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Publicado em 02/08/2016
Marcos Guimarães de Andrade Landell é Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas desde 1982 e Coordenador do Programa Cana IAC desde 1995. Assumiu a direção de Melhoramento Genético do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio (APTA) de Cana do Programa Cana (IAC), em Ribeirão Preto (SP) em 2002, coordenando o processo de criação de 22 novas cultivares de cana-de-açúcar. O agrônomo é presidente da Comissão Técnica de Cana-de-açúcar do Estado de São Paulo. É doutor em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho de Jaboticabal (SP) possuindo 19 capítulos de livros publicados. Também publicou 88 artigos em periódicos especializados e 84 trabalhos em eventos. Para Landell, a variação genética representa segurança biológica para o canavial.
CANAL: Qual a importância de novas variedades em um canavial?
Na atualidade, existem três programas de melhoramento genético da cana-de-açúcar no Brasil, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa) e o Instituto Agronômico (IAC).
Os ganhos genéticos dos mesmos tem sido constantes, incorporando um pouco mais de 1% ao ano para a produtividade agroindustrial, expressa em toneladas de açúcar por hectare. Desta maneira, a adoção sistemática de novas variedades, significa a incorporação desses ganhos na grande lavoura, gerando assim uma canavicultura mais sustentável.
Canal: A variação genética pode ajudar a aumentar a produtividade e reduzir os custos? Como?
Um dos grandes benefícios de se utilizar de um plantel varietal amplo, evitando a concentração de uma mesma variedade é a segurança biológica que é conferida a lavoura, evitando-se assim, grandes danos no caso do surgimento de uma nova doença que comprometa uma variedade cultivada em áreas expressivas.
Canal: A que o senhor atribui a pouca adoção de novas variedades no país?
Essa prática chama a atenção de fitotecnistas de outras culturas. Em cana-de-açúcar, as cultivares plantadas na atualidade tem aproximadamente 20 anos de lançamento. Em uma análise mais profunda, é perceptível que a dinâmica de substituição de variedades em uma cultura semi-perene e multiplicada vegetativamente é muito mais lenta que em uma cultura anual plantada através de sementes.
Outro aspecto relevante é a introdução do plantio mecânico na cana-de-açúcar nos últimos dez anos, que derrubou a taxa de multiplicação de viveiros de 1:10 para 1:3,5. Para mitigar essa multiplicação deficiente, surgiram técnicas de alta taxa de multiplicação como o mudas pré-brotadas (MPB). Isso tem resultado em uma dinâmica melhor nos últimos três anos. Muitos produtores já se utilizam de um plantel mais novo e começam a colher os primeiros frutos desse esforço.
Canal: Quais são as principais variedades desenvolvidas pelo IAC? E quais as características de cada?
As principais variedades IAC foram todas lançadas nos últimos oito anos, são elas: IAC91-1099, IACSP95-5000, IACSP95-5094, IACSP96-2042 e IACSP97-4039.
Além dessas, a IAC87-3396, tem bom desempenho na região Centro-Oeste. Como característica comum essas variedades têm grande adaptação em áreas de déficit hídrico e possuem ampla plasticidade, podendo ser colhidas em vários momentos da safra.
Canal: O que o setor pode esperar ainda este ano do Instituto?
Diversas áreas do conhecimento são abrangidas pela pesquisa de cana do IAC. Um grande esforço tem sido realizado para a obtenção contínua de novas cultivares. Provavelmente, teremos novidades em relação a novas cultivares nos próximos 12 meses.
O IAC está lançando no mês de maio, o projeto Censo Varietal Cana IAC, que tem como objetivo gerar uma informação para o setor com indicação do índice de inovação e concentração varietal inicialmente no Centro Sul do Brasil e posteriormente, também no nordeste brasileiro.
Outro projeto de grande impacto tem sido o desenvolvimento do pacote tecnológico de mudas pré-brotadas, com estudos na área da fisiologia, irrigação, nutrição, dentre outros. O Programa Cana IAC iniciou recentemente uma “network” com intuito de envolver produtores e empresas de insumos para avançar nesse projeto.
Outros tantos, envolvendo a área de entomologia, nematologia, matologia e fitopatologia estão em desenvolvimento. Há também novos conhecimentos sendo gerados sobre a “matriz de ambientes” com a criação do “terceiro eixo” da matriz. Isso já tem sido aplicado em diversos produtores com resultados animadores na produtividade.
Canal: Quem são os parceiros do IAC? Qual a importância delas?
Temos parceiros na área de P&D, como as universidades paulistas, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp), e em empresas como a Granbio.
E temos ainda um grande apoio das empresas produtoras – como associações de produtores, usinas e destilarias – que nos permitem manter uma das maiores rede experimental de desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar do mundo.
Canal: Nos últimos anos a produtividade da cana-de-açúcar caiu. Qual seria a estratégia para produzir a cana de três dígitos?
Esse tem sido um dos meus temas preferidos. No final de 2013, lançamos a frase: “Rumo à produtividade de três dígitos”, com a intenção de gerar um novo indicador de produtividade agrícola para o Centro Sul. Naquela ocasião, as produtividades de 70 t/ha eram “toleradas”, pois o setor vinha de uma época de baixíssimas produtividades, principalmente na região de expansão da canavicultura da década passada.
Os três dígitos significa Toneladas de Cana por Hectare (TCH) maior que 100 toneladas por hectare na média dos cinco primeiros cortes. Então, começamos a apresentar uma série de trabalhos que indicavam que essa produtividade esta associada à população de colmos, e para tanto, temos que construir um bom patrimônio biológico no momento do nosso plantio.
Assim, o primeiro ponto é a necessidade de variedades “facilitadoras”, ou que favoreçam no estabelecimento de um bom “stand” por ocasião do plantio. O segundo ponto diz respeito a “manutenção” desse patrimônio construído no momento do plantio. E isso se faz reduzindo os impactos negativos da mecanização sobre o canavial, principalmente, com o uso de ferramentas da agricultura de precisão.
Fonte:Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia
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