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Pesquisa aperfeiçoa o melão

Publicado em 01/03/2018

As características agronô­micas do híbrido de melão BRS Araguaia, do tipo ama­relo, têm surpreendido produtores que testaram o material. Os pontos positivos mais ressaltados na avalia­ção são produtividade e resistência. Na média, o rendimento gira em torno de 40 toneladas por hecta­re de frutos comerciais, em condi­ções ideais de cultivo, valor que se equipara às principais cultivares disponíveis no mercado. O híbri­do também resiste bem ao fungo oídio, uma das principais doenças que atingem a cultura e apresenta doçura maior e distribuída de for­ma homogênea em todo o fruto.

Desenvolvido em parceria com a Agência Goiana de Assistência Téc­nica, Extensão e Pesquisa (Emater­-Go), o melão BRS Araguaia foi li­cenciado no ano passado para a empresa Feltrin Sementes, após um Processo de Oferta Pública e, desde então, as sementes foram multipli­cadas para se obter volume e ini­ciar a comercialização da cultivar. ?O material apresentou destaque na qualidade de plantas, com folhas vigorosas e rústicas, e excelente to­lerância natural a doenças?, consta­tou Luís Eduardo Rodrigues, geren­te de P&D da empresa licenciada.

Resultado do programa de me­lhoramento genético de melão da Embrapa, a BRS Araguaia está sendo validada nas principais re­giões produtoras do País: o Vale do Açu, no estado do Rio Grande do Norte, e o Vale do São Francisco em especial, nos estados de Per­nambuco e Bahia.

?O mercado é muito dinâmico e competitivo, por isso foi funda­mental entregar um material com produtividade equivalente aos hí­bridos comerciais, mas que, além disso, tivesse uma vantagem adi­cional que é a resistência ao oídio?, reforça o pesquisador da Embra­pa Valter Rodrigues Oliveira, res­ponsável pelo melhoramento ge­nético da cultivar.

?A tolerância a oídio é um desta­que importante do melão BRS Ara­guaia, pois as plantas são extrema­mente fortes e rústicas?, descreve Luís Eduardo Rodrigues, gerente de P&D da Feltrin Sementes, em­presa licenciada para comerciali­zar as sementes do híbrido.

FRUTO MAIS DOCE E UNIFORME

Se, por um lado, produtividade e resistência atendem às deman­das do setor produtivo, por outro, o elevado teor de açúcares prome­te agradar o paladar dos consumi­dores. Diferentemente das outras cultivares comerciais, o melão BRS Araguaia possui uma doçura uni­forme em toda a extensão da pol­pa, ou seja, ele continua bem doce mesmo na parte da polpa que fica próxima à casca. ?Essa caracterís­tica demonstra o elevado potencial da qualidade do fruto. Além da fir­meza, ele é tolerante ao transporte e tem a polpa extremamente sabo­rosa?, comenta Rodrigues.

A doçura do fruto está relacio­nada ao elevado teor de sólidos solúveis, que são compostos res­ponsáveis pelo sabor, principal­mente açúcares. Esse valor é me­dido em grau Brix (ºBx). Cada grau Brix equivale a um grama de açú­car por 100 gramas de solução, ou seja, 1% de açúcar. ?Em compara­ção com outros materiais, o BRS Araguaia é mais doce: ele alcança 12º Bx, enquanto outras varieda­des ficam, em média, com 10,5º Bx?, quantifica Rodrigues, ao destacar a qualidade superior do híbrido.

O melão amarelo BRS Ara­guaia foi desenvolvido a partir da seleção de linhagens puras que apresentaram as principais ca­racterísticas buscadas pelos pes­quisadores como rusticidade, vigor, potencial produtivo, adap­tabilidade e tolerância a doenças. Em seguida, as linhagens selecio­nadas foram combinadas e gera­ram 300 híbridos experimentais que passaram por processos de validação, especialmente no Vale do São Francisco, com o apoio da Embrapa Semiárido (PE). Por fim, dez anos após o início do me­lhoramento genético, os pesqui­sadores elegeram o híbrido BRS Araguaia, que soma bom desem­penho agronômico a qualidades importantes para a pós-colheita.

No fim de julho, o produtor Joa­quim Tanaka plantou o melão BRS Araguaia em uma parcela experi­mental, em Porto Esperidião, mu­nicípio no sudoeste do Estado de Mato Grosso, e constatou que o híbrido apresenta um desempe­nho melhor que outras varieda­des comerciais. ?Ele teve melhor uniformidade de frutos. Houve in­cidência de fungo na lavoura, mas ele sofreu menos ataques que as outras variedades de melão?, con­ta. Quando chegou a colheita, nos meses de setembro e outubro, Ta­naka ficou surpreso com a produ­tividade: ?(O BRS Araguaia) pro­duziu dois frutos a mais por planta, com uma média de 1,6 kg cada fru­to,? relata o agricultor.

MAIS QUALIDADE

Quase a totalidade da produção brasileira de melão está concentra­da no Nordeste, devido às condi­ções ambientais mais favoráveis que permitem o cultivo durante o ano todo, apesar de haver maior dificul­dade nos plantios de verão. De um modo geral, essa regra vale para to­das as espécies de hortaliças.

Do ponto de vista da logísti­ca, a região também é favorecida pela proximidade com portos que escoam os frutos para países da União Europeia entre os meses de agosto a março ? período de en­tressafra das lavouras espanholas, que lideram o fornecimento para o bloco econômico. Segundo Olivei­ra, no mercado europeu, o melão brasileiro somente é competitivo até abril, quando então a safra da Espanha se inicia e inviabiliza as exportações brasileiras por causa das tarifas de importação.

Nos outros meses, a produção volta-se para o mercado interno, mas geralmente os produtores ini­ciam os plantios em maio já pen­sando no mercado de exportação, uma vez que o ciclo do melão gira em torno de 60 dias. Em virtude desse contexto, os frutos devem apresentar bom desempenho e re­sistência após a colheita, visto que vão enfrentar duas semanas em na­vios para cruzar o Atlântico e che­gar aos portos europeus.

?A cultivar BRS Araguaia apre­senta um padrão que atende às exigências do mercado: frutos com peso médio de 1,7 kg, vida útil de 30 dias e elevado teor de açú­cares e demais sólidos solúveis?, ressalta o agrônomo, ao pontuar que, durante a pesquisa, os fru­tos foram submetidos a situações drásticas de armazenamento, em câmaras frias de laboratório, e que as condições de mercado seriam mais favoráveis para obtenção de valores ainda melhores.

Segundo Rodrigues, que acom­panha os ensaios de validação do híbrido, o melão apresenta exce­lentes características após a co­lheita, como a boa formação de casca que resiste à mancha-cho­colate. Esse distúrbio está relacio­nado ao escurecimento do fruto, tornando-o impróprio para co­mercialização, e sua ocorrência é frequente nas condições de trans­porte de melão no Brasil.

Apesar de os frutos atenderem mais aos padrões do mercado nacional, Oliveira considera que o híbrido BRS Araguaia é um me­lão de dupla aptidão porque tam­bém pode ser direcionado para o mercado externo. Contudo, de­vido à ampla adaptação às con­dições da região Centro-Oeste (em especial, noroeste de Goiás) e do Nordeste (com foco no vale do São Francisco), a estratégia principal para o melão BRS Ara­guaia é entregar mais qualidade para os consumidores brasileiros que, em regra, consomem frutos de qualidade inferior aos expor­tados para a Europa.

Embora a produção nacional de melão esteja concentrada em grandes áreas e empresas, ainda há pequenos e médios produto­res de melão amarelo, principal­mente na região do Vale do São Francisco. Como não necessa­riamente o melão do tipo ama­relo precisa entrar na cadeia do frio logo após a colheita (ao con­trário dos melões nobres como Gália e Cantaloupe), o agricultor sem estrutura de beneficiamen­to e armazenagem consegue pro­duzir e escoar os melões.

NO HORIZONTE DA PESQUISA

Altas temperaturas, escassez hídrica e salinidade são fatores abióticos que compõem a equa­ção que as pesquisas com me­lhoramento genético de melão devem solucionar nos próximos anos. Por outro lado, entre os fa­tores bióticos, permanecem as buscas por resistência às princi­pais pragas e doenças como oídio, mosca-minadora e vírus-do-ama­relão. ?A qualidade pós-colheita também será essencial para ex­pandir a vida útil e permitir que os melões cheguem a novos mer­cados como a Ásia?, analisa o pes­quisador Valter Oliveira. O progra­ma de melhoramento genético da Embrapa já tem planos de, a curto prazo, lançar uma nova variedade de melão amarelo destinada à ex­portação e, assim, fazer a genética nacional ganhar o mundo.

Em validações da empresa na macrorregião de Petrolina (PE), os produtores elogiaram a boa cober­tura foliar, crescimento vigoroso e a capacidade produtiva, além da fir­meza e da doçura da polpa. Segun­do Rodrigues, a estratégia vai ser posicionar a cultivar para atender o mercado interno com frutos fir­mes, excelentes para transporte, e com elevado teor de açúcares. Ele revela que houve interesse no licen­ciamento porque a empresa busca novas genéticas para atuar em mer­cados maiores, como o segmento de híbridos que está em crescimento.

?Geralmente, o que se cultiva no Brasil são materiais genéticos im­portados, de empresas estrangei­ras que desenvolveram o híbrido de melão fora do nosso país. Por isso, ver a genética nacional sendo inseri­da nesse mercado é uma conquista que representa ganho de qualidade para produtores e consumidores?, avalia Oliveira ao comentar que ain­da é necessário desenvolver a par­te de fitotecnia para o híbrido BRS Araguaia alcançar todo o potencial.

CIFRAS DO MELÃO

Em 2016, a exportação mundial de melão ultrapassou 2,27 milhões de toneladas e 1,44 bilhão de eu­ros, um recorde histórico, confor­me mostram os dados da Divisão de Estatísticas do Departamento de Assuntos Econômicos e Mun­diais das Nações Unidas, divulga­das pelo portal espanhol Hortoinfo.

A Espanha ocupa o primeiro lugar nas exportações, com volu­me de quase 445 mil toneladas, seguida da Guatemala, com 420 mil toneladas. O Brasil fica em ter­ceiro lugar com 225 mil toneladas de melão exportadas. Honduras e Estados Unidos completam o ran­king dos cinco principais exporta­dores com 208 mil e 176 mil tone­ladas, respectivamente.

Em relação às receitas, a Espa­nha fatura um valor estimado em 303 milhões de euros, enquanto a Guatemala, com quase a mes­ma produção, alcança somente 145 milhões de euros, pouco mais do que o Brasil, que obtém 134 milhões de euros pelas exporta­ções da fruta. Nesse quesito, EUA e Honduras invertem de posição com, respectivamente, 112 mi­lhões e 41 milhões de euros.

Se observar somente exporta­ções que têm como origem o con­tinente europeu, o Brasil assume o segundo lugar, já que mais de 97% dos melões exportados pela Guatemala são enviados para os Estados Unidos. Os melões brasi­leiros, por sua vez, são destinados ? em ordem decrescente de volu­me ? para Holanda, Reino Unidos, Espanha e Itália. [com auxílio da Embrapa Hortaliças]

 Geralmente, o que se cultiva no Brasil são materiais genéticos importados, de empresas estrangeiras que desenvolveram o híbrido de melão fora do nosso país. Por isso, ver a genética nacional sendo inserida nesse mercado é uma conquista que representa ganho de qualidade para produtores e consumidores?

Pesquisador Valter Oliveira

Fonte: Melão

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