Madeira

Empresas e pesquisadores discutem problemas e soluções para plantios florestais

Reunião técnica articulada pela Embrapa Florestas e Fiep aponta problemas relacionados a pragas florestais e define grupos de trabalho para direcionar ações

21/09/2022

Várias empresas do setor florestal, pesquisadores da Embrapa Florestas, professores da área zoologia, bem como outros profissionais envolvidos com o tema florestal, realizaram uma reunião técnica, no dia 24/08, para mais uma etapa da I Conferência “Zoologia na Indústria, novas tecnologias e perspectivas no auxílio à cadeia produtiva”. O evento fez parte do XXXIV Congresso Brasileiro de Zoologia e aconteceu no Sistema Fiep – Federação das Indústrias do Paraná, em Curitiba, e foi realizado logo após a palestra da pesquisadora da Embrapa Florestas Susete Chiarello Penteado. A pesquisadora abordou as experiências de sucesso na Embrapa Florestas sobre o controle biológico de pragas em plantios florestais. A reunião técnica buscou expor os problemas, desafios, oportunidades e potenciais soluções encontrados atualmente nos plantios florestais.

Em sua palestra, Susete Penteado falou sobre as principais pragas dos plantios florestais, como vespas, brocas e pulgões, e destacou os bem-sucedidos programas de controle biológico da Embrapa e parceiros, como o do percevejo bronzeado (e seu inimigo natural, o parasitoide Cleruchoides noackae) e a broca-da-erva-mate (e o produto Bovemax, que promove a mortalidade de 70% desta praga no campo). A pesquisadora também falou sobre o pulgão-gigante-do pínus (e seu inimigo natural Xenostigmus bifasciatus) e a vespa-da-madeira e seu inimigo natural conhecido como Nematec, que é produzido de forma massal em laboratório pela Embrapa Florestas, graças à parceria com o Funcema-Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais.

A pesquisadora destaca as oportunidades de pesquisa diante das mudanças climáticas e também problemas relacionados à produção de mudas, com a má formação das raízes em pínus. “Temos observado alguns relatos de empresas que nos procuram para solucionar problemas relacionados à seca de ponteiros no pinus, que muitas vezes está relacionado à má formação das raízes, que influenciam na absorção de nutrientes e água. E com as mudanças climáticas estamos tendo épocas de seca mais prolongada, que tem causado impacto no pínus”, aponta.

Reunião técnica
A reunião técnica que sucedeu à palestra utilizou uma metodologia interativa, na qual todos os participantes, empresários, pesquisadores e outros profissionais do setor florestal puderam relatar ao mesmo tempo, com o uso de uma ferramenta colaborativa, os principais problemas relacionados às pragas e ao seu monitoramento e controle, e as propostas de ações para resolução das demandas levantadas. Susete Penteado diz estar otimista com o encontro organizado pela Fiep, diante das possibilidades de projetos de pesquisa ali levantadas, junto com as empresas, as universidades e órgãos governamentais.

Para o diretor da Águia Florestal, Álvaro Scheffer, a reunião entre vários setores é fundamental para a resolução de problemas comuns. “Precisamos realmente criar uma sinergia muito grande entre pesquisa florestal, na qual a Embrapa Florestas é o nosso carro-chefe, a indústria e as universidades, para tratar do tema que, no estado do Paraná, é extremamente importante, pois a maior parte dos investimentos na parte industrial do estado foi no setor de base Florestal”. Outro participante da reunião foi José Mario Ferreira, representante da RMS, empresa de investimentos em florestas e artigos florestais, que elogiou os trabalhos. “É extremamente importante trazer a iniciativa privada junto com as instituições de pesquisa para conhecer as demandas comuns e conseguir atacá-las não só cada um por si, mas com formas de cooperação e de colaboração, com vários interessados em combater o problema e diminuir os custos de investimentos”, diz. “Espero que surjam ideias e talvez tecnologias, e que possamos ajudar no seu desenvolvimento, e posteriormente distribuí-las para o setor florestal e para o produtor”, afirma Rodrigo Daniel Ribeiro, diretor Industrial da Novozymes, empresa parceira da Embrapa na produção do Bovemax, que combate a Broca-da erva-mate.

Principais demandas
Entre os diversos problemas apontados, receberam maior indicação os ataques do macaco-prego aos plantios florestais, seguido das formigas cortadeiras e desenvolvimento de ferramentas para previsibilidade de ataque de pragas e monitoramento. Por ano, o setor deixa de ganhar R$1 bilhão devido aos estragos causados por este mamífero, que danifica o caule de pínus em busca de seiva. “Esperamos ter um tipo de controle para os macacos, visando reduzir a perda econômica causada nos plantios, estimada em 10% na produção, em volume de madeira de pínus no país”, afirma o diretor da Berneck e vice-Presidente da Apre (Associação das Empresas de Base Florestal do Paraná), Afonso Mehl.

Além do foco no combate às pragas, foram apontadas outras necessidades, ligadas à melhoria das ferramentas para monitoramento dos plantios, como sistema de comunicação de pragas e sistema de alerta. Também foi citado o problema da clorose em plantios de pínus e a necessidade de medidas fitossanitárias para controle de pragas, um problema que tende a se acentuar com as mudanças climáticas. “Precisamos unir esforços voltados a medidas fitossanitárias, devido às mudanças do clima, para garantir a produção de madeira, matéria-prima para produção de celulose, papel, chapas e diversos outros produtos. Imagine se tivermos um problema fitossanitário, como ocorreu com a entrada do besouro chinês no Canadá, Estados Unidos e recentemente na Alemanha e Áustria, nós não temos uma forma de controlar e combater e estaremos destruindo todo esse potencial econômico do Paraná”, afirma Álvaro Scheffer, da Águia Florestal.

Propostas
Os participantes propuseram várias ações aos problemas, como o mapeamento com imagens de drone para controle dos macacos; desenvolvimento de iscas naturais associadas a fungos para o controle de formigas e utilização da inteligência artificial no desenvolvimento de ferramentas para monitoramento e controle de pragas florestais. Para a continuidade das discussões, serão montados grupos e trabalho, divididos de acordo com o interesse e afinidades de temas. A Fiep e a Sociedade Brasileira de Zoologia serão responsáveis pela governança dos grupos de trabalho.