Madeira ganha destaque como alternativa sustentável em sistemas construtivos
Saiba o que é madeira engenheirada e quais são seus usos
10/03/2023
Edificações em madeira são apontadas como o futuro sustentável da indústria da construção civil no planeta. Uma tendência que vem se consolidando na Europa e América do Norte e que começa a ganhar relevância no Brasil. Para aprofundar as discussões sobre o tema no país, com foco principalmente no potencial do Estado para explorar esse mercado, a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) realiza em março, em Curitiba, a exposição Woodlife Sweden.
Promovida em parceria com a Embaixada da Suécia e o Swedish Institute, ela apresenta 40 projetos realizados no país europeu com a utilização de madeira engenheirada na estrutura e composição das edificações. A exposição foi aberta no dia 6 de março, com um workshop que reuniu especialistas e empresários brasileiros e suecos. Um dos principais objetivos do evento é aprofundar o conhecimento de importantes setores da indústria paranaense, como o florestal, madeireiro e da construção civil, em relação aos processos construtivos em madeira.
Leia também:
Ampliar uso de madeira é desafio para indústria da construção
brasileira
Mas o que é madeira engenheirada?
“A madeira engenheirada é todo tipo de madeira que passa
por um processo industrial, para remoção de defeitos, produção de peças maiores, com homogeneidade
e garantia das propriedades mecânicas”, explica o pesquisador do Instituto Senai de Inovação (ISI)
em Engenharia de Estruturas, Ricardo Ritter de Souza Barnasky, que é mestre em engenharia florestal e doutorando em
Ciência e Engenharia de Materiais. Ele acrescenta que, na linha de produção, essa madeira pode passar
por processos de usinagem, uso de adesivos estruturais especiais, pressão e temperatura, para atingir as propriedades
desejadas.
Patrick Reydams, diretor de Operação da Urbem – indústria que inaugurou recentemente uma fábrica para produção de madeira engenheirada na Região Metropolitana de Curitiba –, acrescenta que esses processos permitem que uma madeira serrada, proveniente de reflorestamento, seja convertida em elementos estruturais. “Significa que você tem a engenharia adicionada a essa madeira, principalmente uma engenharia de colagem e de classificação mecânica, e você consegue transformar em elementos estruturais previsíveis, que podem ser usados em uma estrutura de construção civil”, diz. “A madeira, com essa nova composição de madeira engenheirada, entra no mercado como um material construtivo competindo com o concreto e o aço, que são materiais que você consegue ter previsibilidade de cálculo”, acrescenta o diretor, que será um dos palestrantes do workshop.
Potencial de utilização
Ricardo Barnasky, do ISI, afirma que o uso de madeira engenheirada já
é realidade nos mercados norte-americano e europeu. “Além de proporcionar uma beleza estética e
arquitetônica única, a madeira engenheirada possui ótima resistência, podendo ser empregada desde
construções mais simples, como decks e pergolados, até seu uso em residências e prédios”,
afirma.
O pesquisador explica que o sistema construtivo é facilitado com o uso de painéis pré-moldados ou autoportantes, como os wood frames, e elementos estruturais completos, como vigas e pilares pré-fabricados. “No Brasil, a madeira engenheirada tem uma oportunidade de mercado e negócio crescente, com destaque para nossa grande produção florestal e avanços na engenharia civil, que cada vez mais utiliza a madeira como elemento em destaque nas construções”, diz.
Vantagens
Uma das vantagens das construções em madeira engenheirada é que elas têm,
em média, 1/5 do peso de uma construção similar em concreto. A madeira também traz mais flexibilidade
do que o concreto e o aço na elaboração dos projetos, dando mais liberdade de arquitetura e de formas
às construções. “Você consegue usar a madeira em locais onde vai ter uma função
não só estrutural, mas também uma função estética, além de possibilitar vãos
um pouco maiores”, explica Patrick Reydams.
Outra vantagem dos processos construtivos em madeira é a agilidade na execução das obras. Por ser um sistema pré-fabricado, todas as peças são produzidas nas fábricas, reduzindo o tempo para se levantar uma edificação. “Quando a gente envia para a obra, as peças vão prontas, chegam já na sequência correta de montagem, que é feita basicamente como se fosse um grande Lego”, afirma o diretor da Urbem. “Então, a montagem é muito rápida, você tem uma velocidade de entrega da parte estrutural do empreendimento em menos da metade do tempo de qualquer outra construção in loco, que não seja pré-fabricada”, acrescenta. Ele destaca, ainda, que as construções em madeira possuem melhores propriedades acústicas e de isolamento e manutenção térmica em relação a edificações em alvenaria.
E outro grande benefício é a contribuição para a sustentabilidade ambiental. Pelo fato de serem utilizadas madeiras provenientes de florestas plantadas – especialmente de pinus, cultura da qual o Paraná é um dos líderes nacionais – há um processo de captura de carbono ao longo da cadeia produtiva. “Já existem balanços de obras prontas que mostram que, no final, uma obra em concreto tem balanço negativo de emissões de carbono, enquanto em uma de madeira há um balanço positivo. Além de não estar emitindo carbono, você está armazenando carbono”, completa Reydams.
Derrubando mitos
Um dos desafios para a disseminação de construção em madeira no
Brasil ainda é a questão cultural. Muitas vezes, esse tipo de edificação é associada a
construções de qualidade inferior, além de haver certo receio quanto à resistência da madeira
em relação a incêndios, umidade e ataque de cupins. No entanto, a engenharia aplicada a esse tipo de estrutura
atualmente garante a segurança e durabilidade do produto.
“A madeira apresenta uma ótima resistência ao fogo”, afirma Ricardo Barnasky. “Se compararmos vigas de mesmo tamanho em madeira, metal e concreto em situações de incêndio, a madeira pode manter suas propriedades por muito mais tempo, porque a própria camada de carvão formada age como um isolante, protegendo a integridade da madeira”, explica o pesquisador do ISI em Engenharia de Estruturas.
“Já foi muito mais difícil falar sobre isso”, garante Patrick Reydams. “As perguntas eram sempre três: vai pegar fogo, o cupim vai comer e, se pegar água, vai apodrecer?”, completa. Segundo ele, todas essas questões já estão melhor esclarecidas devido aos tratamentos químicos aplicados à madeira engenheirada e às propriedades inerentes ao produto. “Já temos a norma brasileira de incêndio revisada, com novos conceitos e entendimentos. Isso passa a ser um sistema construtivo padrão como os outros, o que facilita a aprovação dos projetos e já demonstra um pouco mais de confiança para os clientes e as construtoras”, conclui.
Sobre o Woodlife Sweden
O Campus da Indústria do Sistema Fiep, em Curitiba, recebe, entre os dias 6
e 24 de março, a exposição Woodlife Sweden. A iniciativa apresenta 40 projetos que representam um paradigma
iminente na indústria da construção civil, a partir da utilização de madeira engenheirada
na estrutura e composição das edificações.
A Woodlife Sweden, exposição que já percorreu outros países, mostra projetos de várias escalas, e de toda a Suécia, que fazem uso da madeira engenheirada. Neles, a madeira encontra o seu lugar em habitações, edifícios comerciais e espaços públicos: um material universalmente relevante, que ajuda a desenvolver uma economia circular verde.
Realização e apoio institucional
A Woodlife Sweden foi concebida em 2020 pelo Swedish Institute
e pelo Architects Sweden, em colaboração com a Swedish Wood, o Swedish Wood Award e a Federação
Sueca das Indústrias Florestais. Na edição de Curitiba, a exposição é promovida
pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Embaixada da Suécia em Brasília
e Swedish Institute.
O evento conta, ainda, com apoio institucional da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), Sistema Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR), Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU/PR), Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento Paraná (IAB-PR), Fundação Araucária, Embrapa Florestas, Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre), Paraná Metrologia e Senai, por meio do Instituto Senai de Inovação em Engenharia de Estruturas e do Instituto Senai de Tecnologia em Madeira e Mobiliário.