Alunos de quarta série têm nível equivalente ao da primeira
Estudo do INEP revela que escolaridade é melhor no Sul e Sudeste. Um terço dos estudantes brasileiros de
4.ª série não sabe interpretar o enunciado de uma questão
Uma pesquisa ainda inédita preparada pelo Instituto de Estatísticas
e Pesquisas Educacionais (Inep), ligado ao Ministério da Educação, revelou oficialmente o que outros
estudos já haviam apontado: um terço das crianças brasileiras matriculadas na 4.ª série do
ensino fundamental não sabe nem sequer o que deveriam ter aprendido ao final do 1.º ano de escola.
Essa verdadeira tragédia que se passa nas salas de aula brasileiras confirma que as diferenças regionais – econômicas e sociais – influenciam diretamente na escolaridade: no Sudeste (25,1%) e no Sul (24,9%), regiões mais ricas do país, o percentual de crianças com padrão abaixo da média é menor do que nas regiões Nordeste (50%) e Centro Oeste (31,4%), mais pobres.
Pela primeira vez, o ministério criou parâmetros para dizer objetivamente o que um aluno deve saber em cada nível de escolaridade. A conclusão é que parte das crianças vai à escola, mas isso está longe de significar que elas estão aprendendo.
A base do estudo são os resultados da chamada Provinha Brasil, a primeira avaliação de alfabetização feita no país, que começa a ser repassada para os estados neste mês. Para poder dizer a cada Secretaria de Educação se seus alunos sabem o que deveriam saber ao final da alfabetização, foi criada uma escala com cinco níveis (leia box).
O quarto nível, em que um estudante deve ser capaz de ler textos curtos com vocabulário comum na escola, foi considerado pelo Inep como o ideal para um menino de, normalmente, oito anos que esteja terminando a 1.ª série primária – ou o 2.º ano, na nova metodologia do ensino fundamental de nove anos.
A comparação dessa escala com a do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) – a avaliação da 4.ª e 8.ª séries do fundamental e 3.º ano do ensino médio, feita a cada dois anos – mostra que esse quarto nível corresponde de forma muito aproximada à pontuação 125 a 150.
Porém, na 4.ª série (ou, agora, o 5.º ano do fundamental), um terço dos estudantes brasileiros avaliados em 2005 não passou desse nível. Se forem consideradas apenas as escolas públicas – descontadas as federais, que costumam puxar as notas para cima –, esse índice ainda fica um pouco pior: 33,3%. Nas redes municipais chega a 35%.
São crianças terminando a 4.ª série, prestes a entrar em um mundo escolar mais complexo, e que não conseguem entender o enunciado de uma questão ou mesmo uma historinha mais longa. E essa realidade fica ainda pior quando se olham as diferenças regionais.
No Rio Grande do Norte, quase 60% estão nessa situação. Mesmo em São Paulo, o estado mais rico do país, são 28,7% dos estudantes.
A escala preparada pelo Inep ainda permite calcular qual seria a pontuação ideal de um estudante da 4.ª série/5.º ano do fundamental. Entre 200 e 210 pontos, seguindo a progressão natural do aprendizado.
A nova escala do Inep
A escala do Inep para avaliar a Provinha Brasil tem 5 níveis e pontos objetivos. Para considerar um aluno alfabetizado,
a escala espera que ele chegue ao nível 4, que consiste em:
• Saber ler textos de 8 a 10 linhas e vocabulário simples;
• Localizar informações;
• Entender qual é o assunto do texto e sua finalidade;
• Identificar o tipo de texto (um bilhete, uma piada);
• Identificar elementos como tempo, espaço e personagem;
Para esse nível, é preciso acertar 21 ou 22 das 24 questões do Provinha Brasil (125 a 150 pontos no Saeb).
No nível 3, 100 a 125; no 2, 75 a 100; no 1, menos de 75 pontos.
MEC vai avaliar alfabetização
Estados e municípios começarão a receber na próxima semana o material para realizarem a Provinha
Brasil, a primeira avaliação nacional para crianças em fase de alfabetização. Será
o primeiro passo para ver se as redes de ensino estão cumprindo uma das principais metas do Plano de Desenvolvimento
da Educação (PDE): alfabetizar todos os seus alunos até os oito anos de idade.
Ao contrário das avaliações feitas até hoje, a Provinha já chegará às mãos dos secretários de Educação com uma escala de avaliação, com cinco níveis de aprendizado, estabelecidas a partir do número de acertos em cada prova. É a partir do nível quatro que o aluno está dentro do esperado. A expectativa dentro do Ministério da Educação (MEC), no entanto, é que a grande maioria esteja abaixo.
A Provinha será usada pelas redes e os resultados não terão que ser, necessariamente, repassados ao MEC. “É um instrumento para escolas e redes fazerem o seu próprio diagnóstico, o que as crianças estão ou não aprendendo”, afirma Reynaldo. Para fazer o seu controle, o MEC fará anualmente a sua própria avaliação, com uma amostra estatística controlada, que servirá para dizer como está cada estado, região e o país.
Secretarias municipais e estaduais de alguma regiões já fazem avaliações próprias e usam os resultados para verificar quais alunos devem passar por aulas de reforço. A lógica é conseguir ajudar o aluno com dificuldade antes que ele chegue à 4.ª série.
O material que as redes públicas receberão inclui as provas, material de avaliação, uma grade para que as redes avaliem se seus alunos estão conseguindo aprender o que deveriam e até sugestões aos professores de como trabalhar com os estudantes. A prova não precisará de grande habilidade de leitura. A maioria das questões será lida pelo aplicador, que dará as instruções para que respondam.
No total, serão 24 questões de leitura e uma de escrita para serem feitas em duas horas.
Fonte: Gazeta do Povo
Envie para um amigo