28/04/2008

Disparidade

Os extremos da educação pública

Os extremos da educação pública

Qual a diferença entre as redes municipais de ensino de uma cidade com o pior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do estado e de outra que tinha tudo para obter baixo desempenho e se transformou num dos 37 exemplos do país?

Foi essa questão que a reportagem da Gazeta do Povo tentou responder ao visitar os municípios de Nova América da Colina, no Norte Pioneiro, o menor Ideb do Paraná, e Realeza, na Região Sudoeste, um dos municípios citados numa pesquisa feita pela Unicef que aponta modelos brasileiros de gestão em educação pública. São redes de ensino que conseguiram bons resultados com soluções simples.

Na semana passada, a reportagem cruzou o Norte Pioneiro do estado em quatro dias, rodou 1.852 quilômetros e observou o funcionamento da rede de ensino dos dois municípios. Além da estrutura das escolas, a diferença dos resultados obtidos está no olhar das crianças, nas perspectivas de desenvolvimento, nas questões sociais e no envolvimento dos gestores.

Criatividade e economia em todos os detalhes

Maicon da Silva, 11 anos, estudante da 5ª série e morador da localidade de São Roque, área rural do município de Realeza, no Sudoeste do estado, já teve medo de não conseguir freqüentar a escola. “Quando chovia era difícil o transporte escolar chegar perto da minha casa. Já perdi muitas aulas por isso, mas nunca cheguei a reprovar”, diz. A irmã mais nova dele, Carolina, 8 anos, aluna da 3ª série, nunca passou pelo problema.

A solução para o transporte escolar no município não envolveu grandes custos e nem obras de engenharia. Desde o início deste ano, um ônibus biarticulado, cedido em contrato de comodato pela prefeitura de Curitiba, é utilizado exclusivamente para transportar os estudantes de escolas públicas da cidade, tanto da rede estadual quanto da municipal. Uma estação-tubo veio de parceria semelhante com o município de Foz do Iguaçu. Essa política de apostar na melhoria da qualidade de ensino utilizando o mínimo de recursos é a tônica da administração de Realeza, que não se contenta com o Ideb 5,0 – acima da média nacional (3,8) e igual a média estadual. A educação do município não possui o maior índice do Paraná, mas as soluções adotadas estão entre as mais citadas na pesquisa feita pelo Unicef sobre 37 práticas de educação bem-sucedidas em locais que também convivem diariamente com problemas sociais. “Estamos sempre trabalhando para melhorar cada vez mais”, diz a secretária de educação, Tânia Lotici Rodoy.

Criatividade

Projetos criativos não faltam. A começar pelo “minhocão” – apelido carinhoso do biarticulado nas redondezas –, onde entram também os motoristas de cinco linhas alimentadoras (as vans que levam as crianças até as localidades rurais). O biarticulado roda 11 quilômetros na estrada que dá acesso ao município, a PR-182. Para economizar, o motorista mora nas proximidades do ponto final e só retorna com o minhocão no dia seguinte. Para evitar problemas de acesso às vilas rurais, a prefeitura investiu recuperação das estradas, sem sair do orçamento da educação. “A diferença é que usamos mesmo os 25% do orçamento municipal destinado à educação. Aplicamos o dinheiro para o fim ao qual foi destinado”, comenta o prefeito Eduardo André Gaieviski.

O básico bem feito leva uma dose generosa de cuidado com cada detalhe. Na rotina escolar de Realeza é comum motoristas apanharem crianças nas escolas para irem ao dentista, fonoaudiólogo, psicólogo, entre outros serviços de saúde. Em algumas escolas, o consultório do dentista fica ao lado das salas de aula.

Neste ano o município ampliou a oferta de educação integral e abriu turmas de 5ª série nas duas escolas rurais existentes. O incentivo à leitura também é outro ponto forte. Há “baús do conhecimento”, com livros que aguçam a curiosidade das crianças, e visitas constantes à biblioteca municipal, além de tomadas de leitura periódicas.

As oficinas de artesanatos também são bem disputadas. Meninos e meninas fazem materiais em crochê, fuxico, tricô e reciclagem. A produção fica exposta no centro da cidade e a venda dos produtos financia a compra dos materiais necessários para a confecção dos trabalhos.

Falta de escolas rurais contribui para evasão

Ir para a escola é algo imprevisível para Gabriele Cristina Ramos, 8 anos, moradora da área rural do município de Nova América da Colina, no Norte Pioneiro. Não por falta de vontade, mas pela dificuldade de acesso. Por causa das faltas, não conseguiu acompanhar os colegas no ano passado e reprovou a 2ª série do ensino fundamental. O transporte escolar nem sempre chega ao sítio onde mora. “Quando chove já nem me arrumo mesmo porque sei que não vou para a escola. Fico triste com isso”, diz.

Além dos problemas do transporte escolar, a educação de Nova América da Colina enfrenta outros desafios. O município tem o pior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Paraná e está entre os dez mais baixos do país. Na avaliação feita pelo Ministério da Educação em 2005, os alunos das séries iniciais do ensino fundamental obtiveram a nota 1,2. O índice está bem abaixo da média nacional (3,8) e da estadual (5,0).

As mudanças na qualidade da educação em Nova América da Colina precisam contemplar outros setores da sociedade. Sem políticas de fixação dos trabalhadores no campo, cerca de 30% das crianças matriculadas acabam deixando as salas de aulas nessa época do ano para acompanhar os pais nas colheitas de café em fazendas dos estados de São Paulo e Minas Gerais. “Geralmente retornam em setembro e muitos ficam todo esse período sem estudar, o que gera atrasos a muitos alunos”, avalia a diretora Maria Imaculada Cardoso. A Escola Municipal Francisco Scorsin é uma das duas que funcionam na cidade, atende cerca de 360 alunos de 1ª a 4ª séries e atende no mesmo prédio do colégio estadual, com turmas de 5ª a 8ª séries e ensino médio.

Os irmãos Maiara Lopes Ribeiro, 10 anos, e Paulo César, 13 anos, convivem com a incerteza sobre sua rotina escolar. “Meu pai ainda está trabalhando na colheita de milho e quer que a gente vá para outra fazenda em Minas. Minha mãe não quer ir

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