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Macaúba é aposta para gerar biocombustível no Nordeste

Publicado em 22/05/2017

A Embrapa estuda o cultivo da macaúba em consórcio com grãos e leguminosas para obter matéria-prima

Produzir agroenergia e alimentos na mesma área pode ser um negócio lucrativo e viável. É o que tem demonstrado pesquisa feita por meio de parceria entre a Embrapa e o World Agroforestry Centre (Icraf). As instituições estudam o cultivo da macaúba em consórcio com grãos e leguminosas para obter alimentos e matéria-prima de qualidade para biocombustíveis.

Segundo a Embrapa, a ideia é, no futuro, incluir a pecuária no sistema, a fim de demonstrar que a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) também pode atender o mercado de agroenergia, conferindo ainda mais sustentabilidade ao setor e gerando renda para a agricultura familiar.

Agroenergia

Os experimentos estão sendo conduzidos em dois locais: Parnaíba, no litoral do Piauí, e em Barbalha, no Ceará, interior do Nordeste. A macaúba gera frutos com volume de óleo comparável ao do dendê, que é campeão em produtividade. Esse óleo pode atender à produção de combustíveis de origem renovável como o biodiesel, já presente no Brasil, e o bioquerosene de aviação, um produto ainda em consolidação, com grande potencial de mercado.

O projeto da Embrapa e do Icraf no Nordeste faz parte um programa internacional para desenvolvimento de cultivos alternativos para produção de biocombustíveis, com ações também na África e na Ásia. As atividades são lideradas pelo Icraf, com financiamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Ifad). No Brasil, a Embrapa conta, na condução do projeto, com o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, em esfera federal, do Instituto Federal, Emater, e Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará, além da interação com comunidades extrativistas locais.

De acordo com Shantanu Mathur, representante do Ifad, a instituição está investindo na produção de matérias-primas para biocombustíveis como forma de fortalecer o combate à pobreza. “Em quatro décadas trabalhando para a redução da pobreza, descobrimos que a produção de alimentos sozinha não é suficiente”, conta.

Pontos favoráveis

Para o pesquisador da Embrapa Agroenergia (DF) Alexandre Cardoso, líder do projeto, estabelecer esse sistema de produção agroflorestal tem como pontos favoráveis a diversificação e a regionalização da produção de biomassa para biocombustíveis, contando com uma espécie nativa, com ampla adaptabilidade em diferentes regiões.

 

Outro fator importante é o incremento da renda de comunidades locais proporcionado pelo cultivo que toma o lugar da atividade extrativista. “O extrativismo é importante para dar oportunidade de trabalho e renda, mesmo que temporariamente, em algumas populações. Mas, geralmente, o produto extrativista tem pouco valor agregado e, por isso, é pouco valorizado. As pessoas trabalham muito e recebem pouco”, observa o pesquisador Humberto Umbelino de Sousa, da Embrapa Meio-Norte (PI).

Ele acredita que, com o cultivo da macaúba, pode ser organizada uma cadeia produtiva que melhore as práticas de obtenção e processamento da matéria-prima, dando origem a produtos com mais qualidade e que resultem em maior renda para os produtores.

Experimentos com a palmeira

A palmeira, contudo, ainda é uma planta em processo de domesticação. Ou seja, há carência de conhecimento sobre a espécie e informações limitadas sobre tecnologias para plantio, adubação, combate a pragas e doenças, colheita. Com a finalidade de dar respostas com embasamento científico a essas questões, pesquisadores da Embrapa estão conduzindo três experimentos em Barbalha e Parnaíba.

O primeiro deles avalia justamente a eficiência de sistemas agroflorestais com a palmeira. Os cultivos começaram há dois anos e, enquanto esperam a macaúba dar os primeiros frutos, os pesquisadores já avaliam a produção de feijão-caupi e milho entre as fileiras de mudas da palmeira. Com duas safras colhidas, já se observou que não há efeitos negativos de uma cultura sobre a outra.

No campo de Parnaíba, a média de colheita anual tem sido de 1.100 quilos por hectare para o feijão e de 2.500 quilos por hectare para o milho. O pesquisador Humberto Umbelino de Sousa avalia que a produtividade é satisfatória, considerando as variedades e tratos culturais utilizados. No caso do milho, a equipe escolheu uma variedade rústica, com condições de produção próximas às que a comunidade local está acostumada e adequada para as condições de cultivo da região.

Quando a macaúba já estiver com porte alto, também poderá ser testada na área a criação de animais. A planta dá sombra, proporcionando conforto térmico, e pode ter algumas partes do fruto utilizadas como ração para os bois, cabritos e outros animais.

O segundo experimento avalia plantas originadas de diferentes regiões de Minas Gerais e do Ceará, com o objetivo de identificar quais seriam mais adequadas para o cultivo no Nordeste. O pesquisador Bruno Galvêas Laviola, da Embrapa Agroenergia, explica que não necessariamente as plantas originárias de determinada região são as melhores escolhas para plantios comerciais naquela área. “Genótipos de outros locais podem responder melhor ao fornecimento de nutrientes, água, controle de pragas. Por isso, é importante esse tipo de avaliação”, explica.

 

Por fim, no terceiro experimento, a equipe da Embrapa está testando diferentes combinações de doses de fertilizantes e necessidade de irrigação, buscando identificar a mais vantajosa para o produtor. Os primeiros resultados das avaliações nesse experimento foram apresentados no 6º Congresso Brasileiro de Biodiesel e apontam a eficiência da adubação com nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) na proporção de 137% nos dois primeiros anos do cultivo, independentemente do uso de irrigação.

Progresso dos resultados

“Estamos bastante satisfeitos com o progresso alcançado até o momento”, diz Rodrigo Cianella, do Programa de Biocombustíveis do Icraf. “Temos consciência de que esse é um investimento em pesquisa com retorno principalmente a médio e longo prazo, já que depende da avaliação constante de árvores plantadas há apenas dois anos. É possível notar, no entanto, avanços relevantes do projeto”, completa. O líder do projeto, Alexandre Cardoso, concorda: “São ações de longa duração, que podem fornecer subsídios para uma diversificação da cadeia de produção de óleo e outros produtos no Nordeste”.

Na região de Parnaíba, por exemplo, a macaúba ainda não é uma cultura presente. Contudo, a região é uma área favorável à expansão do cultivo e tem como atrativo as médias anuais de chuva superiores a 1.000 milímetros. “A gente entende que essa seria uma região para expansão da macaúba como cultivo e não como extrativismo”, diz o pesquisador Humberto de Souza.

Fonte de renda

Já na região do Cariri cearense, os maciços de macaúba são fonte de renda para as comunidades locais, que também exploram de forma extrativista o babaçu. Contudo, o retorno financeiro dessa atividade é muito baixo. O resultado da coleta é predominantemente vendido in natura, sem nenhum valor agregado, para ser comercializado na Bahia e Maranhão, principalmente.

Quando processam os frutos da macaúba, as cascas, a polpa e o endocarpo são descartados; apenas a amêndoa é aproveitada, para extração do óleo, que é vendido principalmente como iguaria para os romeiros de Juazeiro do Norte. Mas até mesmo esse óleo tem o rendimento e qualidade comprometidos, já que é obtido pelo cozimento das castanhas. “É um trabalho penoso, à beira do fogo”, observa o analista Luiz de Gonzaga Castro Veras, da Embrapa Algodão (PB).

Com recursos do projeto, um equipamento de uma dessas comunidades foi adaptado para extração do óleo por prensagem. Trata-se da Comunidade Boa Esperança, com 93 associados, a maioria mulheres. O novo recurso permite obter óleo com melhor qualidade, por um método menos trabalhoso. Veras conta que o produto obtido pelo método tradicional de cozimento é escuro e tem cheiro de queimado. “Agora, com a prensagem, eles obtêm um produto límpido, transparente, com cheiro de macaúba,” narra. Segundo o analista da Embrapa, o litro do óleo escuro é comercializado por até R$ 30; pelo produto claro, com melhor qualidade, os extrativistas conseguem R$ 40.

O aprimoramento do processo trouxe outra vantagem. O que sobrava da amêndoa no cozimento podia, quando muito, ser oferecido para os animais no mesmo dia, pois estragava rapidamente. Agora, da prensagem sobra uma torta com maior durabilidade, que pode ser utilizada inclusive para alimentação humana. Esse material está sendo alvo de pesquisa em nutrição animal, no Instituto Federal do Ceará (IFC), sob a liderança do professor Gauberto Barros.

Fonte: Farming

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