Biomassa florestal tem potencial para uma gama de bioprodutos que podem substituir derivados de petróleo
Publicado em 17/08/2016
A riqueza dos 7,7 milhões de hectares de florestas plantadas brasileiras vai muito além do uso convencional
da madeira para a produção de papel e energia. De adoçante a medicamentos, existe uma série de
outros produtos de maior valor agregado que podem ser extraídos das árvores. Para isso, contudo, será
necessário tirar do papel um conceito que hoje ainda está mais restrito à pesquisas em laboratórios:
o de biorrefinaria.
O que é BIORREFINARIA: O termo biorrefinaria se refere ao uso de diferentes fontes de biomassa para a produção
de múltiplos produtos a partir de uma mesma matéria prima, que pode ser, por exemplo, a cana-de-açúcar
ou as florestas plantadas. Tal qual em uma refinaria de petróleo, o objetivo é aproveitar 100% da biomassa para
gerar novos produtos com maior valor agregado, com a vantagem de que a biomassa é uma fonte energética renovável.
O termo traduz um empreendimento análogo a uma refinaria, mas, em vez de petróleo, a matéria-prima
usada é a biomassa de diversas origens, que tem a vantagem de ser uma fonte renovável a partir da qual se pode
obter uma gama infinita de produtos como, biocombustíveis, solventes, rações animais, plásticos
e fibra de carbono, além de centenas de outros insumos para as indústrias química, farmacêutica,
têxtil e cosmética.
Muitos desses produtos renováveis têm aplicações que podem, inclusive, substituir derivados
de petróleo no setor químico.
De olho no futuro, pesquisadores da Embrapa Florestas e do setor florestal brasileiro apostam nesta ideia para aproveitar
100% das árvores plantadas para gerar novos produtos. Hoje, além da celulose, que é o carro chefe do
setor, a madeira é usada basicamente como lenha para a produção de carvão vegetal e geração
de energia, além das aplicações sólidas, como móveis, pisos e painéis compensados.
“Eu olho para uma árvore como as pessoas olham para o petróleo”, diz Washington Luiz Esteves
Magalhães. Há 19 anos trabalhando com biomassa – 14 deles como pesquisador da Embrapa Florestas -, ele
dedicou anos ao estudo da diversificação do uso econômico das árvores plantadas.
A partir de agora, ele vai centrar esforços em um componente da madeira, a lignina. “A lignina é
antioxidante. Vou pesquisar se ela tem propriedades antitumorais ou antimutagênicas”, detalha Magalhães.
Usada hoje basicamente para a produção de energia – a partir da queima do licor negro que resulta
do processo de polpação da celulose – a lignina equivale a aproximadamente 25% da madeira e é,
entre os componentes da madeira, o que mais tem potencial para novos produtos como emulsificantes, aglutinantes, adesivos,
dispersantes, fibras de carbono, entre outros.
“A celulose que sai da indústria sai com 15% de hemicelulose. Usando biotecnologia, podem
ser transformados em outros álcoois, produtos de maior valor agregado, medicamentos, aditivos para dieses”, detalha
Magalhães. Um exemplo é o xilitol, um adoçante feio a partir da hemicelulose presente nas árvores.
Segundo o pesquisador, a partir de processos e tecnologias inovadoras, é possível ir além das tradicionais
aplicações da madeira. Ele faz questão de frisar, no entanto, que um longo caminho separa os avanços
nos laboratórios da comercialização. Enquanto alguns desses compostos já estão no mercado,
outros ainda esbarram na falta de viabilidade econômica, apesar de terem alto valor agregado quando comparados ao preço
da madeira, celulose e energia.
Indústria de papel e celulose tem potencial para biorrefinaria
Embora o Brasil seja pioneiro na produção de etanol a partir da cana-de-açúcar e existam
pesquisas especificas de biorrefinaria nessa área no país, o setor que estaria mais próximo de viabilizar
uma biorrefinaria no Brasil hoje é o de papel e celulose, pelo potencial e escala de produção.
A Suzano Papel e Celulose, por exemplo, tem uma planta só de extração de lignina em Limeira, no
interior de São Paulo, com foco tanto na área de bioenergia quanto no desenvolvimento de novos produtos para
novos mercados.
As pesquisas para maximizar o aproveitamento da biomassa avançam no mundo todo, em países como Canadá,
Finlândia, Suécia, Noruega, Estados Unidos e Dinamarca, com plantas piloto e unidade de demonstração.
Quarto maior produtor de celulose do mundo, o Brasil não está alheio a isso, destaca o pesquisador da Embrapa,
que já foi procurado por duas empresas para parcerias. Pelo menos por ora, o negócio dessas empresas continua
sendo madeira, a celulose e a energia, commodities de menor valor produzidas em escala.
Mas as empresas estão de olho em novos negócios e mercados com departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento
cada vez mais empenhados em maximizar o uso da biomassa florestal por meio do desmembramento dos principais componentes da
madeira: celulose, hemicelulose e lignina.
É uma revolução que acontece sem alarde.
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