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Publicado em 06/02/2015
O conceito de fitossanidade, relacionado à proteção de plantas do ataque de pragas ou doenças, foi concebido no início do século XX, antes mesmo do aparecimento de tecnologias para controle de organismos que podem causar danos aos vegetais. Entretanto, foi a partir de 1950, com os constantes avanços da ciência, que a inovação passou a ser uma variável central e indispensável nas atividades agropecuárias.
Prevenir e controlar pragas é a função das Organizações Nacionais de Proteção Fitossanitárias ao redor do mundo e no Brasil este trabalho cabe ao Departamento de Sanidade Vegetal. A tarefa é tão difícil quanto a extensão e diversidade da agricultura que se deseja proteger. No caso do Brasil, cujo território tem dimensões continentais, o cenário é ainda mais complexo. Não apenas em virtude da extensão, mas também da heterogeneidade das culturas plantadas no País, que influencia de maneira decisiva o desenvolvimento da agricultura.
À medida que as tecnologias avançam, a prática agrícola fica cada vez mais complexa e, atualmente, deve ainda respeitar os preceitos de sustentabilidade. Com o advento dos produtos fitossanitários para controle de pragas e, mais recentemente, das plantas geneticamente modificadas (GM) foi possível acompanhar essa evolução. Eles trouxeram uma praticidade sem igual ao manejo de pragas em uma agricultura que se torna sistematicamente mais intensiva e profissionalizada como a dos cerrados brasileiros.
A vigilância fitossanitária é uma atividade que integra ações de inteligência, mapeando informações em diversos níveis a fim de simular cenários, definir riscos e ainda agir na proteção às lavouras. Esse processo deve ser conduzido de maneira integrada entre entes públicos e privados por meio de levantamentos e construção de bases de dados sólidas e confiáveis que atendam aos interesses de todo o setor.
As estratégias agronômicas do manejo de pragas, passadas aos técnicos nas disciplinas universitárias, nem sempre refletem a rotina da agricultura. O equilíbrio e a eficiência das tecnologias podem ficar prejudicados caso a teoria e a prática não estejam em sintonia. A não observância da realidade do campo e o consequente não desenvolvimento de políticas e produtos adequados pode, no curto prazo, reduzir as alternativas tecnológicas à disposição dos agricultores, ameaçando e gerando conflito entre os setores do agronegócio. Por exemplo, a ferramenta do refúgio em áreas de plantas GM que expressam proteínas inseticidas é uma das técnicas de manejo para preservação dessas tecnologias. Sua implementação é necessária, assim como o monitoramento de sua adoção, para a efetividade do processo de controle.
A supressão das pragas do complexo de lepidópteras recebeu um importante reforço com as variedades transgênicas que expressam toxinas Bt. Essa inovação trouxe praticidade e competividade para quem planta soja, milho e algodão. Entretanto, a pressão de seleção ocasionada pelo uso contínuo e indiscriminado dessa ferramenta pode fazer com que os indivíduos que são naturalmente resistentes sobrevivam e se tornem maioria na população após algumas gerações. Por que, então, o refúgio é uma estratégia de defesa sanitária? Porque o cultivo de uma parcela da área com plantas não-Bt mantém a população de insetos suscetíveis. Por conseguinte, é o tema mais relevante para os órgãos de defesa agropecuária e perpassa conceitos técnicos de uso, eficiência e durabilidade da tecnologia, em uma relação nem sempre simples e autorregulada pelo próprio mercado. Fato é que todas as ferramentas de controle de pragas têm um mesmo fim: a defesa da agricultura.
Academia, poder público e empresas estão dispostos a servir a quem mais precisa da tecnologia e das boas práticas: o agricultor. O papel do Estado se concentra na educação fitossanitária, no estimulo da discussão a partir de critérios científicos e na harmonização do discurso para um setor que não suporta mais rupturas tecnológicas.
Nossa legislação de defesa sanitária vegetal é de 1934 e está desatualizada. Para a definição de novos marcos regulatórios sobre o assunto, é necessária uma ampla discussão, cabendo ao Estado atuar na fiscalização. O manejo de pragas é um dever de todos na agricultura e uma questão que depende de um esforço conjunto que só o Estado pode coordenar por meio da Defesa Agropecuária, incluída na Política Fitossanitária Nacional.
Fonte: CIB / Texto originalmente publicado na edição de fevereiro de 2015 da revista AgroAnalysis.
*Luís Eduardo Pacifici Rangel é Engenheiro Agrônomo e Fiscal Federal Agropecuário, Mestre em Fitotecnia e Especialista em Agronegócios pela UnB, Diretor de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA
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