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Publicado em 01/04/2015
A pesquisa, realizada no Município de Tomé-Açu, nordeste paraense, avalia o impacto de sistemas agroflorestais com o dendezeiro (palma de óleo) sobre o ciclo de carbono e nutrientes no solo. O alto grau de acúmulo de carbono sugere que o sistema dendezeiro é eficiente para armazenar no solo o carbono que vem da biomassa triturada no preparo de área e da adubação orgânica.
Um dos principais resultados do trabalho é que a mudança de uso da terra resultou em um aumento no estoque de carbono no solo. "Geralmente quando você cultiva uma área que já foi de floresta, há uma perda de carbono no solo, mas neste caso, ele aumentou", explica o pesquisador Steel Vasconcelos, da Embrapa Amazônia Oriental e um dos coordenadores do estudo.
Em praticamente todas as análises, os solos com SAF e dendê, chamado de "dendê biodiverso", apresentaram mais carbono que os solos com SAF tradicional (sem dendezeiro) e floresta secundária. O SAF mais diversificado com dendê acumulou 28% a mais carbono no solo que o SAF tradicional e 23% a mais que a floresta secundária. E o SAF menos diversificado, mas também com dendê, acumulou 34% a mais que o SAF tradicional e 29% a mais que a floresta secundária.
O pesquisador conta que foram avaliados estoques de carbono e nutrientes do solo em SAFs com plantios jovens de dendê, de cerca de dois anos e meio com preparo de área sem a utilização do fogo, baseado em técnica de corte e trituração da floresta secundária, com deposição do material triturado sobre o solo. Esses sistemas foram comparados a uma área remanescente da floresta secundária de dez anos e a um SAFs tradicional de nove anos de idade.
Foram avaliadas amostras de solo em diferentes profundidades e SAFs com diferentes composições de espécies. No geral, os resultados são otimistas para o "dendê biodiverso", segundo o pequisador. Os SAFs com dendê mostraram níveis mais elevados de pH do solo e de nutrientes, como fósforo, potássio, cálcio e magnésio. Assim como concentrações menores de alumínio no solo em relação à área de regeneração florestal, por exemplo.
O próximo passo do trabalho é verificar a permanência dessa substância no solo – carbono - com o passar dos anos e o amadurecimento do sistema. Sabe-se que a dinâmica de entrada e saída de carbono e nutrientes no solo muda com o tempo de vida dos plantios. No futuro, o benefício ao planeta pode resultar em renda extra ao inserir o dendê integrado a SAFs no mercado de créditos de carbono, por exemplo.
O pesquisador Steel Vasconcelos explica que para entender essa dinâmica em longo prazo foi preciso repetir todas as medições feitas em 2010 no ano de 2012, e em breve a pesquisa saberá a magnitude da redução do estoque de carbono ao longo do tempo. "No entanto adianto que os estoques nos SAFs com dendê ainda são mais altos do que na floresta secundária e no SAF tradicional, o que é um ótimo resultado", garante o pesquisador.
"Dendê biodiverso" garante mais sustentabilidade ao solo
Para a pesquisa, a combinação da dendeicultura aos Sistemas Agroflorestais, chamada de "dendê biodiverso", tem potencial sustentável de expansão da atividade na região. "Os SAFs, além de apropriados às características da agricultura familiar na Amazônia, são alternativa sustentável à predominância do modelo da monocultura do dendê", ressalta o pesquisador Osvaldo Kato, da Embrapa Amazônia Oriental.
O modelo de produção de Sistemas Agroflorestais em Tomé-Açu é uma tradição que remonta à década de 1960. Hoje o município faz parte da região considerada pólo de expansão do dendezeiro no estado, o que vem sendo avaliado tanto social como ambientalmente.
No estudo, a pesquisa quantificou os estoques de carbono no solo em plantios de dendê em SAFs, comparando-os a áreas de regeneração florestal (floresta secundária) e a SAFs. As unidades demonstrativas, que são as áreas de experimento, foram instaladas em 2008 na região. Nesses locais, o híbrido intraespecífico - variedade de dendê obtida a partir do cruzamento do dendê africano (Elaeis guineensis Jacq.) com o americano (Elaeis oleifera (Kunth) Cortés) - foi plantado como a principal cultura em dois tipos de SAFs: com maior e menor diversidade de espécies plantadas.
Em ambos os sistemas, as mudas de palma de óleo foram plantadas intercaladas com açaí, cacau, mandioca, além de espécies leguminosas e arbóreas em diferentes variações. Os pesquisadores comemoram os resultados positivos para o acúmulo de carbono e a melhora na fertilidade do solo nesses sistemas. Esse resultado é um indicativo ambiental importante para garantir a sustentabilidade de sistemas de produção. Solos com mais nutrientes e estoques de carbono têm maior longevidade na produção e contribuem na mitigação dos impactos das mudanças climáticas.
Grande potencial econômico
Embora o Brasil ocupe apenas o nono lugar na produção mundial de óleo de dendê e palmiste, é um dos países com o maior potencial para expandir a área agrícola dessa cultura, pois possui solo e condições climáticas locais adequadas. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (2012) mostram que a produção brasileira de óleo de dendê bruto está na ordem de 275 mil toneladas de óleo/ano, e de palmiste (óleo extraído da amêndoa no interior do fruto) entre 20 mil e 23 mil t óleo/ano. Já o consumo interno de óleo de dendê bruto é de aproximadamente 520 mil t óleo/ano e 200 mil t óleo/ano de palmiste.
O cultivo do dendezeiro encontra-se em plena expansão na Amazônia, especialmente no estado do Pará, que é responsável por 90% da produção nacional dessa oleaginosa. De acordo com levantamento da Embrapa, dos 60 mil hectares plantados no Pará em 2008, a área da dendeicultura saltou para 162 mil hectares, em 2014, com destaque para os municípios de Tomé-Açu, Moju, Acará, Tailândia e Concórdia do Pará, no nordeste paraense.
O fenômeno da expansão se deve em parte aos incentivos governamentais para incrementar o mercado de biocombustíveis, como alternativa às fontes não renováveis de energia. Mas a economia do dendê é dominada pela indústria alimentícia, no fornecimento de óleos vegetais livres de gordura trans.
A maior parte da produção mundial (80%) é utilizada pelo setor de alimentos, 10% na indústria química e os outros 10% em bioenergia e biocombustíveis. Na agroindústria alimentar a aplicação do óleo de palma refinado é feita na fabricação de margarinas, biscoitos, maioneses, pães, sorvetes e na produção de chocolate, como substituto da manteiga de cacau. Atualmente, o produto também vem sendo empregado na indústria de sabões, sabonetes, detergentes, velas, produtos farmacêuticos, cosméticos e corantes naturais.
Fonte: Com informações de Embrapa
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