Proteína da soja pode inibir a multiplicação do vírus HIV
Publicado em 01/03/2018
Sementes de soja geneticamente modificadas podem contribuir para evitar o contágio da Aids. Pesquisa realizada pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, sigla
em inglês), a Universidade de Londres e o Conselho de Pesquisa Científica e Industrial da África do Sul (CSIR ? sigla em inglês),
mostra que a cianovirina, presente nas algas, ao juntar-se às sementes de soja geneticamente modificadas, é capaz de impedir
a multiplicação do vírus HIV no corpo humano. A descoberta permitirá o desenvolvimento de um gel para ser utilizado antes
da relação sexual.
A pesquisa representa um avanço enorme para o enfrentamento da Aids, principalmente nos países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento, que apresentam altos índices de infecção pelo vírus HIV, como várias localidades da
África. A essas nações será assegurada a licença de produção e de uso interno, sem a necessidade de pagamento de royalties.
A concessão da comunidade científica visa dar uma resposta eficaz e eficiente a um problema gravíssimo que ultrapassa as fronteiras
do caráter meramente social, econômico e humanitário. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que a cada cinco
óbitos na África Subsaariana, um é causado pela Aids.
Cooperação técnica
O trabalho recebeu o prêmio nacional na área de saúde e serviços humanos do Consórcio Federal
de Laboratórios (FLC, sigla em inglês) em 2018. A entidade reúne cerca de 300 laboratórios de renomadas instituições de pesquisa
e ensino norte-americanas, como o Departamento de Agricultura (USDA) e as Universidades de Cornell, Carolina do Norte e Maryland,
entre outras. A investigação já tinha sido reconhecida, em 2017, como um trabalho de excelência na transferência de tecnologia
na área, em nível regional.
As pesquisas sobre o tema são antigas. Em 2000, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados
Unidos descobriu a cianovirina, uma proteína extraída das algas azul-verde que inibe a replicação do HIV. A entidade montou
um laboratório para a prospecção da alga no oceano Atlântico e patenteou a tecnologia. Testes foram realizados com diversas
biofábricas, unidades de produtos geneticamente aperfeiçoados, como a levedura, plantas de tabaco e bactérias, mas somente
a semente de soja transgênica se mostrou eficaz, permitindo que a proteína seja largamente escalonada até a quantidade adequada.
Foi a cooperação técnica entre a Embrapa e as entidades dos Estados Unidos, Inglaterra e África do Sul que proporcionaram
o avanço das pesquisas na área de biotecnologia. A Embrapa, que tem a patente da engenharia genética da soja, teve participação
fundamental no estudo. ?Faltava descobrir uma forma eficiente e econômica para produzir a proteína em alta escala. Agora será
possível a produção desse tipo de semente de soja direcionada para o setor farmacêutico?, explica o engenheiro agrônomo Elíbio
Rech, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia que coordenou a participação brasileira na pesquisa.
As sementes geneticamente modificadas inoculadas com proteína cianovirina não podem ser utilizadas como alimento. Tampouco
serão plantadas no campo. Elas serão cultivadas em áreas controladas, como estufas, sob monitoramento de cientistas. ?As condições
de plantio serão definidas pela CNTBio?, alerta Rech. CNTBio é a sigla da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, um colegiado
multidisciplinar do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, que estabelece normas técnicas de segurança,
referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, para atividades que envolvam Organismos Geneticamente
Modificados (OGM) e derivados.
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