Primeira soja transgênica totalmente brasileira chega ao mercado
Publicado em 01/09/2015
A Embrapa e a Basf lançam o Sistema de Produção Cultivance, que representa um marco para a ciência
brasileira por conter a primeira soja geneticamente modificada totalmente desenvolvida no Brasil. A tecnologia combina a utilização
de cultivares de soja com o uso de um herbicida de amplo espectro de ação para o manejo de plantas daninhas
de folhas largas e estreitas.
O sistema atenderá a todas as regiões do País. Porém, nesse primeiro momento, alcançará
oito estados brasileiros de forma parcial: Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Paraná,
Minas Gerais, Rondônia, Bahia e DF. A distribuição leva em consideração as características
das cultivares que serão colocadas no mercado na safra 2015/2016. À medida que houver registros de novas cultivares
de soja, a comercialização será expandida para outros estados. A soja Cultivance está aprovada
para importação em 17 países e na União Europeia.
"É a primeira vez que uma planta de soja geneticamente modificada, completamente desenvolvida no Brasil, desde
o laboratório até a comercialização, entra no mercado, com aprovação nos principais
países importadores dessa importante oleaginosa", destaca Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa.
"Trata-se de uma tecnologia totalmente verde-amarela, desde a concepção à comercialização,
além de ser uma importante e viável alternativa às já existentes", afirma o vice-presidente sênior
da divisão de proteção de cultivos para América Latina da Basf, Eduardo Leduc.
O diferencial está na combinação de variedades geneticamente modificadas e no uso de herbicidas
da classe das imidazolinonas para o controle de plantas daninhas. "Essa ferramenta, ao ser integrada ao sistema de produção
de soja, abre perspectiva para que o produtor brasileiro possa rotacionar herbicidas com diferentes mecanismos de ação
para o manejo de plantas daninhas de difícil controle", explica o pesquisador da Embrapa Soja, Carlos Arrabal Arias.
Ele se refere à possibilidade de o produtor alternar entre diferentes tecnologias para evitar a seleção
de plantas daninhas resistentes.
O Brasil tem atualmente 34 casos de resistência de plantas daninhas. A cada safra, o manejo de espécies
como a buva, o azevém e o capim-amargoso preocupa mais produtores, técnicos e pesquisadores. "Isso porque as
plantas daninhas competem com a soja por luz, água e nutrientes, o que pode reduzir a produtividade", explica o pesquisador
Fernando Adegas, da Embrapa Soja. "Também interferem na eficiência da colheita, no aumento do nível de
impurezas e na umidade dos grãos", relata. Por isso, a expectativa da Embrapa e da Basf é que o Sistema Cultivance
possa ser opção tecnológica para o manejo das áreas afetadas por plantas daninhas de difícil
controle.
Longo trajeto de pesquisa
O desenvolvimento dessa tecnologia levou quase 20 anos, considerando desde a pesquisa em laboratório até
seu registro comercial e chegada ao campo. "Tivemos aproximadamente 35 cientistas envolvidos no desenvolvimento e na geração
de dados que subsidiaram seu processo de liberação comercial no Brasil, isso sem considerar as equipes de apoio
de laboratórios, casas de vegetação e campo", explica Arias.
A Basf possui a patente do gene ahas (gene aceto-hidroxiácido sintase), extraído da planta Arabdopsis thaliana,
que confere tolerância ao herbicida da classe das imidazolinonas. Em 1997, a Basf disponibilizou o gene ahas para a
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), que desenvolveu um método inovador de transformação
vegetal, possibilitando sua introdução no genoma da soja. Segundo Elibio Rech, pesquisador da Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia, a Cultivance é uma demonstração da capacidade e da competência
da ciência e da tecnologia nacionais. "É um produto de alto valor agregado com muito potencial para incrementar
ainda mais o agronegócio brasileiro", afirma. Além disso, é um exemplo prático de alto impacto
envolvendo parceria público- privada e pode contribuir significativamente para consolidar a importância do Brasil
na biotecnologia mundial.
Seguindo rigorosos processos de segurança, a Embrapa Soja (PR) realizou vários cruzamentos genéticos
para obter cultivares com grande potencial produtivo e que expressassem tolerância ao herbicida da classe das imidazolinonas.
Na safra 2006/2007, a Embrapa passou a avaliar como as plantas transgênicas se comportavam no meio ambiente. "Tínhamos
que realizar testes para comprovar a segurança da tecnologia para o meio ambiente, para a saúde humana e animal
e, paralelamente, trabalhar no desenvolvimento de cultivares comerciais de soja", lembra Arias.
No caso da Cultivance, por três safras foram conduzidos experimentos em sete locais do Brasil para avaliar se as
plantas transgênicas tinham padrão de comportamento similar às convencionais. Os pesquisadores compararam
as características gerais da planta, como rendimento, ciclo de desenvolvimento, resistência ao acamamento, altura
de plantas, qualidade de sementes, de óleo, teor de proteína, entre outros.
Além das avaliações realizadas a campo, os produtos geneticamente modificados passam por diversos
testes em laboratório para análise de equivalência nutricional dos grãos e de caracterização
molecular. Para realizar os ensaios a campo, a Embrapa e a Basf solicitaram anualmente à Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) autorização para implantar os experimentos de soja
transgênica. "Depois de aprovado, o experimento passou por constante fiscalização do Ministério
da Agricultura", conta Arias.
Em 2009, a CTNBio aprovou formalmente a comercialização da tecnologia Cultivance no mercado brasileiro.
Em seguida, Basf e Embrapa buscaram aprovação dessa tecnologia em diversos países compradores da soja
brasileira, como China e União Europeia.
Em 2013, foi feito o primeiro registro comercial de uma cultivar do Sistema Cultivance. Embora tenha sido aprovada no
Brasil em dezembro de 2009, as duas empresas desenvolvedoras decidiram aguardar as aprovações dos países
importadores da soja brasileira, como China, Estados Unidos, Japão e, por fim, a União Europeia, para lançar
a tecnologia no Brasil. "Por isso, foram quase 20 anos desde o início da pesquisa conjunta até sua regulamentação
comercial nos principais países compradores da soja brasileira", diz Arias.
A importância da rotação de princípios ativos
O uso excessivo e frequente de um mesmo herbicida na mesma lavoura tem como uma das principais consequências o
aparecimento de plantas daninhas resistentes. Voltado à solução desse problema, o Sistema de Produção
Cultivance chega ao mercado como opção tecnológica para auxiliar os agricultores no manejo de plantas
daninhas resistentes ao glifosato, principal herbicida utilizado atualmente por sojicultores. Entre os 34 casos de resistência
de plantas daninhas a herbicidas registrados no Brasil, alguns são de espécies de buva, azevém, capim-amargoso
e chloris resistentes ao glifosato.
O pesquisador Fernando Adegas, da Embrapa Soja, explica que a seleção de plantas daninhas resistentes a
herbicidas é resultado do uso continuado do mesmo produto na mesma área, sem a rotação de mecanismos
de ação. Ao se usar o mesmo herbicida, por um longo período de tempo, o produto elimina a maioria das
plantas daninhas, mas seleciona as que são mais tolerantes e as resistentes a ele. "A médio e longo prazos,
as plantas resistentes selecionadas aumentam nas lavouras e começam a causar problemas para seu controle", explica.
Mais de 90% dos 31 milhões de hectares cultivados com soja no Brasil utilizam sementes de plantas geneticamente
modificadas para a resistência ao herbicida glifosato. Atualmente, estima-se que a resistência ao glifosato esteja
disseminada em aproximadamente 30% da área geográfica de cultivo de soja. "Isso não significa que todas
as propriedades dentro dessa área de abrangência têm problema de resistência", revela Adegas. "Mesmo
assim é um número alarmante", ressalta.
Nesse cenário, o Cultivance é uma ferramenta a mais para que o produtor brasileiro possa realizar o manejo
das plantas daninhas resistentes ao glifosato, pois utiliza um herbicida de outro mecanismo de ação, do grupo
das imidazolinonas, registrado com o nome de Soyvance Pré. O herbicida deve ser aplicado logo após a semeadura
da soja até o primeiro estágio de desenvolvimento da cultura (estádio V1) na operação denominada
de Plante e Aplique.
"Cada vez mais, será preciso investir em opções de manejo que envolvam a diversificação
de culturas e a rotação de químicos com diferentes mecanismos de ação", explica o chefe-geral
da Embrapa Soja, José Renato Bouças Farias. Nos laboratórios e campos experimentais da Embrapa,
os pesquisadores, em parceria com outras instituições, vêm identificando medidas que podem ser adotadas
para evitar a seleção de populações resistentes e garantir que os agricultores tenham alternativas
eficientes e seguras para controlar as pragas.
Fonte: MT
Agora - Assessoria
A ministra Kátia Abreu (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) participou nesta terça-feira (25),
na sede da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do lançamento do Sistema de Produção
Cultivance®. A nova tecnologia é considerada um marco para a ciência brasileira porque contém a primeira
soja geneticamente modificada totalmente desenvolvida no Brasil, desde as pesquisas em laboratório até a comercialização.
clique para ampliarCultivance® é motivo de orgulho para o país, diz ministra
(Foto: Antônio Araújo/Mapa)
"O Sistema Cultivance® é, antes de tudo, motivo de muito orgulho para todos nós. Representa uma alternativa
especial para o produtor brasileiro porque auxilia no manejo de resistência das plantas daninhas na lavoura de soja",
discursou Kátia Abreu, durante solenidade na sede da Embrapa.
Para a ministra, a rotação de culturas é uma ferramenta importante para auxiliar os agricultores a
obter maior rentabilidade de forma sustentável. “Este produto não vem para tomar o lugar do outro, mas
para fazer uma rotação. É uma forma de dizer que estamos ‘tapeando’ as plantas daninhas.
Além disso, nada melhor que concorrência. Com dois produtos, a tendência é que o preço da
semente caia”, completou.
O Cultivance® foi desenvolvido ao longo de 20 anos por meio de uma cooperação técnica entre a
Embrapa e a empresa Basf. O sistema combina a utilização de cultivares de soja geneticamente modificada com
o uso de um herbicida com amplo espectro de ação para o manejo de plantas daninhas de folhas largas e estreitas.
O resultado é uma opção inovadora disponível aos produtores brasileiros, que passam a contar com
um sistema de rotação de tecnologias para o manejo das pragas da soja.
A ministra destacou ainda que a nova tecnologia também trará benefícios para o consumidor final, já
que o produto poderá chegar mais barato às prateleiras. “Temos que estimular a pesquisa aplicada, aquela
que irá para o campo e trará resultado para o Brasil. Se os produtores conseguirem produzir com mais qualidade
e custo mais baixo, os alimentos chegarão ao mercado com preço menor.”
Aliança para inovação
A ministra ressaltou, durante seu discurso, que um dos principais eixos de atuação do Mapa é a formação
da Aliança Nacional para Inovação Agropecuária. O projeto, que terá a Embrapa como foco,
impulsionará a pesquisa e a inovação no campo por meio de novas fontes de financiamento.
Kátia Abreu afirmou que é necessário dobrar o atual orçamento da Embrapa, que gira em torno
de R$ 3 bilhões, e posteriormente triplicar esse valor. Somente com a tecnologia desenvolvida pela empresa de fixação
biológica do nitrogênio, exemplificou a ministra, o Brasil economiza anualmente R$ 12 bilhões. “Se
a Embrapa fosse hoje cobrar legitimamente como uma empresa privada, esse orçamento deveria ser muitíssimo maior”,
comparou.
"A Aliança para Inovação será um legado, um passo a mais do que a Embrapa deu até aqui",
observou Kátia Abreu, acrescentando que é necessário agregar todas as instituições de pesquisa
voltadas para a agricultura que, segundo a ministra, podem estar "dispersas". "Sob o comando da Embrapa, teremos uma grande
aliança, uma grande rede de pesquisa."
Na avaliação da ministra, a Embrapa deve continuar firmando parcerias produtivas e inovadoras com a iniciativa
privada, nas quais poder público, consumidor e empresários saiam ganhando – a exemplo do projeto Cultivance®
desenvolvido juntamente com a Basf. Esse será um dos focos da Aliança para Inovação, que pretende
captar recursos do mercado para impulsionar a pesquisa na área agropecuária.
“Não queremos ficar distantes da iniciativa privada. Não temos o preconceito de que pesquisa tem que
fi car longe de comércio. Produzimos pesquisa para ser comercializada, democratizada e usada pelas pessoas, sempre
com o objetivo de beneficiar a sociedade, porque é dinheiro público que está por trás também”,
disse Kátia Abreu.
Fonte: MAPA