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Publicado em 29/04/2019
Elaeis oleifera (Kunth), Cortes - , planta nativa das Américas do Sul e Central, é a aposta de cientistas brasileiros para aprimorar a qualidade e a durabilidade do óleo de dendê (Elaeis guineensis, Jacq.), palmácea originária da África e principal fonte mundial de óleo vegetal.
As duas espécies possuem o mesmo gênero e são capazes de cruzar entre si, produzindo descendentes férteis.
O objetivo dos pesquisadores é desenvolver, por meio de melhoramento genético, materiais híbridos capazes de apresentar as melhores características de cada uma das espécies: o alto rendimento de polpa do dendê e a ótima qualidade do óleo obtido do caiaué.
Principal produto da cultura, o óleo serve como matéria prima para diversos setores industriais, como os de alimentos, cosméticos, química e biocombustíveis.
O caiaué é uma planta nativa das Américas do Sul e Central, sendo que no Brasil é encontrado na Floresta Amazônica. O dendê, por sua vez, é originário do oeste da África e é predominante em plantações comerciais.
Em 2010, a Embrapa Amazônia Ocidental produziu o híbrido BRS Manicoré utilizando materiais de dendê e caiaué do seu BAG, situado no Campo Experimental do Rio Urubu, no município de Rio Preto da Eva (AM).
Esse mesmo banco forneceu os acessos caracterizados na pesquisa atual. Esse BAG foi formado na década de 1980 por meio de um trabalho conjunto entre a Embrapa e o francês Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento (Cirad). https://www.cirad.fr/
Uma parceria entre a Embrapa Agroenergia (DF) e a Embrapa Amazônia Ocidental (AM) já selecionou cinco acessos do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de caiaué, que a Empresa mantém no Amazonas, e fez a caracterização química desses materiais, o primeiro passo para o trabalho de melhoramento genético.
"A hibridação interespecífica entre o caiaué e o dendezeiro tem como objetivo desenvolver cultivares tão produtivas quanto as de dendezeiro tipo tenera e com características do caiaué, como resistência a pragas e doenças, principalmente o distúrbio denominado amarelecimento-fatal (AF); elevada taxa de ácidos graxos insaturados; e menor crescimento vertical do estipe", explica Raimundo Cunha, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental.
Com esse objetivo, a pesquisa avaliou os materiais buscando as características de baixa acidez, maior quantidade de óleo, maior quantidade de caroteno e outras vantagens.
Ao fim, obteve melhores informações sobre esses acessos, o que permitirá realizar seleção mais criteriosa do parental ideal a ser cruzado com o dendê e desenvolver os híbridos entre as duas espécies.
"É um trabalho conjunto, para que a gente possa conhecer melhor a diversidade que temos no banco e explorar isso no programa de melhoramento tanto da Embrapa como de outras instituições", informa Manoel Teixeira Souza Júnior, pesquisador da Embrapa Agroenergia.
O cientista conta que o dendê possui ótimo rendimento na produção de óleo, porém é muito perecível. Para que a colheita não estrague, é necessário que os cachos passem por tratamento em autoclave, processo que inativa as enzimas que deterioram o óleo.
"Isso dificulta o trabalho do pequeno produtor, que é obrigado a levar sua produção a uma autoclave dentro de 48 horas, para que não perca o produto", esclarece Souza Júnior.
É a alta acidez no óleo que obriga o produtor a inativar as enzimas nos cachos nesse curto período, caso contrário, o óleo cria ranço e fica inadequado para a indústria alimentícia.
Empresas grandes têm fornos para autoclavar, ao contrário do agricultor familiar, que não conta com essa estrutura.
"Por isso, é importante desenvolver variedades que o pequeno produtor tenha a possibilidade de colher os cachos, mantê-los na sua propriedade e ter tempo para comercializar, sem perder a qualidade devido à acidez", explica Manoel Souza.
Já o caiaué produz um óleo cuja taxa de deterioração é muito mais lenta do que a do de dendê, permitindo que o produtor armazene os cachos por mais de uma semana sem risco de perda de qualidade. No entanto, ele produz menos óleo que o parente africano.
Por isso, os cientistas almejam a planta híbrida que traga o melhor das duas espécies com alto rendimento de polpa, baixa acidez e vida mais longa após a colheita.
O óleo extraído do mesocarpo (polpa) de frutos de dendê é atualmente a principal fonte de óleo comestível no mundo, com 60 milhões de toneladas produzidas em 2016-2017.
No total, o óleo de dendê e o óleo de palmiste representaram 67 milhões de toneladas do óleo vegetal consumido em todo o mundo em 2016-2017.
Esse montante representa pouco mais de 30% do total global na produção de óleos e gorduras. Espera-se que o mercado de óleo de palma atinja pelo menos 93 milhões de toneladas para atender a demanda por óleo prevista até 2050.
A palma de óleo americana, como também é conhecido o caiaué, apresenta resistência ao pior mal que assola a cultura do dendê, o amarelecimento-fatal.
"Os híbridos gerados com as duas espécies têm apresentado essa resistência também", informa Manoel Souza, frisando que o óleo extraído dos híbridos interespecíficos tem apresentado baixa acidez (ácidos graxos livres ? AGL) e maiores teores de ácidos graxos insaturados, características que indicam melhor qualidade.
A arquitetura da planta é outra vantagem destacada pelo cientista da Embrapa. De crescimento mais lento e baixa estatura, o caiaué permite uma logística de colheita mais fácil em comparação ao primo africano que, por sua vez, tem estatura mais alta, o que exige maquinário específico para o manejo.
A composição do perfil de ácidos graxos pode determinar o destino final do óleo na indústria. O óleo de palma pode ser fracionado em dois componentes após o refino: oleína (60%) e estearina (40%).
A oleína é um óleo líquido, composto principalmente de ácidos graxos, que possui propriedades emolientes e lubrificantes.
Após o processamento para a purificação de ácidos graxos, principalmente por destilação, tem aplicação nas indústrias de tintas e diluentes, alimentícias, cosméticas e oleoquímicas em geral.
A estearina, devido ao seu maior grau de saturação, pode ser usada como gordura em bolos e biscoitos. Também serve como matéria-prima para a fabricação de margarinas, maionese e sorvetes. Além disso, pode substituir o sebo na produção de sabonetes.
Os resultados da pesquisa para o óleo de polpa de caiaué, em todos os acessos, mostraram um maior teor de ácidos graxos insaturados, mais de 80%, conferindo estado líquido em temperatura ambiente, o que poderia ser mais interessante para o primeiro grupo de indústrias citado.
A pesquisa caracterizou, nos cinco acessos de caiaué (Careiro, Anori, Manicoré, Coari e Autazes), a composição de ácidos graxos, carotenoides totais, teor de óleo e conteúdo de ácidos graxos livres.
Os que apresentaram as melhores características em termos de alto rendimento foram os acessos Coari e Careiro, e os de mais baixa acidez foram Manicoré e Coari. Os materiais recebem a mesma denominação dos municípios amazonenses onde foram encontrados.
Nesse estudo, os acessos foram submetidos a diferentes tempos de armazenamento em condição ambiente (1, 7 e 14 dias) antes do processamento, para avaliar a qualidade do óleo produzido. O conteúdo de óleo da polpa seca variou entre 31,36% e 50,34%.
A análise cromatográfica gasosa revelou que o ácido oleico é o ácido graxo monoinsaturado predominante em todos os cinco acessos.
Após 14 dias de armazenamento dos frutos, a qualidade do óleo permaneceu sem grandes alterações para todos os acessos, apresentando níveis satisfatórios do conteúdo de ácidos graxos livres, situados entre 1,33% e 2,66%. O conteúdo total de carotenoides apresentou altas concentrações nos cinco acessos.
Esses resultados, como esperado, indicam que o caiaué contém menor teor de óleo de polpa do que as espécies africanas.
Apesar disso, a palma americana possui menores valores de acidez, importante parâmetro na qualidade.
Os resultados desse trabalho foram relatados no artigo científico Chemical Characterization of the American Oil Palm the Brazilian Amazon Forest, publicado em 2018, na revista norte-americana Crop Science.
O artigo é assinado por Manoel Teixeira Souza Júnior, Raimundo Nonato Vieira Cunha, Maria Daniela España, Simone Mendonça, Paula Andréa Osorio Carmona e Marina Borges Guimarães.
O melhoramento genético do dendezeiro busca aumento de produtividade, redução do tamanho da planta e resistência ao amarelecimento-fatal (AF), anomalia letal e de causa ainda desconhecida.
Pesquisas de melhoramento genético do dendezeiro são conduzidas pela Embrapa Amazônia Ocidental, no Campo Experimental do Rio Urubu, onde estão instalados 412 hectares de plantios experimentais, entre ensaios de melhoramento genético, manejo de solos, nutrição de plantas e coleção de germoplasma de dendê e caiaué.
Atualmente está sendo feito o sequenciamento do genoma de caiaué. Há também um trabalho de geração de marcadores moleculares em grande quantidade e sua aplicação para melhor conhecer a diversidade genética e a estrutura das populações do BAG de caiaué.
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