Fonte=> Clipping FIEP
O horizonte de juros estáveis em 2013 traçado pela maioria dos economistas pode dar a impressão de
que o ano será de calmaria. Mas se há algum consenso entre esses profissionais é o de que a condução
da taxa de juros será um desafio dos mais elevados para o Banco Central, em um horizonte de inflação
mais alta do que se projetava há alguns meses combinado com atividade resistente a responder aos estímulos já
concedidos. Tudo em um cenário internacional - pano de fundo para todo o processo de alívio monetário
realizado a partir de agosto de 2011 - que segue como grande incógnita.
Nenhum dos economistas ouvidos pelo Valor
espera que a inflação convergirá para o centro da meta este ano, de 4,5%, embora a maioria acredite que
a Selic ficará em níveis historicamente baixos até dezembro. O Itaú, por exemplo, prevê
mais corte do juro neste primeiro semestre, embora projete inflação em 5,6% no acumulado do ano. Esse paradoxo
tem gerado desconforto no mercado, provocando alta das taxas de juros futuros e elevando a demanda por títulos públicos
atrelados ao IPCA, as NTN-Bs, papéis que protegem o investidor da inflação mais salgada.
Segundo a
economista Tatiana Pinheiro, do Santander, vários fatores estarão em ação para manter os preços
em alta ao longo do ano: impulsos monetários e fiscais que foram dados na economia em 2012; quebra de safra nos Estados
Unidos; desvalorização cambial; e inércia inflacionária a partir da forte elevação
dos preços administrados captados nas variações dos IGPs.
Ela pondera que entre os fatores climáticos
está o custo da energia elétrica, assunto em destaque neste início de ano e que mobiliza o governo, e
também o custo dos alimentos. "Não imaginamos que a inflação dos alimentos subirá cerca
de 10% como ocorreu em 2012, mas algo em torno de 8% é possível."
"A aceleração da inflação
brasileira do ano passado para cá pode ser considerada atemporal. Ela prossegue independentemente do calendário",
afirma Tatiana, que trabalha com projeção de 6% para o IPCA neste ano como cenário básico. Na
pior hipótese, decorrente de pressões adicionais de uma crise energética que ainda não está
configurada na avaliação, a inflação brasileira poderá chegar a 6,3% ou colar no teto da
banda do regime de metas, de 6,5%. Para a Selic, a projeção do Santander é de 6,25% ao final de dezembro.
Para
a economista, a alternativa que o governo deverá usar para manter a política de afrouxamento monetário
num cenário de inflação pressionado é a desoneração tributária. "A política
de desoneração foi usada em 2012 para incentivar investimentos, produção e reduzir a inflação
e deve prosseguir. É inegável que os impostos influenciam a inflação brasileira", afirma Tatiana.
É
a mesma visão do sócio-gestor da SM Managed Futures, João Luiz Mascolo, professor de economia do Insper.
Para ele, o governo vai recorrer a novas desonerações, como as feitas no IPI de bens duráveis ou no setor
energia, e contabilização de receitas extras para fechar o saldo de superávit primário.
Mas
Mascolo admite que em algum momento o aperto monetário terá que ser usado. "Acredito que a presidente vai empurrar
essa situação até 2014. Com as eleições no horizonte, ela poderá trocar a equipe
econômica e voltar ao tripé de juros, câmbio flutuante e superávit fiscal."
Já para Tony
Volpon, diretor do banco Nomura, uma das armas a serem usadas pelo BC pode ser o câmbio. "Não foi por acaso que
ele (o BC) tentou segurar o câmbio, quando parecia se deslocar para R$ 2,10, R$ 2,15. Isso só daria mais inflação",
diz. "Obviamente, à medida que houver recuperação econômica, pode ficar mais confortável
em ver câmbio desvalorizar um pouco, porque tem a questão da indústria", afirma.
À medida que
algum sinal de recuperação apareça, diz Volpon, o mais provável é que o BC aumente juros
para conter a inflação. "Este deve ser um ciclo mais clássico, nada parecido com o vivido em 2008. A
única maneira de o BC tentar recalibrar a política monetária é via juros." Ele considera menos
provável o uso de medidas macroprudenciais. E espera que o BC volte a subir a Selic em outubro, com a taxa encerrando
o ano em 8,25%.
Uma melhora no quadro externo está contemplada neste cenário. Para Volpon, o BC tem tolerado
repiques da inflação porque acredita que o cenário internacional negativo vai neutralizar os choques
de inflação. "Meu cenário é de que o externo melhorará mais ainda, o que vai tirar esse
conforto que o BC teve durante todo esse ciclo, de que o externo ruim garantiria que a inflação não escapasse
do controle."
Já o economista-chefe do Banco Pine, Marco Maciel, acredita que o Banco Central vai continuar usando
ao longo deste ano artifícios como o emprego de bancos públicos para preencher a lacuna deixada pelo encolhimento
do crédito privado, especialmente o de longo prazo, desonerações tributárias para segurar o IPCA
na marra ou ajustes fiscais para fechar o superávit primário. Mas ele aponta que o desconforto dos agentes de
mercado vai crescer e a inclinação da curva de juros futuros vai se mostrar cada vez menos compatível
com a política monetária atualmente empregada pelo BC.
"O Banco Central está contando com uma melhora
da confiança do empresário, com a retomada do crescimento do crédito para os investimentos aumentarem
e a inflação começar a convergir para o centro da meta." Quando perguntado se isso vai acontecer, a resposta
é: "Não". O economista projeta PIB de 2,5% neste ano. (LP, AB e JJO)
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