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Publicado em 01/06/2017
O trigo, nas regiões onde é tradicionalmente cultivado no Brasil, sempre foi uma cultura importante e parceira, principalmente, da soja, no tocante à promoção da sustentabilidade da agricultura.
Por mais que ocorram frustrações de safra, os benefícios diretos e indiretos do cultivo de trigo,
ao longo dos anos, são maiores do que a alternativa de manter as áreas em pousio. Temos uma grande oportunidade
no Sul do Brasil, que é a possibilidade de cultivo o ano inteiro, sem as limitações hídricas que
ocorrem, por exemplo, no Brasil Central.
Entretanto, existem ainda áreas agrícolas ociosas no inverno,
que poderiam ser ocupadas com trigo e outros cereais de estação fria. Para se ter uma ideia melhor dessa situação,
cabe frisar que, dos cerca de 15,4 milhões de hectares cultivados com soja, milho e feijão no Sul do Brasil,
somente ao redor de 2,4 milhões são cultivados no inverno com culturas produtoras de grãos.
O cultivo de trigo no inverno, indiscutivelmente, contribui para a conservação do solo. A monocultura da soja tem deixado o solo descoberto após a colheita, já que, diferente do milho, a soja não produz grande quantidade de palha e esta é de rápida decomposição. O sistema plantio direto necessita de diversificação de espécies de plantas, que tenham raízes capazes de romper o adensamento do solo e promover a formação de palhada com maior durabilidade do que a soja. A cobertura do solo com culturas de inverno é fundamental para aumentar a quantidade e diversificar a fonte desta palhada, contribuindo para evitar a erosão, a lixiviação de nutrientes por enxurradas e o controle de plantas daninhas.
Um exemplo importante de ganho indireto com o trigo é o papel dessa cultura em um sistema integrado de controle de buva em soja. A combinação do efeito supressor do trigo com o uso de herbicidas no inverno aumenta a eficiência no controle de buva com benefícios bem conhecidos à cultura em sucessão no verão.
O clima da Região Sul permite aumentar a complexidade dos sistemas de rotação/sucessão com diversas combinações, como, por exemplo soja/trigo/milho, soja/trigo/feijão e milho/nabo forrageiro/trigo/soja, entre outras. Além de aproveitar as áreas, o cultivo de trigo movimenta o maquinário e aproveita a sobra residual de adubo aplicado no verão. Em outras situações, o trigo pode ser utilizado no inverno com aplicação de toda a dose de adubo necessária para o inverno e o verão, evitando-se a adubação da soja na sequência e, consequentemente, facilitando a implantação da cultura de verão. A rotação de culturas também contribui para controlar doenças e pragas na lavoura. Por exemplo, no caso de doenças, em sistemas irrigados de produção com monocultivo de tomate, feijão e outras leguminosas, o trigo, por não ser hospedeiro de doenças como esclerotinia e rizoctoniose, constitui-se em alternativa importante para rotação de culturas nessas áreas.
O sucesso com a cultura do trigo, entretanto, depende de planejamento. É uma cultura bastante tecnificada, devendo as escolhas de manejo serem feitas conforme as peculiaridades regionais (envolvendo riscos e potencialidades do ambiente), a expectativa de rendimento de grãos e a relação receita/investimento.
Do ponto de vista econômico, a concentração de recursos numa única safra aumenta o risco de prejuízos causados por frustrações do clima ou oscilações do mercado. O indicado é diluir o custo de insumos, mão de obra e maquinário na diversificação de culturas que permitam mobilidade na receita e no investimento.
Estudos recentes, que compararam sistemas que utilizam trigo no inverno e soja no verão com sistemas que retiraram o trigo do inverno e anteciparam a semeadura de soja com foco em aumento de rendimento de grãos dessa cultura, mostraram, em diferentes regiões do Sul do Brasil, que a manutenção da cultura do trigo ainda é a melhor opção, tanto do ponto de vista da produção total de grãos quanto da quantidade de recursos que sobram na propriedade a cada ano. Mesmo nas regiões mais frias, onde há atraso da semeadura da soja pela colheita tardia do trigo ainda a melhor opção é manter o trigo no inverno e ajustar a escolha de cultivares de soja que tenham melhor desempenho produtivo em semeaduras tardias.
Portanto, a cultura do trigo integrada em sistemas de rotação de culturas contribui efetivamente na manutenção
e/ou melhoria da fertilidade química e física do solo, no controle de doenças, pragas e plantas daninhas
e no aumento da eficiência de uso de maquinário, mão de obra e insumos na propriedade rural, sendo fundamental
para a sustentabilidade da agricultura brasileira.
Artigo de João Leonardo Fernandes Pires / Pesquisador da Embrapa Trigo
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