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Publicado em 25/04/2016
Tecnologia genética de vanguarda começa a ser usada para enfrentar o mais perigoso predador do Brasil. Cientistas do Rio investigam o genoma do Aedes aegypti em busca de seus pontos fracos e planejam usá-los em armadilhas vivas, criadas em laboratório, num trabalho inédito. A meta é reduzir a infestação do mosquito que transmite zika, dengue e chicungunha com o uso de plantas.
Tendo à frente a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o projeto, que já está em curso, combina a análise dos genes do Aedes com a identificação e a modificação de plantas. Erradicação é um termo forte demais para um inimigo que aprendeu a tirar proveito das fraquezas humanas, como a falta de saneamento básico, afirma o líder do projeto, Mario Alberto Cardoso da Silva-Neto, chefe do Laboratório de Sinalização Celular do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da UFRJ:
— Enquanto persistirem condições precárias, como esgoto a céu aberto e falta de água encanada, existirão mosquitos. Mas podemos reduzir sua população de forma expressiva. Temos o orgulho e a tradição de Oswaldo Cruz e Carlos Chagas no combate de epidemias, mas ainda não aprendemos a resolver problemas de urbanização.
Ele e a equipe, integrada também por pesquisadores do Instituto de Biologia do Exército (IBEx) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), analisam genes que conferem ao mosquito a capacidade de sugar o sangue humano. Todo o genoma de cerca de 15 mil genes do Aedes é rastreado, mas a meta é chegar a 20 genes de interesse, ativos somente nas fêmeas.
— O Aedes existe há cerca de 45 milhões de anos. Ele tem um arsenal biológico formidável e se adaptou totalmente a predar o ser humano. Mantê-lo sob controle é um trabalho de permanente vigilância — destaca.
MOSQUITOS FORAM CAPTURADOS
Para o estudo, os cientistas desenvolveram uma população de mosquitos representativa do Aedes que infesta o Rio. Capturaram mosquitos na orla da Baía de Guanabara: em Paquetá, Ilha do Governador, Praça Quinze, Niterói e São Gonçalo.
— Eles foram cruzados e obtivemos uma população homogênea, que chamamos de Aedes Rio. São os genes desses mosquitos que estudamos — diz Cardoso.
O grupo se debruça sobre o período de até 48 horas de vida do mosquito, em que ele ainda não aprendeu a sugar o sangue humano. Durante essa fase, machos e fêmeas se alimentam apenas de seiva das plantas e copulam. Após esse breve período, alguns genes acionam uma espécie de gatilho, que faz as fêmeas fecundadas sugarem sangue humano para nutrir seus ovos.
— Vamos comparar machos e fêmeas e ver que genes ficam ativos. Só nos interessam as fêmeas, que chupam sangue — explica o cientista.
A ideia é bloquear a ação desses genes. Sem eles, as fêmeas do Aedes não se tornarão sugadoras de sangue. Outros alvos são genes ligados à captação de CO2 — necessário para o Aedes caçar suas presas, isto é, seres humanos — e ao desenvolvimento do tubo digestivo do inseto.
Para bloquear os genes, os pesquisadores planejam usar plantas geneticamente modificadas. É sabido que os mosquitos preferem a seiva de certas espécies de plantas. No caso do Aedes, são 20. Mudas dessas espécies estão sendo selecionadas e cultivadas pela pesquisadora da UFRJ Maite Vaslin.
— O objetivo é modificar essas plantas para que se tornem mais atraentes e produzam substâncias capazes de bloquear os genes dos mosquitos. Tecnicamente, isso é possível. Já identificamos as plantas que o Aedes gosta — explica Cardoso.
Essas plantas poderiam ser usadas em áreas de infestação, para impedir a reprodução do mosquito.
— É estratégia de saúde pública. Precisamos de várias frentes contra o mosquito — afirma o pesquisador.
O projeto foi orçado em R$ 5 milhões. Até agora, R$ 3 milhões foram aprovados, mas apenas R$ 600 mil, repassados.
— A pesquisa genética é promissora, mas tem um custo, que este ano aumentou muito com a alta do dólar. Quase todo o trabalho de sequenciamento genético é feito com material importado. Sem pesquisa, temos menos chances contra um mosquito que prolifera justamente graças às condições de pobreza — diz.
A CIÊNCIA DA UNIVERSIDADE VAI PARA AS ESCOLAS
O mesmo laboratório que trabalha com tecnologias de investigação genética avançadas ajuda a informar estudantes do ensino fundamental sobre o Aedes e suas doenças, além de estimular o interesse de jovens e crianças pela ciência. Mario Alberto Cardoso da Silva-Neto e outros pesquisadores de seu grupo fazem um trabalho voluntário em escolas da rede pública do Rio.
— Usamos o Aedes para descobrir novos talentos em ciência. Uma vez que a maioria das crianças já ouviu falar de mosquitos, e eles estão por aí o tempo todo, estabelecemos uma conexão com assuntos como as mudanças climáticas, a transmissão de doenças, o desmatamento e o papel da sociedade nessas questões — salienta o cientista.
Os pesquisadores já deram palestras e desenvolveram atividades em mais de 50 escolas nos últimos oito anos.
— Alguns integrantes da equipe elaboram aulas práticas relâmpago. Discutimos tudo. Dos transgênicos ao saneamento — conta Cardoso.
A UFRJ também oferece um curso de férias, que já beneficiou mais de 500 alunos e seus professores. E montou ainda atividades permanentes nos laboratórios de ciências de três escolas municipais do Rio. Para entrar em contato com a equipe, as escolas dispõem de um site (www. bioqmed.ufrj.br/docentes/?u=maneto) e de e-mails (maneto@bioqmed.ufrj.br e pollyana@bioqmed.ufrj.br).
Fonte: OGlobo
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