Amazônia não atingirá metas da ONU
Estados não superam pobreza, falta
de acesso à educação e insustentabilidade ambiental, entre outros problemas
Os nove Estados que compõem a Amazônia Legal deram
passos tímidos demais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos pelas Nações Unidas e aceitos
pelo governo brasileiro. Ainda que tenham obtido sucesso em uma ou outra meta, a avaliação geral não poderia ser mais negativa.
A maioria dos objetivos não apenas deixará de ser
atingida no prazo - 2015 - como os Estados estão muito distantes de mudar situações degradantes de pobreza, mortalidade infantil
e materna, falta de acesso à educação, desigualdade entre os sexos, taxas elevadas de doenças infecciosas e insustentabilidade
ambiental. É o que demonstra o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), ONG de Belém (PA), em um estudo inédito.
Os pesquisadores Adalberto Veríssimo e Danielle
Celentano avaliaram 17 indicadores e traçaram a evolução de sete dos oito Objetivos do Milênio entre 1990 e 2005. "Em geral",
escrevem, "essa melhoria ainda é insatisfatória e a região está abaixo da média nacional".
Entre dez metas estudadas, duas apontam inversão.
Uma delas é a taxa de desmatamento da floresta amazônica: foi de 10% em 1990 (13,7 mil km2) para 17% em 2005 (18,8 mil km2),
com picos de mais de 20 mil km2. Ainda que sem patamares estabelecidos frente à ONU, o Brasil se comprometeu a reverter a
perda de recursos naturais.
Só Mato Grosso, Estado campeão de desmatamento
da Amazônia, derrubou 7.145 mil km2 em 2005. O secretário de Meio Ambiente do Estado, Luiz Henrique Daldegan, reconhece os
números desfavoráveis da perda de recursos ambientais, porém aposta em medidas tomadas pelos poderes federal e estadual para
reverter, enfim, essa tendência.
Entre elas estão o desmantelamento, em 2005, de
uma rede de corrupção que favorecia a retirada ilegal de madeira; ações de comando e controle; regulamentação do corte permitido;
contratação de agentes ambientais e parceria com ONGs. "Eu vejo hoje a questão ambiental não como uma política, mas como uma
questão moral de toda a sociedade", disse Daldegan.
Outra meta que cresceu, em vez de cair, é o número
de casos de aids. Em 1990, havia 1,2 caso para cada 100 mil habitantes da região. A relação passou para 12,4 em 100 mil em
2004. O salto pode ser explicado em parte pela ampliação e melhoria do serviço de diagnóstico na rede pública. Mas a justificativa
não alivia a responsabilidade: a meta da ONU é, até 2015, deter e começar a reduzir a propagação da doença.
Variações
"O estudo demonstra que há um passivo socioeconômico
muito evidente, o que deixa a questão ambiental mais fragilizada", diz Veríssimo. Tal passivo é conseqüência do processo de
ocupação da Amazônia. A migração ocorre sem planejamento e o governo chega apenas quando os problemas já estão plenamente
consolidados.
A conseqüência se reflete nos números. Ainda que
73% da população amazônica seja computada como urbana, isso não significa que ela tenha acesso às facilidades normalmente
vinculadas às cidades. Um excelente exemplo é o da mortalidade de mulheres no parto.
O número de óbitos para cada 100 mil nascidos vivos
na Amazônia subiu de 57 em 1996 (o dado mais antigo disponível para o Imazon) para 58 em 2004. Em comparação, no Brasil o
número aumentou de 52 para 54 no mesmo período - enquanto a meta é reduzir para 13 mortes por 100 mil nascidos vivos.
De acordo com os Objetivos do Milênio, o Brasil
precisa ter 100% de crianças com idade escolar no ensino fundamental. Em todos os Estados da Amazônia Legal, este índice variava,
em 2005, de 93% (no Acre) a 99% (em Rondônia). Contudo, quantidade neste caso acaba não significando qualidade.
Segundo o Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica (Saeb) de 2003, o desempenho dos estudantes da região nas provas de língua portuguesa e matemática ficou 7% abaixo
da média nacional. Média esta já bastante deficitária:no País, apenas 5,99% dos alunos testados tinham nível adequado de conhecimento
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