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Publicado em 14/01/2016
O aumento da produtividade é foco constante do produtor rural, já que é isso que proporciona a competitividade no negócio. Pensando em atender esse mercado e contribuir com a cadeia produtiva da cana, novas tecnologias estão sendo agregadas à cultura a fim de maximizar a produtividade e reduzir custos de plantio, além de fazer com que as novas plantas sejam de qualidade superior às já existentes.
Conforma analisa o presidente da Comissão de Cana-de-açúcar e Bioenergia da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Joaquim Sardinha, em tempos de crise o desafio na produção se torna ainda maior, principalmente por causa da elevação dos custos atrelados ao câmbio, quando a aquisição dos insumos e incremento de tecnologia ficam mais complicados.
A sustentabilidade no negócio da cana depende significativamente dos índices de produtividade. Atualmente, a agricultura de precisão, a aplicação de inibidores de florescimento, o manejo varietal, a época de colheita, o manejo sistemático de solo e as variedades transgênicas são práticas bastante crescentes entre os produtores, conforme comenta Joaquim.
Nesse contexto, a Embrapa vem estudando ações voltadas ao desenvolvimento de sistemas de produção para adaptação de cultivares. A Embrapa Cerrados tem focado em aspectos como a resposta de diferentes cultivares comerciais à irrigação, tendo sido possível obter produtividades de cerca de 250 ton/ha/ano, valores bem superiores aos atingidos por variedades comerciais sob regime tradicional de cultivo.
Também estão sendo desenvolvidas pesquisas pela Embrapa Tabuleiros Costeiros com objetivo de definir estratégias de adubação mais eficazes e econômicas, bem como pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Agrobiologia focando o uso de agentes inoculantes capazes de fixar nitrogênio atmosférico, levando a aumentos de produtividade sem a necessidade de utilização de grandes volumes de nitrogênio na adubação. Outra frente que tem ganhado força e promete trazer grandes impactos para o setor é o desenvolvimento pela Embrapa Agroenergia de plantas de cana geneticamente modificadas para expressarem resistência a estresses hídricos e a teores de alumínio elevado em solos.
Humberto Carrara, gerente executivo agrícola da Usina São João, ressalta que três fatores têm impacto relevante sobre a produtividade de uma lavoura de cana. O primeiro é que a cana é uma cultura semi-perene, ou seja, planta-se uma vez para colher em vários anos consecutivos. O segundo é que tanto o plantio quanto a colheita são feitos de forma mecanizada. E o terceiro é que há dificuldade em trabalhar a genética para obter novas variedades de cana mais promissoras. “O equilíbrio entre esses três fatores é crítico para se manter a produtividade. Ano após ano uma mesma área cultivada é submetida ao impacto das máquinas sobre o solo, o que afeta a cana e a produtividade agrícola. Por exemplo, uma área que teve produtividade de 140 ton/ha na primeira safra pode terminar seu ciclo produtivo com 60 a 70 ton/ha por safra.”
Investimentos
De acordo com Joaquim Sardinha, a grande demanda por mão de obra qualificada demonstra o avanço tecnológico nas áreas de produção, otimizando o maquinário e potencializando o trabalho dos colaboradores. “Para ser ter uma ideia, na safra 7/8 o índice de colheita mecanizada nos canaviais era de pouco mais de 25%. Na safra atual chega próximo de 100%, sem contabilizar as áreas com fogo acidental ou natural. De igual forma, o índice de plantio mecanizado também evoluiu bastante e aumenta a demanda por mais mão de obra qualificada.”
Os investimentos em tecnologias no campo nos últimos anos têm sido crescentes. Joaquim Sardinha atribui o fato a um motivo simples: sustentabilidade do negócio. “Neste momento de crise isso se faz ainda mais necessário, pois precisamos de competitividade com diminuição dos custos de produção. Temos uma dependência externa de insumos muito grande e o produtor acaba se tornando refém dessa situação, especialmente quando o câmbio está elevado. Além disso, temos outros fatores que impactam essa sustentabilidade como combustíveis, despesas com mão de obra e preço das terras.”
Apesar dos problemas, os produtores têm conseguido retorno financeiro, com variação dependo da região onde cultura da cana-de-açúcar está instalada. “A implantação de um hectare de cana de açúcar é bastante onerosa. Porém, é possível em três a quatro anos quitar o investimento e o plantio perdurar por mais seis a oito cortes”, comenta Sardinha.
Tecnologias agregadas
Quanto às tecnologias agregadas no campo, Sardinha ressalta que a crise de 2008 trouxe grandes problemas ao setor e, a partir daí, começou um grande movimento de revisão do sistema produtivo. “As usinas que antes priorizavam a parte industrial perceberam que não se produz etanol, açúcar ou energia na indústria, mas no campo. Assim, passaram a investir mais nas lavouras com incremento de tecnologia.” Segundo ele, os produtores também buscaram aumentar os níveis de produtividade e qualidade do produto por meio do uso da agricultura de precisão e mão de obra qualificada, o que ocorreu em maior escala desde 2010.
Para Sardinha, os principais objetivos alcançados com os investimentos tecnológicos foram o incremento na produtividade e a melhoria no fluxo de caixa do produtor graças ao aumento da margem, diminuição de custos e potencialização dos serviços, dando assim sustentabilidade em longo prazo no negócio.
O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia, Guy de Capdeville, afirma que o melhoramento genético é uma das principais estratégias para aumento de produtividade de qualquer cultura. Entretanto, a ação por si só não permite grandes ganhos de produtividade se sistemas adaptados às diferentes regiões de produção não forem desenvolvidos para as diversas variedades de cana produzidas pelos principais programas de melhoramento. “Sem a integração de materiais genéticos de alta produtividade com procedimentos de cultivo eficientes e adaptados às diferentes regiões, será mais difícil atingir produtividades que justifiquem os investimentos na lavoura.”
Segundo Capdeville, a obtenção de plantas mais resistentes às pragas é totalmente dependente de duas técnicas principais: melhoramento genético e transformação genética. No caso do melhoramento genético, para que ambas as estratégias possam originar plantas que tenham elevado potencial produtivo e que sejam resistentes às doenças, é necessário que se obtenham materiais que apresentem a característica de resistência a ser transferida para outro material que apresente potencial produtivo. No caso da transformação genética, é preciso que se tenha identificados e selecionados genes de resistência a uma dada praga ou doença para que os mesmos sejam introduzidos por técnicas de engenharia genética em materiais com elevada produtividade, de forma que estes passem a apresentar também resistência às pragas que se objetiva controlar.
Inovações
Na Basf, empresa química que oferece inovações para o campo, a novidade para aumentar a produtividade na lavoura de cana é o AgMusa (Agricultura de Mudas Sadias). O sistema é desenvolvido por meio da produção e plantio de mudas sadias de cana-de-açúcar com uso de variedades nobres, com garantia de sanidade, por meio de técnicas simplificadas que resultam no aumento de produtividade dos viveiros e canaviais.
O gerente de marketing AgMusa da Basf, Cássio Teixeira, comenta que já são sete patentes estabelecidas dentro do oferecimento da tecnologia em dois anos de aplicação. “Hoje é oferecido desde a matéria-prima ou material varietal com sanidade, passando pela extração de gemas, tratamento das mudas até o plantio e o acompanhamento do canavial.” De acordo com Cássio, ao final do ciclo a área de viveiro é capaz de gerar uma produtividade de gemas viáveis entre 20% e 30% superior às áreas comuns.
Dos ganhos tecnológicos ocorridos, destacam-se a recomendação do sistema em meiosi e a utilização de biofábrica (móvel). “O plantio em meiosi ou ‘método inter-rotacional’, consorciado às culturas de soja ou amendoim, prevê a integração de duas culturas com o objetivo de proporcionar a rotação de área e benefícios agronômicos. A formação de um canavial a partir das mudas sadias elimina a possibilidade de levar pragas como Sphenophorus levis para a área em formação, além de garantir a sanidade em relação às doenças como raquitismo e escaldadura”, diz Cássio.
Além disso, a rotação de culturas reduz a pressão de pragas e incrementa a rentabilidade do agricultor, já que o custo por hectare formado é reduzido à medida que o sistema proporciona um aumento de produtividade entre 20% e 40% do viveiro. O produtor pode ainda obter ganhos adicionais com o cultivo intercalar e benefícios técnicos relacionados ao uso do solo.
A biofábrica auxilia na realização da originação de material genético de cana, utilizando-se de gemas da planta de variedades definidas previamente e na própria usina. A ferramenta possui tecnologia de extração de gemas da cana e alto rendimento. Cada unidade móvel de biofábrica é capaz de gerar 40 mil gemas ao dia.
O valor de investimento em mudas sadias é variável. Em média, o custo do hectare plantado e manejado é equivalente ao custo do plantio mecanizado, ou pouco superior devido às novas tecnologias que o sistema permite integrar ao plantio. “O retorno do investimento se dá em um horizonte inferior a dois anos. Ou seja, no segundo corte, o agricultor já obteve o retorno. Nesse momento ele possui um campo sadio, de alta produtividade e com um potencial de longevidade ampliado”, afirma Cássio.
Para o ano de 2017, a Syngenta, empresa voltada para produtos químicos e sementes para o agronegócio, deve oferecer ao produtor gemas de cana-de-açúcar encapsuladas, funcionando como uma “semente” de alta qualidade. A tecnologia fornece uma taxa de multiplicação mais elevada e um menor custo por tonelada em comparação com sistemas de plantio convencional. Ela complementa as já disponíveis mudas para geração de viveiros de alta qualidade e preenchimento de falhas, que oferecem um material genético puro que garante mais qualidade e produtividade.
A novidade deve melhorar a logística e tornar a tecnologia amplamente disponível. Com ela, não há necessidade do compactamento do solo e a contribuição direta deve aumentar em 20% até 2020 a produtividade das principais culturas sem utilização de mais terras, água e insumos.
“Atualmente, para realizar o plantio, um caminhão descarrega na lavoura cerca de 20 toneladas de cana. Com a ‘semente’ de cana será necessária uma pequena picape com 150 quilos do produto para plantio, assim como é feito com soja e milho”, afirma Leandro Amaral, diretor de marketing para cana-de-açúcar da Syngenta. O baixo volume de material permitirá o uso de tratores menos potentes ou o aumento do número de linhas para plantio, o que irá impactar num aumento da velocidade e eficiência desta operação. Será possível um plantio de 30 a 90 ha por dia com uma máquina.
Realidade
Na Raízen, a lavoura acompanhou a crescente modernização e mecanização oferecida pelo mercado, tanto na colheita quanto no plantio. Para isso, foi necessária uma rápida adaptação e sistematização dos processos. Com uma área total de cerca de 400 mil hectares e renovação anual de cerca de 65 mil hectares, o diretor de produção agrícola da Raízen, Antônio Fernando Pinto de Lima, explica que atualmente, com o maquinário dentro da lavoura, a velocidade de colheita tem sido maior e, consequentemente, o trabalho de gestão também. “Hoje uma plantadora recebe um pen drive com as informações de onde ela deve ir. Isso inclui o que chamamos de controle de tráfico”, comenta.
Todo o plantio é feito de forma georreferenciada e as informações são transmitidas para a colhedora, o que assegura aumento de produtividade graças à redução das perdas no processo. Na usina, as atividades de colheita e plantio utilizam piloto automático e ferramentas para monitoramento remoto on-line – tudo para garantir a velocidade de trabalho no campo. “Esse investimento em geotecnologias vem agregando ganhos de produtividade e de custo”, comenta Antônio.
Para que a tecnologia agregada se tornasse uma realidade rentável na usina era necessária uma adaptação da lavoura de cana. Há cinco anos o espaçamento de plantio foi alterado para se adequar à mecanização. “Foi preciso investir inclusive em formação dos colaboradores. Trabalhamos com simuladores de colheitas para que o profissional do campo opere bem os maquinários”, explica Antônio. Diferente do que se aplica no setor, que é a linha simples espaçada de 1,5, a usina passou fazer 0,9 por 1,5, o que garante em torno de 30% a mais de planta no hectare. Assim, o deslocamento é 40% menor para colher a planta, adequação para auxiliar no controle de tráfico.
Já na Usina São João, uma mesma muda permite a colheita por quatro ou cinco safras. Em média, renova-se anualmente em torno de 15 a 20% da área total de cultivo. Hoje se planta 15 toneladas de mudas por hectare, o que resulta em uma produtividade média de 90 toneladas por hectare, em ciclos que duram de cinco a seis anos.
Assim, os investimentos em tecnologia agregada são recorrentes. “Dos danos provocados pela mecanização, o mais sério é a compactação crescente do solo por causa dos anos seguidos de operações pesadas. Portanto, reduzir o impacto ou mitigar seus efeitos é uma prática recorrente. Outro ponto de atenção constante são os investimentos em nutrição: micronutrientes, adubação foliar, complementação orgânica e busca de vigor são elementos que alavancam a produtividade”, revela Humberto Carrara, gerente executivo agrícola da Usina São João.
O gerente da Usina São João ressalta que as principais dificuldades em se aumentar a produtividade dentro da lavoura são a capacidade de investimento em tecnologia, a redução do impacto da mecanização, as condições climáticas e o ataque de pragas e doenças.
Pelo fato de a cana é uma cultura reativa, de ciclo rápido, produzindo em média 130 toneladas de matéria vegetal em 12 meses, Humberto esclarece que os investimentos que reduzam ou eliminem qualquer fator que possa restringir a produtividade tem resultado quase imediato, já perceptível no ano seguinte em condições normais de clima. “Nas épocas de crise, a preocupação com a produtividade é maior, pois a cana é uma lavoura muito extensiva, com grandes áreas cultivadas – então a economia de escala tem um peso muito grande”, finaliza Humberto.
Fonte: Canal Bioenergia
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