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Tratores autônomos, que funcionam sem operador no veículo, não são uma realidade tão distante no campo. A possibilidade, que parece futurista, já existe em forma de protótipo e tem boas chances de ser vista em ação nas lavouras brasileiras nos próximos anos, se tornando um marco no avanço da chamada agricultura 4.0.
O conceito, caracterizado pela conectividade entre as máquinas, promete ser a próxima revolução
no mundo do agronegócio, após os progressos em biotecnologia e nas técnicas de precisão. Perseguindo
maior eficiência e produtividade, a agricultura mundial embarca na onda da internet das coisas e acelera para ser cada
vez mais digital, interligada e usuária do big data. De casa, ou da sede da fazenda, produtores conseguem acompanhar
remotamente, pelo computador, tablet ou smartphone, o desempenho de suas máquinas nas lavouras por telemetria, a transmissão
automática de dados via sinal de telefonia celular. De olho no potencial que a agricultura tem na adoção
de tecnologia digital, as grandes fabricantes de máquinas agrícolas promovem uma verdadeira corrida pelo desenvolvimento
de melhores produtos e serviços.
— Com a telemetria, é possível avaliar a performance, a velocidade
das máquinas, se as marchas estão corretas, o que permite orientar o operador para um desempenho mais eficiente.
Velocidade correta significa redução do uso de combustível. Os sistemas também podem emitir sinais
de desgaste da máquina, evitando que ela entre em colapso — explica Daniel Zacher, diretor da seção
de Porto Alegre da SAE Brasil, entidade internacional que congrega engenheiros e executivos da área e que durante a
Expointer realizou um simpósio sobre o tema na Capital.
Nas máquinas agrícolas, a era anterior foi da agregação de eletrônica embarcada e do uso do piloto automático. Agora, abre-se a possibilidade de tomada de decisões à distância pelo monitoramento do desempenho da frota, permitindo maior qualidade em etapas como plantio, pulverização, irrigação e colheita por meio do acompanhamento instantâneo de toda a complexidade da operação. Há ainda a possibilidade de gerar e analisar uma infinidade de dados que também são emitidos pelas máquinas interconectadas e, analisados, se transformam em eficiência ainda maior nas safras seguintes. Pela frente, há possibilidade de o maquinário trabalhar 24 horas por dia.
A pesquisadora Silvia Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, avalia que a nova era cibernética, após transformar a realidade e o modo de trabalho em setores como financeiro e indústria, avança no campo, seja em softwares embarcados, emissão de dados sobre clima, sistemas de alerta para doenças e aplicativos para dispositivos móveis.
— Cada vez mais percebemos ascensão do mundo digital na agricultura. As tecnologias disruptivas surgem para facilitar e melhorar a eficiência dos processos, em busca de ganhos de produtividade — considera Silvia.
Para Zacher, até o início da próxima década, principalmente nas grandes áreas planas do Centro Oeste do país, será possível testemunhar tratores comandados de forma remota. Depois, chegará a época de pulverizadores e colheitadeiras trabalharem sem operador na cabine. Será uma solução, por exemplo, para problemas como falta de mão de obra nestas regiões, e ainda vai criar demanda para empregos mais qualificados.
Outro desafio no futuro, avalia o especialista, é fazer com que a vanguarda digital também chegue à agricultura familiar, elevando assim a produtividade média da agropecuária nacional. Afinal, a inovação, cada vez mais, é um insumo indispensável no campo.
Trator autônomo em teste
Prova de que máquinas agrícolas não tripuladas não são uma promessa distante, a fabricante
Case IH apresentou dia 30 de agosto, nos Estados Unidos, o protótipo de seu trator autônomo, que poderá
ser usado em breve para tarefas como preparo do solo e plantio. Mesmo em fase de testes, a novidade deve chegar ao mercado,
inclusive ao Brasil, em menos de cinco anos, garante Mirco Romagnoli, vice-presidente da América Latina da Case IH.
Pré-programado para operar em áreas mapeadas, o trator sem cabine pode ser remotamente supervisionado pelo
operador. É possível ainda perceber obstáculos estáticos ou em movimento, parando o veículo
até o operador, notificado por alertas visuais e sonoros, especificar novo trajeto. Se o sinal do GPS for perdido,
por exemplo, o veículo para de forma imediata. Até os dados meteorológicos são processados para
definir as entradas no terreno a ser trabalhado. Entre as vantagens estão maior controle da operação,
monitoramento e redução de custos.
— O trator vai chegar no Brasil ao mesmo tempo que nos Estados
Unidos. Mas ainda falta testar de forma exaustiva todas as condições — diz Romagnoli.Embora o veículo
se adapte melhor a terrenos planos e seja adequado a grandes extensões, Romagnoli avalia que as máquinas poderão
trabalhar em propriedades médias ou de topografia mais dobrada, como no Sul do país.
— O importante é que o trator trabalha em uma área toda mapeada. As ondulações também serão mapeadas — observa Romagnoli.
O próximo desafio é desenvolver pulverizadores e colheitadeiras autônomos. Mas ainda há o obstáculo
da falta de sinal de internet nas regiões mais remotas.
Projeto-piloto no Estado
Em Não-Me-Toque, município que carrega o título de capital da agricultura de precisão, a Massey
Ferguson, da fabricante americana AGCO, faz com agricultores um projeto-piloto em curso em outros Estados e países
da sua estratégia global de conectividade, batizada de Fuse Connected Services. A ideia é baseada no monitoramento
remoto das máquinas, e permite intervenção rápida da assistência técnica pelo acompanhamento
em tempo real de fatores como a velocidade da máquina, o que influi no consumo de combustível. Por telemetria,
é possível ajustar a operação e programar a manutenção antes de alguma falha detectada
causar pane no equipamento.
— As máquinas podem "comunicar a sua saúde", com as informações
sendo transmitidas para a AGCO ou suas concessionárias — explicou Matt Rushing, vice-presidente global de marketing
para conectividade da AGCO.
Os primeiros resultados indicam redução de custo e aumento de produtividade, diz o gerente de marketing de produto da área de agricultura de precisão da AGCO América do Sul, Rafael Costa. Com análise da velocidade e marcha, foi possível economizar 5% o consumo de combustível no plantio, pulverização e colheita. Com ajustes na máquina, a perda na colheita também foi reduzida em 1%. Outra vantagem é a coleta e análise, utilizada para melhorar a eficiência nas safras seguintes.
— Com os dados georreferenciados da colheita, é possível planejar a próxima safra, como em relação à adubação — observa Costa.
Com a marca Fendt, a AGCO também desenvolve veículos autônomos, algo como grupos de robôs inteligentes para a agricultura.
Rede de parceiros para focar na especialidade
A americana John Deere prepara a chegada ao Brasil da versão de um portal que já existe nos Estados Unidos
em que o produtor poderá terceirizar as funções em que não é especialista. Se o seu forte
é o comercial, por exemplo, terá no portal uma rede de fornecedores de outros produtos e serviços, como
insumos, assessoria agronômica ou financeira, com quem poderá compartilhar dados e, de certa forma, delegar decisões
aos parceiros.
— Queremos ser o catalizador dessa informação que estará na nuvem, no big data,
para que ela circule de forma mais rápida e o cliente foque naquilo que é o seu negócio — diz Maurício
Menezes, especialista em agricultura de precisão da John Deere.
Em outra frente, a aposta da empresa é no sistema de gerenciamento de informações JDLink, solução de telemática que permite, com a conexão com a internet, acessar no laptot, tablet ou smartphones, informações em tempo real das condições da máquina na lavoura.
A fabricante americana promete começar em janeiro do próximo ano a comercialização no Brasil. A tecnologia permite, por exemplo, verificar a velocidade da máquina, o consumo de combustível, a rotação do motor, o nível do tanque, além de diagnóstico remoto de anomalias. O sistema promete vantagens como alerta de erros e problemas, acompanhamento do plano de manutenção preventiva e economia de combustível e insumos graças ao uso correto dos serviços da máquina.
Mas antes há um gargalo a ser solucionado devido à infraestrutura de telecomunicações precária no país. A empresa também analisa as melhores formas de solucionar os problemas de conectividade pela internet no campo, seja por rádio ou satélite, principalmente nos pontos mais ermos do país.
Fonte: Zero Hora
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