Embrapa lança, no dia 8, a nova variedade BRS Xingu, com período tardio de colheita e mais
produtiva. O evento marca uma jornada técnica para discussão de melhorias na cultura.
A moda agora é você preparar para eventos especiais os bolos pelados, os "naked cakes", que na sua maioria
utilizam frutas. Neste caso, algumas frutas pouco usadas, ou comercialmente mais caras, e que carregam a delicadeza e o potencial
nutricional recomendados por especialistas da área da saúde como o caso das frutas vermelhas. Entre elas,
encontramos a amora-preta.
A amora-preta, embora considerada uma fruta pouco cultivada e usada na nossa região, está presente em algumas
pequenas propriedades. " A cultura da amoreira-preta é destinada aos agricultores familiares, pois é possível
agregação de valor ao produto, aproveitamento da terra e se pode contar com a família no manejo,
poi precisa de bastante mão de obra", orienta a pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira, da Embrapa Clima Temperado,
Pelotas/RS, que trabalhou junto ao lançamento de seis variedades e que vem há muitos anos se dedicando
a novas pesquisas. Através do melhoramento genético da fruta, os estudos possibilitam lançar ao mercado
variedades com características desejáveis para mesa e para indústria.
Por este longo trabalho, a Embrapa é a responsável no país por desenvolver cultivares de amoreira-preta
para a produção comercial. Os estudos de pesquisa em torno da cultura, se iniciaram em 1973, e de lá
prá cá, foram lançadas seis cultivares: Ébano, Negrita, Kaigangue, Guarani, Xavante e Tupy, sendo
esta última, a mais cultivada no mundo.
Antes do término do ano de 2015, a Empresa lança o mais novo produto em fruticultura: a BRS Xingu. Uma
variedade de amoreira-preta que vem atender desejos do agricultor e do consumidor como um período mais tardio de colheita
- cerca de 15 dias a mais que a variedade Tupy - e sabor mais doce. O lançamento vai ocorrer no dia 8 de dezembro,
às 9 horas, nas dependências da sede da unidade de pesquisas, em Pelotas.
A amoreira-preta BRS Xingu
Originária de cruzamento realizado em 2003 entre a cultivar Tupy e a cultivar americana ‘Arapaho', a cultivar
BRS Xingu é bastante semelhante ao seu parental materno, se distinguindo pela maturação um pouco mais
tardia. Em média, a maturação inicia 10 dias depois da cultivar Tupy e o período de colheita se
estende por mais duas semanas, após o final da colheita da cultivar Tupy.
Testada como seleção Black 164, suas plantas têm espinhos nas hastes, as quais são de hábito
semiereto a ereto, não sendo resistentes à ferrugem-da-haste. Segundo a pesquisadora, essa condição
de ser semiereta pode ser identificada como uma dificuldade, sendo necessária a sustentação de arame
para seu desenvolvimento. Quanto a sanidade das plantas, a amoreira não apresentou nenhuma ocorrência, por isso,
não sofreu nenhum tratamento fitossanitário, apenas se usou adubo mineral.
Essa cultivar tem a mesma faixa de adaptação da cultivar Tupy, ou seja, áreas com 200 a 300 horas
de acúmulo de temperatura hibernal abaixo de 7,2 ºC. Entretanto, isso não significa que não possa
se adaptar a outras áreas, apenas que ainda não foram testadas em condições diferentes. A BRS
Xingu, como todas as cultivares de amora-preta, em geral, não se adapta a solos encharcados. "Temos parceiros
para cultivo e adaptação nos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo, assim como temos trabalhos
em conjunto com uma empresa na Escócia, que faz testes em diversos países, como será o caso, da Guatemala
e México. E também nos procuraram para manter contato, uma empresa chilena", contou a pesquisadora.
Na coleção da Embrapa, na média das últimas seis safras, a BRS Xingu produziu 800 g a mais
por planta do que a cultivar Tupy. "Cada planta pode produzir até 3kg por planta. E alguns agricultores colheram
entre 12 a 20 toneladas por hectare", informou.
As frutas são preto-avermelhadas, de tamanho médio a grande e boa firmeza. O sabor é doce-ácido.
Em painéis de análise sensorial, essa seleção foi considerada levemente superior, em aparência
à cultivar Tupy, e semelhante em textura e sabor. As frutas da BRS Xingu tiveram muito boa conservação
pós-colheita. "Elas mantiveram a cor preto-avermelhadas na mesma intensidade, demonstrando que são uma boa opção
para mesa", considerou.
O preço de venda da fruta pelo agricultor para indústria está cotada em cerca de quatro reais o
kilo, enquanto que para a mesa o valor é mais elevado. Muitos são seus usos na culinária, e pode ser
explorada comercialmente. "É possível usar a amora no preparo de sorvetes, tortas, geleias e sucos, e tem algo
ainda não explorado da fruta que é o seu corante natural, podendo ser usado na apresentação de
alimentos, pois a maioria dos corantes alimentícios são artificiais", sugeriu Maria do Carmo.
Após o lançamento da variedade, as mudas poderão ser encontradas junto a viveiristas licenciados
pela Embrapa. Se tiver interesse, acesse a página de cultivares da Embrapa em www.embrapa.br/produtos-e-mercado/cultivares.
Benefícios para saúde
A parte de estudo sobre as propriedades funcionais da fruta são importantes nos dias atuais pelos benefícios
à saúde. Segundo o pesquisador Luis Eduardo Antunes a amoreira-preta apresenta frutas de alta qualidade nutricional
e valor econômico significativo. Elas são ricas em vitamina C e contêm em torno de 85% de água,
10% de carboidratos, elevado conteúdo de minerais, vitaminas do complexo B e A, além de serem fonte de compostos
funcionais, como ácido elágico e antocianinas. Também são ricas em fibras e ácido fólico.
A pesquisadora Márcia Vizzotto explica que estudos comprovam que as frutas da amoreira-preta contêm
ainda ácidos graxos essenciais, como o linoléico e o linolênico. Esses compostos devem ser obtidos através
da dieta e são importantes para regular várias funções do corpo, incluindo pressão arterial,
viscosidade sanguínea, imunidade e resposta inflamatória. Conforme ela, se conhece pouco sobre o valor
nutricional e parâmetros de qualidade das diferentes variedades de amora que foram desenvolvidas/introduzidas no Brasil.
Mas, a Embrapa tem trabalhos recentes que comparam as características físico-químicas de cultivares
de amora-preta já difundidas no Brasil, com seleções que estão sendo desenvolvidas na unidade
de pesquisas. "A amora-preta in natura é altamente nutritiva, apresentando elevado conteúdo de minerais, vitaminas
B, A e cálcio. Uma série de funções e constituintes químicos é relatada na literatura
internacional relacionados às qualidades da amora-preta, estando, entre eles, o ácido elágico, um composto
fenólico que possui funções antioxidante, anti-mutagênica, anticancerígena e além
de ser um potente inibidor da indução química do câncer", comenta. A pesquisadora conduz um trabalho
para quantificar os compostos fenólicos totais e a atividade antioxidante de frutas provenientes de 10 seleções
(com e sem espinho) e quatro cultivares com espinhos de amoreira-preta cultivadas na região Sul do Brasil.
Jornada Técnica da Amora
Além do lançamento da BRS Xingu, o dia 8 de dezembro, também será reservado à discussão
sobre o manejo da cultura. A Embrapa preparou uma jornada técnica durante todo o dia, aonde os especialistas vão
falar sobre as novidades que estão ocorrendo em cada etapa de cultivo da amoreira-preta: sistema de cultivo, manejo
da cultura e propagação, adubação, ocorrência e manejo de pragas e doenças, manejo
da colheita e pós-colheita, seleções avançadas de amora-preta, agregação de valor
e propriedades funcionais e nutracêuticas da fruta. A atividade está marcada no auditório da Embrapa Clima
Temperado.
Produtores de amora em Pelotas
O programa de televisão da Embrapa, o Terra Sul, irá apresentar em sua edição do sábado,
12 de dezembro, a matéria sobre o cultivo da amora na região de Pelotas, aonde o ex-pesquisador da Embrapa e
atualmente agricultor de amoras, Flávio Herter, vai mostrar a sua produção, os cuidados com o manejo
da cultura e as oportunidades de exploração comercial, que o fizeram montar um negócio para oferta de
produtos da agroindústria familiar no centro de Pelotas.
+ CULTIVARES LANÇADAS PELA EMBRAPA
- Ébano
- Negrita
- Kaigangue
- Guarany
- Xavante
- Tupy
** As variedades Ebano, Guarany e Xavante ainda são produzidas
**A Tupy é a mais cultivada no mundo
+ ASPECTOS BUSCADOS PELO MELHORAMENTO DE VARIEDADES DE AMORA
- Sabor (mais doce)
- Extensão de período de colheita
- Sem espinhos
- Porte ereto
- Facilidade para colheita
- Tamanho maior do fruto
- Tamanho menor de sementes
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