Brasil longe da sustentabilidade
País precisa reverter a perda de recursos ambientais, reduzir o número de pessoas sem água e esgoto
e melhorar as condições de habitação
Entre os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, três estão mais longe de ser alcançados, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Um deles é o que busca garantir a sustentabilidade ambiental. O Brasil teria atingido, até agora, 50% de suas metas, que consistem basicamente em reverter a perda de recursos ambientais; reduzir pela metade, até 2015, o número de pessoas sem acesso à água tratada e esgoto; e melhorar as condições de moradia, até 2020, de pelo menos 100 milhões de brasileiros.
Clóvis Borges, diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), critica essa expectativa de resultados numéricos. Ele sugere que é preciso sair do genérico, da superficialidade, e atingir metas mais pontuais, urgentes. “O problema é que os políticos não conseguem ver a agenda ambiental como algo sério”, completa.
Borges, que trabalha desde 1982 com conservação, afirma que a prioridade no Paraná deve ser a conservação das últimas áreas naturais. Segundo ele, as regiões Sul e Sudeste do Brasil não têm mais do que 3% de áreas bem conservadas. No Paraná, tem o 1% que se refere ao Parque Nacional do Iguaçu e 2% que se referem ao litoral e Serra do Mar, lembra.
Os números apontam avanços na conquista da meta, mas Borges não vê situação semelhante no Paraná. De acordo com ele, de 2000 para cá, quando foram estipulados os objetivos do Milênio, o Paraná passou de 0,8% de remanescentes de florestas de araucária em bom estado, em 2001, para 0,4% em 2008. “Não acredito que sem incentivos financeiros seja possível garantir a conservação das áreas naturais”, diz. Ele defende que o governo faça isso, já que nas décadas de 1960 e 1970 houve incentivo de atividades agrícolas que exigiram a destruição de florestas.
Combinar o desenvolvimento econômico com o uso sustentável dos recursos naturais é um dos maiores desafios para alcançar o objetivo de garantir a sustentabilidade ambiental. Borges lembra que os serviços ambientais (água, controle climático e qualidade do solo) são a base para a economia funcionar. “Mas a sociedade não relaciona a conservação com o sucesso dos negócios”, afirma o diretor da SPVS.
Sem dados
A coordenadora executiva do Observatório Regional Base de Indicadores de Sustentabilidade (Orbis), que monitora a evolução dos indicadores, Luciana Brenner, explica que é muito difícil acompanhar o desempenho dos indicadores deste item dos objetivos do Milênio porque as informações não são facilmente localizadas. “Não estão disponíveis como em outras áreas”, compara.
Sobre o problema do desmatamento, Luciana lembra que quando foram estipulados os objetivos, em 2000, as matas já não existiam mais no Paraná para que fossem preservadas. Esta situação, de acordo com ela, vem desde 1991. O desmatamento, completa, começou no início do século passado e agora o estado é essencialmente agrícola. “Já Amazonas e Pará estão perdendo agora suas matas”, afirma Luciana.
Um documento produzido pelo Orbis mostra que dos ambientes originais de formação de florestas, campos naturais e cerrados que ocupavam 99,5% do território paranaense, restam apenas cerca de 8%, segundo estudo feito pelo Instituto SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Quanto às áreas protegidas para manter a diversidade biológica, existem no estado 364 Unidades de Conservação, representando 15% do território paranaense, com mais de 3 milhões de hectares.
No Brasil, a área coberta por florestas nativas abrange cerca de 4,6 milhões de quilômetros quadrados, o que corresponde a 54,2% do território nacional. As florestas concentram-se principalmente na Amazônia (74%), cerrado (16,3%) e Mata Atlântica (5%). Esses dados estão no documento Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – Relatório Nacional de Acompanhamento 2007, feito pelo governo federal.
Na Amazônia Legal brasileira (Acre, Amazônia, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Pará, Amapá, Tocantins e parte do Maranhão), o auge do desmatamento ocorreu entre 1994 e 1995. Nos dois anos seguintes houve uma redução na derrubada, que voltou a crescer até 2004. A partir daí o desflorestamento caiu significativamente.
Fonte: Gazeta do Povo
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