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Publicado em 03/04/2017
Talvez daqui a três anos já existam os ingredientes necessários para fazer uma cápsula ou um
alimento funcional para combater a obesidade, a diabetes e outras doenças a partir de cianobactérias, microorganismos
conhecidos como “microalgas azuis”. O objectivo do projecto Cyanobesity é precisamente esse: desenvolver
nos próximos três anos novos compostos nutracêuticos extraídos de cianobactérias marinhas
que reduzam os níveis de colesterol, triglicerídeos e glucose no sangue. O plano, que envolve um financiamento
de 1,3 milhões de euros e cinco grupos de pesquisa em quatro países, é coordenado pelo Centro Interdisciplinar
de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto.
Como tudo na vida, as cianobactérias
têm um lado bom e um lado mau. Estes microorganismos que fazem a fotossíntese são, dizem os cientistas,
responsáveis pelo aparecimento do oxigênio na atmosfera, há 2000 milhões de anos. Mas as toxinas
que libertam e tingem as águas de verde também podem causar problemas ambientais. Mas há mais. Estudos
em ratos demonstraram o potencial terapêutico das cianobactérias e compostos destes microrganismos já
são usados em tratamentos do câncer. Porém, agora, um consórcio que reúne investigadores
em Portugal, Suécia, Alemanha e Islândia quer identificar nestes microorganismos novos compostos capazes de combater
a obesidade e outras doenças relacionadas, como a diabetes e a esteatose hepática (fígado gordo).
O objetivo não é desenvolver um produto farmacêutico, mas antes simplificar este caminho, oferecendo
estes compostos como “nutracêuticos” que não necessitam de uma regulamentação tão
rígida como a exigida para um fármaco, refere ao PÚBLICO Ralph Urbatzka, perquisador do CIIMAR e coordenador
do projeto. O conceito nutracêutico – que é relativamente recente, tendo sido lançado por Stephen
DeFelice em 1989 – junta dois mundos: o da nutrição e o da farmacêutica.
O projecto Cyanobesity
ainda está no início. A primeira fase será dedicada à produção de biomassa de várias
estirpes de cianobactérias selecionadas da coleção de culturas do CIIMAR, a maior coleção
portuguesa e inscrita na Federação Mundial de Coleções de Culturas. Ralph Urbatzka adianta que
ainda não está definido o número total de estirpes de cianobactérias que serão avaliadas
mas que, para já, o plano é testar pelo menos 50.
Estas cianobactérias serão investigadas,
refere o cientista do CIIMAR, adiantando que vão ser realizados diferentes bioensaios em peixes-zebra e em vários
tipos de células adiposas (que acumulam gordura) e células hepáticas (presentes no fígado). Estas
experiências vão permitir isolar os “compostos bioactivos, necessários para a elucidação
da sua estrutura química”. “Vamos perceber como estas cianobactérias actuam na redução
do colesterol, lípidos e outros indicadores. Vamos rastrear a bioactividade no peixe-zebra, um modelo in vivo,
que vai permitir ver a ação destas cianobactérias”, diz Ralph Urbatzka, acrescentando que as experiências
serão feitas com “embriões, nos primeiros estágios de vida destes animais”.
Os grupos de pesquisa vão trabalhar em várias frentes. A equipa do Centro Hemholtz de Munique, na Alemanha, é especializada na área de obesidade e diabetes e vai realizar também bioensaios celulares para rastrear estas estirpes. Na Suécia, cientistas da Universidade de Linköping vão desenvolver uma “nova ferramenta biotecnológica para analisar muito rapidamente o mecanismo da ação – quais são os alvos moleculares, os receptores, as enzimas”, explica Ralph Urbatzka. Por fim, na Islândia o projeto terá dois grupos (da Universidade da Islândia e do laboratório Artic Mass) a trabalhar na “elucidação da estrutura dos novos compostos” para apresentar a sua fórmula química.
Há muitas cianobactérias e existem em muitos ecossistemas (mar, estuários, lagos e até algumas que existem no ar). A classe da espirulina é uma das mais investigadas e há já vários estudos que associam estes microorganismos a benefícios na saúde. “Vamos estudar as cianobactérias que temos na nossa coleção no CIIMAR e que existem em Portugal”, diz Ralph Urbatzka, sublinhando que este projeto quer ir além do que já se sabe sobre este tema. “Estamos à procura de novos compostos. O que já está descrito apenas dá algumas indicações. Queremos sistematizar este conhecimento e encontrar a melhor estirpe de cianobactérias, caracterizando os compostos ao pormenor.”
No final teremos um produto? “Esperamos que sim. Vamos tentar obter compostos que depois serão utilizados como nutracêuticos, uma espécie de suplemento alimentar”, diz o investigador. “Imagine que neste projeto encontramos uma estirpe muito promissora que têm um composto maravilhoso. Depois disto, grandes empresas de produção de microalgas podem pegar nesta estirpe e produzir este composto em grande escala.”
Ou seja, no final deste projeto de três anos não haverá um compromisso para mostrar, mas sim antes caracterizar detalhadamente uma matéria-prima que poderá ser “incorporada numa cápsula ou alimento” e que provou ser eficaz no combate à obesidade. “O objetivo é encontrarmos aqui a melhor cianobactéria para ajudar as pessoas obesas a reduzir os níveis de colesterol, os lípidos, a gordura, e que seja também benéfica para a diabetes, com redução dos níveis de glucose no sangue, fígado gordo, apetite e hiperlipemia. Queremos encontrar algo com o potencial de melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas em todo o mundo.”
Com informações de Público.
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