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Publicado em 16/08/2013
Após aproximadamente 10 anos de uso de transgênicos no Brasil, a tecnologia amplamente difundida no país, em especial para as culturas de soja, algodão e milho, apresenta sinais de redução na sua efetividade de resistência a pragas e doenças. Empresas de biotecnologia continuam investindo no desenvolvimento de novos produtos, com a promessa de serem mais eficientes do que os atualmente existentes no mercado (leia). Por outro lado, críticos alertam para possíveis riscos à saúde – humana e animal – devido ao consumo de organismos geneticamente modificados (OGMs). Além de considerar possíveis efeitos negativos sobre a saúde pelo consumo de OGMs, cresce a preocupação com o aumento do uso de agrotóxicos nas lavouras transgênicas, incluindo produtos com classificação toxicológica duvidosa.
Um relatório, publicado em julho de 2013 pelo NEAD (Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural / Ministério do Desenvolvimento Agrário) e realizado com o apoio da FAO (Órgão das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), traz uma síntese das descobertas publicadas na literatura científica. O estudo foca por um lado sobre os riscos gerais ligados ao próprio processo de transgenia, e por outro sobre os riscos relacionados ao consumo de plantas que sintetizam uma toxina Bt (tóxica a lagartas) e/ou toleram altas doses de herbicidas – juntos, esses dois tipos de plantas representam quase a totalidade dos transgênicos plantados no mundo. O documento intitulado “Levantamento e análise de estudos e dados técnicos referentes ao consumo de plantas transgênicas: o caso do NK603”, é de autoria do pesquisador Gilles Ferment, consultor do NEAD.
Gilles Ferment aponta que já existem mais de 100 estudos de toxicidade focados no consumo de ração à base de diferentes plantas transgênicas. Um dado importante obtido da avaliação dos estudos é que, embora exista um equilíbrio entre os estudos que apontam para riscos para a saúde e aqueles que concluem pela ausência de riscos, a maioria dos estudos que consideram as plantas transgênicas avaliadas tão seguras quanto as plantas convencionais foram realizados pelas empresas de biotecnologia que comercializam esses produtos.
Na parte do relatório dedicada aos riscos específicos associados ao consumo de plantas geneticamente modificadas para produzir uma toxina inseticida Bt, têm destaque as evidências científicas demonstrando que, ao contrário do que alegam a indústria e os cientistas defensores da tecnologia, essas proteínas são biologicamente ativas em humanos que consomem as plantas Bt. O autor acrescenta que a maioria dos estudos toxicológicos realizados com cobaias animais disponíveis na literatura científica aponta para a existência de perturbações metabólicas e/ou fisiológicas relacionadas ao consumo de plantas inseticidas.
Entre os riscos específicos associados ao consumo de plantas geneticamente modificadas para tolerar altas doses de herbicidas detalhados pelo autor está, em primeiro lugar, o significativo aumento do volume de herbicidas verificado nessas lavouras e o consequente aumento do consumo de resíduos de herbicidas pelos humanos. Ferment destaca em seguida a questão da subestimação da classificação toxicológica dos herbicidas a base de glifosato, uma vez que já existem atualmente na literatura científica dezenas de estudos que apontam danos toxicológicos em animais ou em células humanas associados ao contato com o glifosato e suas formulações comerciais como o Roundup, tais como perturbações metabólicas e endócrinas.
O autor também fez uma análise aprofundada do polêmico estudo francês, com ratos alimentados com produtos transgênicos (Séralini et al, 2012). Ferment ressalta que a pesquisa francesa de toxicologia (Séralini et al, 2012) foi a única até hoje a analisar os efeitos do consumo de um milho transgênico HT durante período correspondente à vida inteira de um animal modelo (neste caso, o rato). Ferment discute ainda a polêmica que se seguiu à publicação do estudo, aprofundando questões como escolha da raça de ratos utilizada, o número de animais usados nos experimentos e a metodologia estatística empregada.
Por fim, Ferment aborda o processo que levou à liberação comercial do milho NK603 no Brasil em 2008, a despeito de terem sido apresentados vários pareceres contrários à liberação e críticas de membros da própria CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). A maioria das críticas apontava a ausência de provas científicas a respeito da inocuidade do produto para o meio ambiente e a saúde pública. O milho foi aprovado apesar dos votos contrários dos representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do Ministério da Saúde e dos representantes da sociedade civil para o meio ambiente e a saúde.
Ferment destaca que, após a publicação do artigo de Séralini, várias entidades da sociedade civil solicitaram aos poderes públicos a reavaliação do milho NK603 no Brasil, mas que, por 14 votos contra 4, a CTNBio rejeitou tanto a reavaliação quanto a suspensão do cultivo comercial dessa variedade. O autor observa que processos idênticos aconteceram em vários países do mundo.
A grande novidade decorrente da divulgação do estudo de Séralini foi a recente publicação de um edital pela União Europeia, no valor de 3 milhões de euros, com o objetivo conduzir uma pesquisa sobre efeitos carcinogênicos desse milho transgênico.
Fonte: Fórum Ambientalista, Ministério do Planejamento
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