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Publicado em 28/06/2017
O grande volume de chuva no começo de junho atrasou a semeadura dos cultivos de inverno no Rio Grande do Sul. O encharcamento do solo, além de dificultar a entrada das máquinas na lavoura, também aumenta o risco de incidência do mosaico comum do trigo.
O clima frio e úmido encontrado nos estados do Sul do Brasil torna o mosaico um velho conhecido do produtor, uma doença que depende de água livre no solo para que o vetor do vírus possa alcançar o sistema radicular das plantas. Geralmente, o mosaico é verificado em áreas com histórico da doença – glebas mal drenadas e com aguadouros - já que tanto o vetor quanto o vírus podem permanecer no solo por longo tempo. De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Douglas Lau, o longo período de sobrevivência do vetor do vírus no solo torna práticas como a rotação de culturas pouco eficientes: “Em experimentos de pesquisa mesmo deixando o solo em repouso por cinco anos, quando voltamos a semear cultivares suscetíveis naquela área, sob condições de ambiente favorável, o mosaico voltou a ocorrer”, conta o pesquisador da Embrapa Trigo Douglas Lau.
O encharcamento do solo associado ao clima frio, que dificulta a evaporação rápida da água, forma o ambiente perfeito para o mosaico. A previsão de chuvas, após a semeadura ter sido realizada em solo úmido, também aumenta o risco de ocorrência da doença em áreas com histórico de mosaico.
O levantamento de dados dos últimos cinco anos, registra que os maiores danos por mosaico estão associados a precipitações próximas a 200 mm no mês de semeadura. “A fase mais crítica é nos dias subsequentes à semeadura, quando a infecção precoce tem potencial de causar mais danos a planta, afetando o desenvolvimento dos tecidos em formação”, explica Douglas Lau. Os danos podem chegar a 50% de redução no rendimento de grãos em cultivares suscetíveis, comprometendo a formação das espigas em culturas como trigo e triticale.
Sintomas
Os sintomas do mosaico começam a aparecer cerca de um mês após a infecção e se expressam até o final do ciclo da planta. A principal característica da doença é a alternância entre tecidos sadios e afetados, formando listras verdes e amarelas nas folhas. Plantas de trigo também apresentam retardo no crescimento.
A distribuição de plantas doentes no campo normalmente ocorre em manchas ou reboleiras, em locais onde a drenagem do solo não é boa. Porém, em anos com ambiente mais favorável, o mosaico pode infectar toda a lavoura. A disseminação do vetor ocorre a longo prazo, por meio de máquinas que trafegam entre áreas contaminadas e áreas, até então, livres de mosaico.
Controle
Estratégias de controle químico e práticas culturais ainda precisam ser melhor exploradas para aumentar a eficiência. Atualmente, a recomendação mais segura ao produtor é o investimento em cultivares resistentes ao mosaico. A pesquisa já identificou um grande número de cultivares que respondem bem a presença do vírus. Os resultados dos experimentos com as cultivares mais plantadas ou novos lançamentos para o Rio Grande do Sul são publicados anualmente no documento “Reação de cultivares de trigo ao mosaico comum”, disponível no site da Embrapa.
Rede de Pesquisa
Segundo o pesquisador Douglas Lau, algumas cultivares de trigo apresentam variações no nível de resistência ao mosaico em função do local e ano de cultivo. Ainda, em alguns casos, técnicas de adubação e tratamento de sementes mostram redução nos efeitos negativos do mosaico. Para entender melhor essa dinâmica da doença, está em desenvolvimento um projeto de pesquisa multi institucional para avaliar a variabilidade da população do vírus e as estratégias de manejo do mosaico comum do trigo no Brasil.
O projeto formou uma rede de pesquisa reunindo instituições públicas e empresas privadas, cooperativas e universidades que respondem por 90% do mercado de cultivares de trigo.
De acordo com o pesquisador da Biotrigo Genética, Paulo Kuhnem, hoje os programas de melhoramento precisam testar suas linhagens em vários locais e anos para ter uma maior confiabilidade da reação ao mosaico, o que atrasa e onera os programas de melhoramento. “Esta pesquisa, entre outros objetivos, busca fornecer informações da variabilidade da população viral e a reação de cultivares, tornando a seleção de genótipos mais eficiente”, explica o pesquisador. Segundo ele, a cooperação entre as instituições e os profissionais envolvidos no projeto vai trazer resultados técnicos e científicos que irão beneficiar toda a cadeia produtiva da cultura do trigo.
A identificação dos vírus associados ao mosaico por meio do sequenciamento do genoma está sendo realizada através da parceria entre UDESC, Biotrigo Genética e Embrapa Uva e Vinho. Os resultados dessa etapa serão utilizados nos experimentos a campo para caracterizar a população viral e a relação com a resistência de cultivares. A rede experimental também está avaliando as melhores práticas de manejo.
As pesquisas no campo estão sendo conduzidas pela Biotrigo Genética, OR Sementes, CCGL TEC, Coodetec, Fundação ABC e Embrapa Trigo. No total, serão quatro anos de pesquisa, com experimentos em nove municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. “Ao final, queremos disponibilizar indicações de práticas agropecuárias envolvendo estratégias genéticas, químicas e culturais para o adequado manejo do mosaico comum do trigo”, conclui Douglas Lau.
O trabalho conduzido pela rede de pesquisa para o manejo do mosaico comum do trigo será apresentado na XI Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, que acontece em Cascavel/PR, de 25 a 27 de julho de 2017.
Informações Embrapa
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