12/05/2008

Ideb

Na educação, interior bate capitais

Na educação, interior bate capitais

Curitiba aparece em primeiro lugar entre as capitais no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, mas perde para 449 municípios menores

Cidades pequenas batem as capitais em qualidade em ensino. É o que mostra, de forma geral, a comparação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) entre os municípios brasileiros. Curitiba ficou em primeiro lugar entre as capitais, com Ideb de 4,7 (numa escala que varia de zero a dez). Contudo, a capital paranaense vem depois de outros 449 municípios menores no ranking geral. Destes, 43 são do Paraná.

Mesmo bem colocada entre as capitais, Curitiba perdeu feio para municípios que não chegam a ter 3 mil habitantes, como Ivatuba, no Norte do Paraná, com Ideb de 6. A “zebra” foi mais nítida em outras capitais brasileiras, que mostraram esse descompasso de forma ainda mais radical. Rio de Janeiro, por exemplo, é a capital com o terceiro melhor desempenho, mas ficou em 1.058º no ranking geral. São Paulo é a nona entre as capitais, mas está na 1.342ª posição quando comparada aos outros municípios brasileiros. Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, ficou em 1.962º lugar. (Veja infográfico ao lado)

De acordo com especialistas do setor, menos estresse, população mais homogênea, mais envolvimento da comunidade e facilidade de gestão podem explicar esse desempenho dos municípios pequenos.“A vida e a organização socioeconômica nas capitais é mais complexa que nas cidades menores. A organização das redes públicas de ensino nas capitais é mais complexa. Em grandes cidades, há um contexto de população mais diverso que nas cidades menores”, analisa o diretor de concepções e orientações curriculares da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Marcelo Soares Pereira da Silva.

Segundo a secretária municipal de Educação de Curitiba, Eleonora Fruet, a falta de homogeneidade pode explicar as dificuldades enfrentadas pelas capitais. “Por mais que se faça investimento, o resultado nem sempre acaba acontecendo. A tendência é que em municípios menores existam diferenças menores e o controle seja maior. Em Curitiba, tivemos escolas com Ideb 6,3, mas também com Ideb 3”, explica.

A diretora do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e doutoranda em educação, Maria Sílvia Bacila, tem uma opinião semelhante. “Dentro de Curitiba, escolas centrais acabam tendo o Ideb maior do que de bolsões de pobreza da periferia, o que interfere na soma dos resultados. Cidades menores sem bolsão de pobreza levam vantagem. Mas não dá para culpar só a pobreza. Tem outras questões envolvidas, como formação de professores, estrutura, gestão, etc”, analisa.

Para a mestre em Educação Laura Monte Serrat Barbosa, as relações acabam influenciando mais que o dinheiro nos resultados obtidos. “Ter mais dinheiro não significa que ele é repassado para a ação educativa. Pode até se ter infra-estrutura, mas não adianta se não houver investimento em relações de qualidade, em que as relações de aprendizagem podem acontecer melhor. A aprendizagem acontece numa relação mais intimista e não na massa”, avalia

As diferenças nas relações também foram citadas pela superintendente da Secretaria de Estado de Educação, Yvelise Arco-Verde. “Lidar com a educação na capital é diferente do que nas escolas do resto do estado, principalmente nos municípios menores, em que há um controle social mais intenso, mesmo implícito. A capital tende a tornar as pessoas meio invisíveis”, afirma

De acordo com Yvelise, nos municípios menores, as relações profissionais tendem a ser mais intensas, já que professores e diretores de escolas são conhecidos da comunidade. “Há mais participação da comunidade, com os pais cobrando mais”, diz. Contudo, de acordo com ela, a regra não é geral. “Tenho municípios pequenos com índices ruins. Há outros questões envolvidas: fatores históricos, processos de gestão, entre outros”, explica.

“Para 10, ainda faltam 4 pontos”

Uma cidade com apenas 2,7 mil habitantes, no Norte do Paraná, tem qualidade de ensino de primeiro mundo. Ivatuba, localizada a 40 quilômetros ao sul de Maringá, foi avaliada com um Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) de 6 (dentre 10 pontos possíveis), valor considerado pelo Ministério de Educação (MEC) como nível de países desenvolvidos.

Essa nota coloca Ivatuba em primeiro lugar entre os 399 municípios paranaenses e em nono entre os mais de 5 mil brasileiros. A cidade com melhor desempenho nacional é Barra do Chapéu, no interior de São Paulo. O município, com 5 mil habitantes, atingiu 6,8 pontos.

Mesmo com um índice elevado, acima da média nacional (3,8) e de Curitiba (4,7), a secretária de Educação do pequeno município paranaense não está satisfeita com o resultado. “Não consideramos 6 alto. Porque, para 10, ainda faltam 4 pontos”, diz Maria Aparecida Trevisan Zanoni.

O sucesso da cidade está no comprometimento dos administradores, dos professores e dos pais dos alunos da única instituição de ensino infantil municipal, a Escola Afrânio Peixoto, que oferece turmas desde a creche até a 4ª série do Ensino Fundamental. Além disso, o aperfeiçoamento dos profissionais envolvidos com as crianças é constante. “Temos um planejamento para o ano todo e diversos programas de aprimoramento de professores e funcionários”, diz Maria Aparecida. Um deles é o projeto “A educação sob o olhar do cinema”. Dois sábados por mês um professor universitário de Maringá passa a manhã com os professores para discutir o tema.

Há também, uma vez por mês, palestras com profissionais de diferentes áreas, como Nutrição, Pedagogia e Psicologia, a todos os 50 funcionários da escola para que eles saibam trabalhar com os alunos no dia-a-dia.

Maria Aparecida ressalta que o trabalho com os pais também é muito forte para que nenhuma criança fique para trás no processo de aprendizagem. “Nós trabalhamos com a inclusão. Se alguma criança tem dificuldade para aprender, nós nos dedicamos a isso para que ela volte a acompanhar as demais”, diz.

O projeto pedagógico é montado por uma equipe de professores da própria escola com o apoio de uma professora de pedagogia da Universidade Estadual de Maringá (UEM). A escola também se preocupa com a formação social das crianças. “Abordamos com os professores e os pais temas sobre saúde e comunidade. E os professores, já capacitados, podem orientar os alunos da 4ª serie sobre educação sexual.”

Silvana Camargo Mezavila, mãe de Vinícius, de 9 anos e aluno da 4ª série na escola, diz que um dos pontos fortes é o incentivo à leitura. “O Vinícius sempre estudou aqui e aprendeu a ler bem cedo. Tanto a escola quanto os projetos aqui desenvolvidos são muito bons”, diz a mãe. Ela elogia o trabalho feito com os pais. “Nós percebemos na reuniões de pais e mestres o empenho dos professores no desenvolvimento do ensino aqui.”

No próximo ano, o menino terá de estudar na outra escola da cidade, o Colégio Estadual São Francisco de Assis, que é administrado pelo estado e não pelo município. “Espero que lá, ele encontre a mesma qualidade de ensino daqui. Não gostaria de ter de colocá-lo em outra escola de outra cidade”, revela Silvana.

Meta é o índice 6, até 2022

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) baseia-se na lógica de que o sistema de ensino ideal é aquele em que os estudantes tenham acesso ao ensino, não desperdicem tempo com repetências, não abandonem a escola e aprendam. O índice é calculado com base em dois tipos de informação: rendimento escolar (aprovação, reprovação e abandono) do Censo Escolar de Educação Básica e desempenho dos estudantes no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e Prova Brasil.

Essa combinação entre fluxo e aprendizagem pode variar entre zero e dez. A partir de 6, o sistema educacional é considerado semelhante ao de países desenvolvidos, segundo o Ministério da Educação (MEC). O Ideb do Brasil, hoje, é de 3,8. A meta é que até 2022 (ano do bicentenário da Independência do Brasil) o país atinja Ideb de 6.

O índice avalia a educação básica, que compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. Embora o Ideb seja medido separadamente nos anos iniciais e finais do ensino fundamental e do ensino médio, o índice utilizado pelo MEC para efeitos de comparação é o dos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Fonte: Gazeta do Povo

Deixe seu comentário





Site Seu blog ou p�gina pessoal


1. Os sites do Sistema Fiep incentivam a pr�tica do debate respons�vel. S�o abertos a todo tipo de opini�o. Mas n�o aceitam ofensas. Ser�o deletados coment�rios contendo insulto, difama��o ou manifesta��es de �dio e preconceito;
2. S�o um espa�o para troca de id�ias, e todo leitor deve se sentir � vontade para expressar a sua. N�o ser�o tolerados ataques pessoais, amea�as, exposi��o da privacidade alheia, persegui��es (cyber-bullying) e qualquer outro tipo de constrangimento;
3. Incentivamos o leitor a tomar responsabilidade pelo teor de seus coment�rios e pelo impacto por ele causado; informa��es equivocadas devem ser corrigidas, e mal entendidos, desfeitos;
4. Defendemos discuss�es transparentes, mas os sites do Sistema Fiep n�o se disp�em a servir de plataforma de propaganda ou proselitismo, de qualquer natureza. e
5. Dos leitores, n�o se cobra que concordem, mas que respeitem e admitam diverg�ncias, que acreditamos pr�prias de qualquer debate de id�ias.

 Aceito receber comunica��o da Fiep e seus parceiros por e-mail
 
Nós Podemos Paraná - Av. Comendador Franco, 1341 - Jardim Botânico - 80215-090 - Curitiba/PR - Fone: 41 3271-7692