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Áreas de refúgio: ação para manutenção da produtividade em lavouras com culturas transgênicas

Publicado em 17/08/2015

Um procedimento indicado pela pesquisa tem favorecido as lavouras com culturas transgênicas Bt (Bacillusthuringiensis). As plantas com a tecnologia do gene Bt proporcionam resistência a pragas como as lagartas.
Lavouras com culturas transgênicas do milho, algodão e soja devem ter plantadas também, segundo instituições como a Embrapa, áreas com plantas convencionais não transgênicas. Essas áreas são chamadas de refúgio. O benefício do refúgio é retardar a evolução das populações de insetos resistentes à tecnologia Bt. Dessa forma, as pragas resistentes e prejudiciais às culturas Bt cruzam com outras suscetíveis, gerando insetos sem resistência.
Conforme a pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, de Minas Gerais, Simone Martins Mendes, a área de refúgio tem sido a principal estratégia que os produtores podem utilizar para evitar a quebra de resistência dos transgênicos, possibilitando a manutenção do equilíbrio ecológico e a produtividade das lavouras.
A biotecnologia moderna tem, desde a década de 90, auxiliado no desenvolvimento de sementes que sejam mais adaptadas às condições de cada região agrícola.

Refúgio

Eficácia para a soja intacta

O engenheiro agrônomo, sócio e diretor da MTB Consultoria, Mauro Tadeu Braga da Silva - que recentemente esteve em Bagé no Simpósio Produção de Soja na região da Campanha – declara que as áreas de refúgio são uma das ações mais importantes para o manejo de resistência a insetos (MRI) das variedades de soja Intacta. “O principal benefício das áreas de refúgio é manter uma população de insetos-pragas, alvos da tecnologia, fora da exposição à proteína inseticida Cry1AC, que há dentro da soja Intacta. Essa criação de insetos suscetíveis, quando adultos, podem acasalar com os raros indivíduos resistentes que possam ter sobrevivido na soja Intacta. Assim, a suscetibilidade poderá ser transmitida a gerações futuras e assegurar a eficácia de controle dessa oleaginosa por mais tempo”, explica o engenheiro agrônomo. 
Pela observação do consultor, já na próxima safra de soja, as variedades da Intacta serão usadas em larga escala. Assim, os produtores devem plantar e manter as áreas de refúgio, aconselha Silva. “A preservação e a sustentabilidade da tecnologia vai depender do cumprimento das recomendações de MRI por parte dos produtores, ou seja, a adoção das áreas de refúgio”, salienta o consultor que complementa: “A única maneira de diminuir a frequência de insetos resistentes dentro da população e manter a eficiência da soja Intacta ao longo do tempo é o produtor semear as áreas de refúgio, como preconizam as empresas mantenedoras da tecnologia”, reforça.
 
Ação estratégica

O pesquisador da área de Entomologia, da Embrapa Soja, localizada em Londrina, no Paraná, Adeney de Freitas Bueno também ressalta à reportagem que a adoção do plantio com um cultivar não-Bt de mesmo ciclo, plantado no mesmo dia, de fenologia e características as mais próximas possíveis da cultivar Bt é essencial, visto que a ação garante a preservação da tecnologia por maior tempo possível.
Bueno explica que, para realizar tal procedimento, o produtor deverá reservar 20% do talhão a ser plantado com soja Bt para plantio de soja não-Bt. Sendo assim, pode ocupar, no máximo, 80% de um talhão específico com soja Bt. Os 20% restantes destinados ao plantio de soja não-Bt (refúgio) podem ser na bordadura ou em outra formatação qualquer que facilite as operações agrícolas mecanizadas que deverão ser realizadas, desde que não haja distância superior a 800 metros entre uma planta Bt e uma não-Bt mais próxima.

Confira o modelo

“É lógico que como a soja-Bt hoje existente no mercado está associada Bt e RR2 ou seja, resistência a insetos e ao herbicida, a soja no refúgio terá que ser também RR além de não-Bt para que o herbicida a ser aplicado na soja Bt não ‘queime’ o refúgio. Entretanto, o importante para eficácia do refúgio é que não seja soja Bt e que o produtor não aplique produtos à base de Bt na área de refúgio”, informa o pesquisador.
Questionado se os produtores brasileiros estão adotando de maneira correta as áreas de refúgio, Bueno destaca que, atualmente, não há nenhuma estatística oficial sobre o assunto. “Entretanto, em minha percepção, infelizmente, a adoção do refúgio na soja ainda não tem sido generalizada, o que, se não acontecer muito em breve, poderá colocar em risco essa importante tecnologia. É importante que mais informações sejam levadas até o produtor para um processo de conscientização da importância dessa adoção. Leis e/ou alternativas para garantir a adoção dessa prática também devem ser discutidas em caráter de urgência para garantir a preservação da tecnologia pelo maior tempo possível”, pondera o pesquisador da Embrapa Soja.

Fonte: Folha do Sul

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