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Publicado em 17/05/2016
Uma pesquisa realizada em parceria entre a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), o Instituto Nacional
de Saúde dos Estados Unidos (NIH, sigla em inglês) e a Universidade de Londres conseguiu comprovar que sementes
de soja geneticamente modificadas constituem, até o momento, a biofábrica mais eficiente e uma opção
viável para a produção em larga escala da cianovirina – uma proteína extraída de
algas – muito eficaz no combate à AIDS. O resultado inédito é tema de artigo da edição
de hoje (13/02) da revista norte-americana Science (número 6223 Vol. 347 página 733, seção Editors choice).
A pesquisa, que começou a ser desenvolvida em 2005, se baseia na introdução da cianovirina, uma
proteína presente em algas que é capaz de impedir a multiplicação do vírus HIV no corpo
humano, em sementes de soja geneticamente modificadas para produção em larga escala. O objetivo final é
o desenvolvimento de um gel, capaz de eliminar o vírus, para que as mulheres apliquem na vagina antes do relacionamento
sexual.
Segundo Elíbio Rech, coordenador dos estudos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
e um dos autores do artigo, foram realizados testes com outras biofábricas, como plantas de tabaco (N. tabacum e N.
benthamiana), bactéria (E. coli) e levedura (S. cerevisiae). Entretanto, a única biofábrica
que mostrou ser uma opção viável para a produção de cianovirina foi a semente de soja transgênica
porque permite que a proteína seja largamente escalonada até a quantidade adequada. Aliado a esse fato está
o benefício do baixo custo do investimento requerido na produção da matéria prima para extração
da molécula.
Para se ter uma ideia do potencial da soja como fábrica biológica para produção
da cianovirina, no resumo do artigo publicado na Science, os cientistas afirmam que "grosso modo, se a soja
GM for plantada em uma estufa menor do que um campo de beisebol (97,54 metros) é possível fornecer cianovirina
suficiente para proteger uma mulher 365 dias por ano durante 90 anos".
Fábricas biológicas para produção de medicamentos
Rech explica
que os efeitos positivos da cianovirina contra a AIDS já estavam comprovados desde 2008 a partir de testes realizados
com macacos pelo instituto norte-americano. A capacidade natural dessa proteína, extraída da alga azul-verde
(Nostoc ellipsosporum), de se ligar a açúcares impedindo a multiplicação do vírus já
é conhecida pela comunidade científica mundial há mais de 15 anos. "O que faltava era descobrir uma forma
eficiente e econômica para produzir a proteína em larga escala", completa.
A utilização
de plantas, animais e microrganismos geneticamente modificados para produção de medicamentos faz parte de uma
plataforma tecnológica com a qual o pesquisador vem trabalhando desde a década de 1990. "As biofábricas
ou fábricas biológicas são capazes de expressar moléculas de alto valor agregado com custos baixos
e, por isso, são opções viáveis para produção de insumos, como medicamentos e fibras
de interesse da indústria, entre outros", afirma. Além disso, valorizam ainda mais o agronegócio brasileiro,
já que permitem a agregação de valor a produtos agropecuários, como plantas, animais e microrganismos.
Por isso, ele acredita que o cenário no Brasil daqui a dez anos será totalmente influenciado pela biogenética.
O faturamento da biotecnologia na indústria farmacêutica mundial cresceu muito nas últimas décadas
e hoje alcança aproximadamente 10 bilhões de dólares por ano. Os produtos biotecnológicos
estão em franco desenvolvimento e hoje representam cerca de 10% dos novos produtos atualmente no mercado.
A expectativa da Embrapa ao investir em pesquisas com biofármacos, como explica Rech, é fazer com que esses
medicamentos cheguem ao mercado farmacêutico com menor custo, já que são produzidos diretamente em plantas,
bactérias ou no leite dos animais. Existem evidências de que a utilização de biofábricas
pode reduzir os custos de produção de proteínas recombinantes em até 50 vezes.
Ele
explica que as plantas produzem proteínas geneticamente modificadas, idênticas às originais, com pouco
investimento de capital, resultando em produtos seguros para o consumidor. Além disso, representam um meio mais
barato para a produção de medicamentos em larga escala, pois como não estão sujeitas à
contaminação, evitam gastos com purificação de organismos que são potenciais causadores
de doenças em humanos. Sem falar na facilidade de estocagem e transporte.
Sementes geneticamente
modificadas não serão plantadas no campo
Rech faz questão de ressaltar que as sementes
geneticamente modificadas não serão plantadas no campo. Elas serão cultivadas em condições
controladas de contenção dentro de casas de vegetação ou estufas.
O próximo
passo é a produção de sementes de soja em larga escala para isolar a cianovirina e iniciar a fase de
estudos pós-clínicos. Durante as próximas fases de desenvolvimento, os cientistas contarão também
com a colaboração de cientistas do Conselho de Pesquisa Científica e Industrial da África do Sul
(CSIR – sigla em inglês).
Países com altos índices de infestação
por AIDS terão acesso livre à tecnologia
Além de inovadora, a pesquisa tem um forte
componente humanitário. Países em desenvolvimento com altos índices de infestação da AIDS,
como alguns da África, por exemplo, terão licença de produção e uso interno, livre do pagamento
de royalties. Aquele continente continua sendo o mais afetado pela doença, com 1,1 milhão de mortos em 2013,
1,5 milhão de novas infecções e 24,7 milhões de africanos contaminados. África do Sul e
Nigéria encabeçam a lista dos países mais afetados.
Na América Latina, com 1,6 milhão
de soropositivos em 2014 (60% deles, homens), o país mais preocupante é o Brasil, onde o índice de novos
infectados pelo vírus subiu 11% entre 2005 e 2013, tendência contrária aos números globais, que
apresentaram queda no mesmo período. Na Ásia, os países que apresentam maior contaminação
são Índia e Indonésia, onde as infecções aumentaram 48% desde 2005.
A revista Science,
publicada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, sigla em inglês), é
uma das mais prestigiadas de sua categoria, com tiragem semanal de 130 mil exemplares, além das consultas online, o
que eleva o número estimado de leitores a um milhão em todo o mundo.
Fernanda Diniz (4685/89/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
recursos-geneticos-e-biotecnologia.imprensa@embrapa.br
Telefone: (61) 3448-4769 e 3340-3672
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/
Fonte: Embrapa
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