Na fábrica, o desconto é maior
Compra sem intermediários é possível em algumas empresas no Paraná. Alternativa é válida também para a empresa, que ganha em volume.
Por vezes escondidas e pouco divulgadas, lojas de fábrica vendem produtos direto aos consumidores com preços geralmente mais atraentes do que os encontrados em shoppings e supermercados. A Gazeta levantou alguns exemplos de lojas de fábricas em Curitiba e região metropolitana, onde é possível encontrar artigos de higiene pessoal, material de limpeza, móveis, brinquedos e alimentos. Os consumidores que compram direto na indústria podem encontrar descontos de até 50% - como no caso do pacote de pão fatiado Tradição, que, no centro de distribuição Bimbo do Brasil, custa apenas R$ 1,00 (veja mais produtos no infográfico).
O consultor de finanças pessoais Altemir Farinhas ressalta, porém, que não é em todos os casos que o consumidor ganha com a compra na fábrica e que cada pessoa deve avaliar sua situação antes de adquirir algo nessas lojas. "Quanto maior o valor agregado do produto, mais vantajoso é", ensina.
Ele salienta ainda que o consumidor precisa avaliar se o produto vale o gasto com combustível, o tempo e o deslocamento. "Caso a família utilize muitas fraldas, por exemplo, vale à pena comprar em grandes quantidades, porque sai mais barato. Mas se o ganho for pequeno - R$ 1, digamos -, a compra só é vantajosa para quem mora no entorno e pode chegar com facilidade ao local", destaca Farinhas.
A chocolateria Barion tem uma loja de fábrica em Colombo, na Grande Curitiba, com foco no atendimento da demanda na região. A loja foi aberta como experiência na Páscoa de 2009, fez sucesso, e agora segue aberta o ano inteiro. Segundo a empresa, o produto acaba saindo mais barato na loja porque não há despesa comercial, como frete e promotor de loja, por exemplo.
O Shopping do Escritório é um centro de distribuição de uma fábrica de Minas Gerais em Curitiba, que vende móveis para escritórios, como cadeira, mesas e armários. Para a sócia-gerente da loja, Lilian Martins Tavares, esse tipo de contato é vantajoso tanto para o estabelecimento quanto para os consumidores. "Como o lucro da fábrica está embutido no preço e aqui a margem de lucro é praticamente zero, conseguimos oferecer preços mais baixos. Outros estabelecimentos vendem os mesmos produtos e cobram até o dobro. Ganham os clientes e ganhamos nós, com o giro", avalia.
Outro exemplo de loja de fábrica em que os empresários consideram vantajoso a venda direta ao consumidor fica em Palmeira, nos Campos Gerais. A fábrica de biscoitos Jonker vende seus produtos direto ao consumidor desde que abriu as portas, há 17 anos. O consumidor que compra diretamente na Jonker paga R$ 4,00 pelo pacote, em média 30% a menos que em padarias e supermercados, onde o preço do mesmo pacote varia de R$ 5,50 a R$ 5,80.
"Isso não afeta os revendedores, até porque quem compra aqui quer, especificamente, o biscoito que nós fazemos, ao contrário do consumidor que vai a um supermercado. Nunca houve problemas com a venda direta ao consumidor final", avalia Waleska Jonker, uma das responsáveis pela fábrica. Entretanto, não são todos os empresários que pensam como Waleska.
Empresas querem evitar a concorrência com canais de distribuição
Apesar de existirem e serem de conhecimento dos consumidores, as indústrias que trabalham com lojas direto da fábrica preferem funcionar sem alarde. A Gazeta do Povo entrou em contato com diversas fábricas na Grande Curitiba e não conseguiu falar sobre o assunto, sob a alegação de que a divulgação dos produtos poderia prejudicar o relacionamento da indústria com o varejo.
Na verdade, as fábricas não querem ser vistas como concorrentes de supermercados e shoppings, já que conseguem preços mais baratos porque pulam várias etapas até chegaram ao consumidor. De acordo com o economista da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) Roberto Zurcher, a venda direta ao consumidor sai mais em conta porque a cadeia de distribuição é quebrada. Entretanto, segundo ele, o preço só se torna atraente para o comprador final quando ele mora próximo do local ou quando ele está à procura de um produto muito exclusivo.
"A circulação normal de um produto passa pela indústria, o atacadista e o varejista, até chegar ao consumidor. Em cada uma dessas etapas há a margem de lucro, os impostos e os custos embutidos. A venda direta pula esses elos e chega direto da indústria ao consumidor", explica Zurcher.
O consultor de educação financeira Altemir Farinhas ressalta ainda que as fábricas podem deixar de se tornar fornecedoras caso sejam vistas como concorrentes. "O fabricante não vai derrubar o supermercado e não pode vender muito abaixo. Nenhuma rede vai querer fazer concorrência a essa fábrica e pode deixar de querer seus produtos", analisa.
Outra razão, segundo Zurcher, é que cada um dos elos da cadeia da distribuição tem a sua função na economia. "Por que a maioria das indústrias não faz a venda direta? Porque a especialização delas é produzir e não vender. Já pensou se todas as indústrias resolvessem vender direto ao consumidor, quantas pessoas ficariam desempregadas e qual seria o trabalho para se encontrar os produtos?", questiona o economista da Fiep.
Colaborou Rayani Mariano, especial para a Gazeta do Povo.
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