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Jurubebas ajudam no controle nematóides em tomateiro

Publicado em 02/05/2016

Ensaios realizados com plantas espinhosas, conhecidas popularmente como jurubebas, indicam que algumas variedades possuem elevada resistência às principais pragas de solo presentes em cultivos de hortaliças. O destaque dos resultados fica por conta da resistência a uma nova e invasiva espécie de nematoide-das-galhas, Meloidogyne enterolobii, que foi observada pela primeira vez no Brasil no ano de 2001, em plantios de goiaba no Nordeste.

As jurubebas pertencem à família das solanáceas, assim como a berinjela e o tomate, e, por meio de técnicas de enxertia, cientistas já conseguiram obter tomateiros resistentes à praga e pretendem identificar os genes responsáveis pela resistência ao nematoíde.

“A Meloidogyne enterolobii sempre foi uma ameaça para as hortaliças porque as cultivares com genes de resistência efetivos contra espécies mais comuns de nematoides (Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica) não surtem efeito nessa espécie específica e, com isso, as lavouras ficam vulneráveis”, explica o pesquisador Jadir Pinheiro, da área de Nematologia da Embrapa Hortaliças.

 Tomateiros sadios e com maior produção

A partir da comprovação das espécies de jurubebas resistentes, os pesquisadores trabalham no desenvolvimento de um porta-enxerto para tomate. A enxertia é uma técnica que consiste na união dos tecidos de duas plantas diferentes: o enxerto, ou parte aérea, produz os frutos da espécie desejada, e o porta-enxerto, ou sistema radicular, responde pelas funções básicas da planta, como fornecimento de água e nutrientes, mas principalmente adaptação ao solo e resistência às doenças.

 “Cruzamos jurubebas com espécies de plantas aparentadas como o jiló para, a partir do híbrido gerado, analisar a efetividade como porta-enxerto de tomate”, relata o analista de Pesquisa e Desenvolvimento José Mendonça, ao sublinhar que o híbrido herdou a resistência da jurubeba, mas não os espinhos presentes nessa planta, o que dificultaria o processo manual da enxertia. “Foi o melhor dos cenários”, ressalta.

 Menor índice de infestação por Meloidogyne enterolobii

Os resultados parciais das unidades de validação instaladas no Distrito Federal apresentaram boas perspectivas, tanto para resistência quanto para compatibilidade com o tomateiro. Na comparação com um porta-enxerto comercial e um tomate auto-enxertado, o material gerado das plantas híbridas de jurubeba revelou o menor índice de infestação por Meloidogyne enterolobii, além de apresentar melhor produção.

“A produção é determinante para viabilizar a adoção do porta-enxerto pelo setor produtivo. Não adianta apresentar resistência e compatibilidade se a produção comercial for inferior aos materiais existentes”, pondera o analista, ao informar que o próximo passo é cumprir os trâmites burocráticos para o lançamento do produto no mercado.

O porta-enxerto de tomate resistente ao nematoide-das-galhas, incluindo Meloidogyne enterolobii, pode ser uma garantia de mudas saudáveis para início dos plantios, principalmente em solos com histórico de infestação. “O porta-enxerto resistente minimiza os danos da praga, mas a prevenção deve continuar sendo a regra para zelarmos por um bem maior: o solo”, destaca o pesquisador Jadir Pinheiro, ao listar algumas boas práticas agrícolas para evitar a entrada da praga nas áreas de produção, entre elas a utilização de mudas com boa procedência, a rotação de culturas e o uso de maquinários higienizados.

Ele lembra que os nematoides são capazes de sobreviver em qualquer partícula de solo, ainda que minúscula. Por isso, ações preventivas para evitar a entrada de nematoides nas áreas de cultivo são as medidas mais recomendadas porque, uma vez que esses organismos adentram as lavouras, podem permanecer no solo por décadas.

A busca pelo gene da resistência

Além do porta-enxerto, os pesquisadores iniciaram outra frente de atuação: o mapeamento do genoma das jurubebas resistentes para identificar o gene responsável pela resistência a Meloidogyne enterolobii. “Para as outras duas espécies de nematoides (Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica), o gene Mi do tomateiro oferece a resistência, mas para o M. enterolobii esse gene, infelizmente, não funciona”, frisa o pesquisador Leonardo Boiteux, da área de Melhoramento Genético.

Ele explica que, a partir da identificação dos fatores de resistência expressos na planta de jurubeba, é possível criar um modelo genético que se expanda para outras espécies da mesma família. Isso porque as solanáceas divergiram muito pouco em termos genéticos ao longo do processo evolutivo das espécies. Ou seja, em termos de estrutura genética, o tomate e a jurubeba são parecidos, de tal modo que, se for encontrado o gene de resistência na jurubeba, há como procurar genes análogos no genoma do tomateiro, ou, até melhor, clonar o gene e mobilizá-lo da jurubeba para outra planta de interesse.

A proposta da pesquisa é usar marcadores moleculares e tentar “aterrissar” na região do genoma da jurubeba onde o gene de resistência está localizado. “Primeiro, quebramos o genoma em vários pedaços e, em seguida, por meio de tecnologias de bioinformática, organizamos o quebra-cabeça até chegar a uma sequência mais completa que nos forneça informações relevantes quanto à resistência”, esclarece a pesquisadora Maria Esther Fonseca, que trabalha com Análise Genômica.

Estima-se um prazo de quatro anos até encontrar o gene de interesse para resistência a Meloidogyne enterolobii. De acordo com Boiteux, são três etapas que avançam de maneira simultânea, genética clássica (cruzamento entre jurubebas suscetíveis e resistentes para gerar uma população e observar a herança da característica de interesse); sequenciamento do genoma completo a partir da extração do DNA da população obtida no cruzamento; e associação da resistência com marcadores moleculares para “fincar estacas” e localizar com precisão a região do cromossomo que contém o gene.

“Todas as frentes de trabalho estão articuladas, inclusive as análises para diagnóstico da resistência e o desenvolvimento do porta-enxerto. A identificação da resistência em si já é uma grande contribuição para a área científica e um ótimo ponto de partida para os demais estudos”, diz o pesquisador. 

A doença

Dez anos atrás, a ameaça imposta pelo Meloidogyne enterolobii, desde que afetou severamente os pomares de goiaba, confirmou-se em plantios de tomate e pimentão no Estado de São Paulo, cultivados com materiais resistentes às espécies mais frequentes de nematoide-das-galhas. Desde então, foi dada como certa a quebra de resistência por parte do M. enterolobii e ficou iminente a possibilidade de ele se alastrar para lavouras de hortaliças por todo o País. 

Recentemente, foi confirmada por técnicos da Embrapa a presença dessa praga em núcleos rurais do Distrito Federal. Por esse motivo, a pesquisa somou esforços na busca por fontes alternativas de resistência. Ao todo, seis espécies de solanáceas foram testadas, e os pesquisadores identificaram duas com boas perspectivas de resistência ao Meloidogyne enterolobii, conhecidas popularmente como jurubeba- amarga e jurubeba-vermelha (ou jurubeba-doce). “Após a inoculação dos nematoides em vasos cultivados com as jurubebas, observamos que dois tipos foram promissores porque as raízes ficaram ilesas”, conta Pinheiro, ao explicar que uma planta suscetível apresentaria galhas nas raízes, um tipo de engrossamento e calosidade, que compromete a absorção de nutrientes pela planta. Ele aponta o ineditismo da descoberta: “Até então, na literatura científica, não há registro de solanácea resistente ao nematoide da espécie Meloidogyne enterolobii”.

Para atestar a resistência, cada planta de jurubeba é contaminada com uma solução que contém cinco mil ovos e juvenis de nematoides-das-galhas. “Após esse processo, é preciso esperar cerca de 70 dias para, então, lavar as raízes, fazer o processamento e efetuar a contagem dos nematoides”, elucida Danielle Biscaia, técnica do laboratório de Nematologia. Essa etapa pode parecer simples, mas exige uma atenção minuciosa porque, se a inoculação ou a análise não forem bem feitas, pode haver um falso- positivo para resistência de alguma planta que, na verdade, é suscetível.

A planta somente vai ser considerada resistente se, após as análises, a população inicial de cinco mil nematoides inoculados permanecer igual ou sofrer uma redução. “Se após o ciclo da jurubeba, houver um aumento da população inicial de nematoides, a planta é suscetível”, explana o pesquisador Jadir Pinheiro, ao salientar a importância de haver múltipla resistência – tanto para o Meloidogyne enterolobii quanto para as outras espécies de nematoide-das-galhas.

As jurubebas são plantas espinhosas que apresentam distribuição nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, especialmente na Amazônia e no Estado de Goiás. No País, estima-se que existam quase 500 espécies de plantas do gênero Solanum, da família das solanáceas, descritas na botânica. “Nesse leque, buscamos múltipla resistência para pragas de solo, mas também espécies que sejam comestíveis, sem toxicidade, e compatíveis com as hortaliças cultivadas”, comenta José Mendonça.

Fonte: UOL

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