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Publicado em 09/12/2014
Nos últimos dez anos, o Brasil registrou um prejuízo de cerca de 27 bilhões de dólares na produção de soja apenas em dois dos mais importantes estados produtores da oleaginosa: Rio Grande do Sul e Paraná, onde as plantações da oleaginosa deixaram de produzir mais de 55 milhões de toneladas. Para se ter uma ideia, os grãos perdidos no período de 2004 e 2014 representam mais de duas safras de soja da região Sul do Brasil.
O motivo? Faltou água para que as plantas pudessem se desenvolver plenamente.
Não é sem razão que os pesquisadores especialistas em ecofisiologia vegetal da Embrapa Soja (Londrina, PR) estão em busca de uma planta capaz de resistir às intempéries do clima que podem se repetir com mais severidade nos próximos anos.
Por meio da manipulação genética, os pesquisadores conseguiram introduzir um gene que torna a planta mais tolerante à seca. Quem está à frente dessa pesquisa é Alexandre Nepomuceno, daquela Unidade, que explica: "Denominado Y, esse gene é capaz de ativar e potencializar outros genes de defesa natural das plantas. Com isso aumenta a capacidade de as plantas suportarem a falta de água por mais tempo. O gene Y foi patenteado pela Japan International Research Center for Agricultural Sciences (Jircas) − instituto de pesquisa vinculado ao governo japonês – e isolado da planta Arabidopsis thaliana − uma das espécies mais utilizadas na pesquisa científica atualmente. Apesar de não apresentar importância econômica direta, a espécie é muito utilizada em pesquisas na área da genética, da bioquímica e da fisiologia.
Os primeiros resultados
Pela primeira vez, na safra 2013/2014, as plantas de soja com o gene Y foram comparadas com plantas de carga genética similar, porém, sem o gene que confere tolerância à seca. A pesquisa foi realizada nos campos experimentais de Londrina. "As plantas com o gene Y tiveram aumento de 13,5% na produtividade quando comparadas com as não transgênicas", explica Nepomuceno.
Segundo o pesquisador, na safra 2013/2014, choveu muito pouco na fase mais crítica do desenvolvimento das plantas de soja. Foram registrados apenas 44 mm entre janeiro e fevereiro, quando a média histórica para o período é superior a 300 mm. Aliado à falta de chuva, as temperaturas no verão foram muito extremas chegando, em alguns momentos, a quase 40°C. "Mesmo assim, as plantas com o gene Y tiveram mais área foliar, produziram vagem e tiveram raízes profundas e vigorosas, comparando-se com as plantas sem o gene", observa. "Os resultados foram impressionantes", ressalta o pesquisador.
Outro teste de simulação de seca foi realizado pelo pesquisador no campo utilizando telhados móveis para simular pequenas quantidades de chuva durante o período vegetativo da soja. O resultado foi ainda mais animador: a produtividade das plantas com gene Y foi 35% superior, enquanto que com déficit no período reprodutivo, a diferença chegou a 44%. O mesmo teste será realizado nesta safra e abrangerá outras regiões brasileiras.
Além disso, a Embrapa está iniciando testes com 33 novos genes de soja com potencial para tolerância à seca e para alagamento. Nepomuceno considera difícil estimar o tempo de lançamento de cultivares resistentes às intempéries climáticas.
Desde 1993, a Embrapa Soja vem desenvolvendo pesquisas na área de biotecnologia e, atualmente, tem uma estrutura básica para fazer sequenciamento de DNA, identificação e mecanismos de atuação de cada gene da planta, além da clonagem e transformação de plantas. "Mesmo assim, algumas vezes, precisamos terceirizar serviços mais complexos que não podem ser feitos nos nossos laboratórios", explica Nepomuceno.
O roadmapping da Rota Estratégica em Biotecnologia Agrícola e Florestal tem como uma das visões de futuro para a indústria paranaense tornar-se referência em Genética e Melhoramento Vegetal. Pesquisas como esta da Embrapa estimulam e influencia o fator crítico Pesquisa, Desenvolvimento, Tecnologia e Inovação.
Leia a reportagem na íntegra aqui.
Fonte: Embrapa
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