa ser alinhado. Neste ambiente, as oportunidades de inovar e de criar uma identidade de marca surgirão”, explica.
Ele comenta que para inovar é preciso ouvir todos e receber muitas informações, processando e definindo o que pode ser útil. Segundo o consultor, uma inovação pode ser, por exemplo, realizar uma melhor gestão do estoque para permitir que não haja investimento parado em termos de materiais estagnados na linha produtiva, o que também significa liberar espaço dentro da indústria.
Inovar também pode ser transferir parte da produção para empresas especializadas, de forma terceirizada, e melhorar a qualidade e a gestão deste processo, uma vez que a empresa não pode ser especialista em tudo. Essa transferência, de acordo com Balducci, no entanto, irá exigir um planejamento detalhado para que a indústria possa cumprir seus prazos, ter estoques em níveis suficientes e saber, com exatidão, o momento em que esse material será integrado ao processo produtivo, permitindo que a linha de produção siga em harmonia e com menores custos.
Linha de produção
A organização do processo e da linha produtiva também é muito importante para inovar. É essencial comprar equipamentos adequados e avaliar a todo o momento o processo produtivo, identificando onde ocorrem demoras, perda de material, problemas de qualidade e vulnerabilidades de segurança dos trabalhadores.
“Inovar, neste caso, é realizar mudanças no processo produtivo que tragam mais produtividade e qualidade. E não há como realizar isso sem que haja monitoramento e muita ordem no processo produtivo. Isso passa por coisas simples, como a limpeza do ambiente, a organização do almoxarifado, a organização das etapas produtivas, a análise do tempo gasto em cada etapa de produção e um sistema de qualidade do produto final, além de dimensionar o estoque adequado, para não ter dinheiro parado”, avalia.
Exemplos
Um exemplo da eficiência destas medidas é a empresa paranaense Vector, que fabrica pedestais e acessórios para instrumentos musicais em Maringá. A indústria também participou do projeto “Indústria+Produtiva”, realizado no ano passado, e conseguiu melhorar seus indicadores. Líder de mercado, a companhia convivia com alguns inconvenientes na produção, como ausência de programação de produção, excesso de estoques de peças no chão de fábrica, estações de trabalho inadequadas e falta de padrão na montagem.
Com as mudanças propostas no projeto, segundo informações da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a empresa conseguiu organizar e liberar o espaço do chão de fábrica, além de estabelecer etapas para a produção dos bens e facilitaram o trabalho dos funcionários. “A implementação das medidas não apenas racionalizou o tempo dos trabalhadores, como significou um aumento da capacidade produtiva de 315 para 450 peças por dia, um ganho de 43%. Um dos resultados mais importantes para a direção da empresa não pode ser quantificado: o projeto ajudou a desenvolver lideranças na equipe e a transferir conhecimento aos operadores”, afirma o relatório que apresentou os resultados do programa.
Outra empresa que comprovou que mudanças simples podem ajudar a economizar e tornar o processo produtivo mais eficiente foi a Da Mundy Toys, também de Maringá. Participante do mesmo projeto, ela fabrica camas elásticas para vários estados brasileiros. Mas, diagnosticou problemas como a falta de método, acúmulo de tarefas para os funcionários, excesso de estoque, desordem nos materiais e estações de trabalho inadequadas. A indústria realizou diversas mudanças, estabelecendo um fluxo de trabalho, reposicionando bancadas e organizando o estoque de peças semiprontas, que baixou de 700 para 150 peças empilhadas.
Segundo a CNI, a reformulação da linha de produção otimizou o trabalho, possibilitando realocar colaboradores para outras áreas da fábrica que precisavam de reforço. Além disto, a melhoria de eficiência resultou no aumento de 600 para 765 camas elásticas produzidas por mês. O método refletiu na capacidade de planejamento de compras e na qualidade de trabalho e a empresa já pretende expandir o projeto de inovação para outras duas linhas de produção.
Crise x oportunidade
Francesco Baldutti afirma que o momento atual vivido pelos industriais brasileiros traz desafios, mas pode ser aproveitado para a inovação. “Esse momento da crise, em que os industriais estão com um ritmo de produção menor, é bastante viável para que os industriais possam realizar esse planejamento. Isto significa avaliar o processo produtivo, verificar os custos e onde se pode reduzi-los, organizar a produção interna, ajustar os estoques, avaliar com os fornecedores os fluxos de envio dos materiais, buscar novos fornecedores e materiais que possam melhorar a qualidade e também idealizar novos produtos”, completou.
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