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Desafio! - 11/01/2013

Desafio: IPCA alto e PIB baixo

Dosar ações!

 Fonte=> Clipping FIEP

O horizonte de juros estáveis em 2013 traçado pela maioria dos economistas pode dar a impressão de que o ano será de calmaria. Mas se há algum consenso entre esses profissionais é o de que a condução da taxa de juros será um desafio dos mais elevados para o Banco Central, em um horizonte de inflação mais alta do que se projetava há alguns meses combinado com atividade resistente a responder aos estímulos já concedidos. Tudo em um cenário internacional - pano de fundo para todo o processo de alívio monetário realizado a partir de agosto de 2011 - que segue como grande incógnita.
Nenhum dos economistas ouvidos pelo Valor espera que a inflação convergirá para o centro da meta este ano, de 4,5%, embora a maioria acredite que a Selic ficará em níveis historicamente baixos até dezembro. O Itaú, por exemplo, prevê mais corte do juro neste primeiro semestre, embora projete inflação em 5,6% no acumulado do ano. Esse paradoxo tem gerado desconforto no mercado, provocando alta das taxas de juros futuros e elevando a demanda por títulos públicos atrelados ao IPCA, as NTN-Bs, papéis que protegem o investidor da inflação mais salgada.
Segundo a economista Tatiana Pinheiro, do Santander, vários fatores estarão em ação para manter os preços em alta ao longo do ano: impulsos monetários e fiscais que foram dados na economia em 2012; quebra de safra nos Estados Unidos; desvalorização cambial; e inércia inflacionária a partir da forte elevação dos preços administrados captados nas variações dos IGPs.
Ela pondera que entre os fatores climáticos está o custo da energia elétrica, assunto em destaque neste início de ano e que mobiliza o governo, e também o custo dos alimentos. "Não imaginamos que a inflação dos alimentos subirá cerca de 10% como ocorreu em 2012, mas algo em torno de 8% é possível."
"A aceleração da inflação brasileira do ano passado para cá pode ser considerada atemporal. Ela prossegue independentemente do calendário", afirma Tatiana, que trabalha com projeção de 6% para o IPCA neste ano como cenário básico. Na pior hipótese, decorrente de pressões adicionais de uma crise energética que ainda não está configurada na avaliação, a inflação brasileira poderá chegar a 6,3% ou colar no teto da banda do regime de metas, de 6,5%. Para a Selic, a projeção do Santander é de 6,25% ao final de dezembro.
Para a economista, a alternativa que o governo deverá usar para manter a política de afrouxamento monetário num cenário de inflação pressionado é a desoneração tributária. "A política de desoneração foi usada em 2012 para incentivar investimentos, produção e reduzir a inflação e deve prosseguir. É inegável que os impostos influenciam a inflação brasileira", afirma Tatiana.
É a mesma visão do sócio-gestor da SM Managed Futures, João Luiz Mascolo, professor de economia do Insper. Para ele, o governo vai recorrer a novas desonerações, como as feitas no IPI de bens duráveis ou no setor energia, e contabilização de receitas extras para fechar o saldo de superávit primário.
Mas Mascolo admite que em algum momento o aperto monetário terá que ser usado. "Acredito que a presidente vai empurrar essa situação até 2014. Com as eleições no horizonte, ela poderá trocar a equipe econômica e voltar ao tripé de juros, câmbio flutuante e superávit fiscal."
Já para Tony Volpon, diretor do banco Nomura, uma das armas a serem usadas pelo BC pode ser o câmbio. "Não foi por acaso que ele (o BC) tentou segurar o câmbio, quando parecia se deslocar para R$ 2,10, R$ 2,15. Isso só daria mais inflação", diz. "Obviamente, à medida que houver recuperação econômica, pode ficar mais confortável em ver câmbio desvalorizar um pouco, porque tem a questão da indústria", afirma.
À medida que algum sinal de recuperação apareça, diz Volpon, o mais provável é que o BC aumente juros para conter a inflação. "Este deve ser um ciclo mais clássico, nada parecido com o vivido em 2008. A única maneira de o BC tentar recalibrar a política monetária é via juros." Ele considera menos provável o uso de medidas macroprudenciais. E espera que o BC volte a subir a Selic em outubro, com a taxa encerrando o ano em 8,25%.
Uma melhora no quadro externo está contemplada neste cenário. Para Volpon, o BC tem tolerado repiques da inflação porque acredita que o cenário internacional negativo vai neutralizar os choques de inflação. "Meu cenário é de que o externo melhorará mais ainda, o que vai tirar esse conforto que o BC teve durante todo esse ciclo, de que o externo ruim garantiria que a inflação não escapasse do controle."
Já o economista-chefe do Banco Pine, Marco Maciel, acredita que o Banco Central vai continuar usando ao longo deste ano artifícios como o emprego de bancos públicos para preencher a lacuna deixada pelo encolhimento do crédito privado, especialmente o de longo prazo, desonerações tributárias para segurar o IPCA na marra ou ajustes fiscais para fechar o superávit primário. Mas ele aponta que o desconforto dos agentes de mercado vai crescer e a inclinação da curva de juros futuros vai se mostrar cada vez menos compatível com a política monetária atualmente empregada pelo BC.
"O Banco Central está contando com uma melhora da confiança do empresário, com a retomada do crescimento do crédito para os investimentos aumentarem e a inflação começar a convergir para o centro da meta." Quando perguntado se isso vai acontecer, a resposta é: "Não". O economista projeta PIB de 2,5% neste ano. (LP, AB e JJO)

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