Cresce o número de famílias chefiadas por mulheres no mundo; Brasil
reduz mortalidade infantil
O número de famílias chefiadas por mulheres aumentou seis pontos percentuais
em dez anos, segundo o relatório Situação Mundial da Infância 2007 divulgado, nesta segunda-feira, pelo Fundo das Nações Unidas
para a Infância (Unicef). No quesito mortalidade infantil, o Brasil está na posição 86 dos 190 Países relacionados.
Em 1993 o número de mulhes chefes de família representava 22,3% e, em 2003,
chegou a 28,8%. Para aumentar a participação nas decisões familiares, o relatório sugere três pontos para as mulheres: aumentar
as oportunidades de emprego e de geração de renda para mulheres, envolver os homens em programas de defesa de direitos e apoiar
organizações de mulheres. Mesmo assim, mulheres continuam excluídas das decisões familiares, revelou o estudo.
O relatório do Unicef derruba a crença de que famílias chefiadas por mulheres
vivem nos piores níveis de pobreza. Segundo o estudo, pesquisas na América Latina demonstraram que famílias chefiadas por
mulheres podem até mesmo gerar maiores ganhos ou ter mais geradores de renda do que seus equivalentes masculinos, por utilizarem
a mão-de-obra doméstica de maneira mais eficaz.
Ainda de acordo com o Unicef, as famílias chefiadas por mulheres não se ajustam
a nenhuma categoria social ou a parâmetros de rendimento. Os fatores que motivam ou forçam as mulheres a chefiar as famílias
independentemente podem determinar o status econômico da família.
Mesmo no caso chefes de família que não escolheram conscientemente viver sem
um parceiro é preciso evitar que essas mulheres e as crianças de suas famílias sejam rotuladas como ?as mais pobres entre
os pobres?. Por exemplo, um estudo de 2005 na área rural de Bangladesh mostra que a proporção de famílias chefiadas por mulheres,
comparada com a proporção de famílias chefiadas por homens, era maior entre os mais pobre (5,2%) e entre os mais rico (7,4%),
ao passo que nos "intermediários" encontravam-se proporções menores, variando de 3,3% a 4,5%.
Mortalidade Infantil
O Brasil está na posição 86 dos 190 Países relacionados com índice de mortalidade
infantil, segundo o relatório do Unicef. O País com a maior taxa é Serra Leoa, na África, que está na primeira posição da
lista.
Ano passado o Brasil estava em 89º lugar. A queda de três posições, no entanto,
não significa piora na situação da mortalidade infantil. O País registrou melhora nos índices que calculam a morte de criança
de até cinco anos, outras Nações, porém, conseguiram melhorar seus resultados ainda mais que o Brasil. Foram elas Belize,
na América Central, que saiu da 81ª posição para a 125ª e as Ilhas Salomão, que hoje ocupam a posição 92.
Se comparada a posição brasileira no relatório com as dos vizinhos da América
do Sul, o Brasil fica a frente apenas da Bolívia (64ª), Guiana (66ª) e Suriname (78ª). Os outros países sulamericanos citados
no relatório ficaram na seguinte posição: Chile (150ª, o melhor colocado), Uruguai (129ª), Argentina (121ª), Venezuela e Colômbia
(108ª), Paraguai (106ª) e Equador (102ª).
Em comparação com alguns dos principais em desenvolvimento, o Brasil se saiu
melhor do que a Índia (54ª), porém ficou atrás do México e da China, ambos ficaram em 96º lugar.
Futuro melhor
O Unicef sugere que para o Brasil reduzir a mortalidade infantil ele deverá
investir em pré-natal, educação e participação política das mulheres. No Chile, por exemplo, onde a representação parlamentar
feminina é uma das mais altas do mundo, projetos representando "mudanças radicais" foram aprovados e beneficiaram diretamente
as crianças.
O estudo revela que a discriminação de gênero está presente em todas as regiões
do mundo e manifesta-se nas tradições culturais, na violência contra as mulheres, na desigualdade de oportunidades de educação,
trabalho e participação política. A maioria dos analfabetos, por exemplo, é mulher. Em termos globais, mulheres e meninas
também são as mais afetadas pelo HIV/Aids.
O Brasil é exemplo de país onde a desigualdade entre homens e mulheres dificulta
a situação da criança. Segundo o estudo, as mulheres brasileiras vivem e estudam mais que os homens, no entanto, têm salários
inferiores, menos acesso a cargos de poder e ainda enfrentam a violência doméstica. O estudo mostra que essa é uma realidade
em toda a América Latina.
O relatório mostra que no Brasil 52,2% das gestantes não têm acesso a seis ou
mais consultas pré-natais, número considerado ideal. Esse quadro se agrava ainda mais nas regiões Norte e Nordeste, onde este
indicador é, respectivamente, de 73,9% e 66,7%. O Unicef defende a licença-maternidade de seis meses, para contribuir para
a saúde da mulher e do bebê.
Autonomia
A falta de autonomia da mulher também faz com que ela fique mais vulnerável
à violência doméstica, contra elas próprias e seus filhos. Um estudo realizado em 2006 pelo Ibope revelou que 51% dos entrevistados
conhecem ao menos uma mulher que é ou já foi agredida por seu companheiro. O estudo do Unicef também mostra dados alarmantes.
Segundo ele, cerca de 275 milhões de crianças em todos os lugares do mundo são vítimas constante de violência.
Apesar da sub-notificação das ocorrências de agressões em casa, só no segundo
semestre de 2005, quase 28 mil casos de violência contra crianças e adolescentes foram atendidos pelos Centros de Referência
para Violência Doméstica, Abuso e Exploração Sexual (Programa Sentinela), em 314 municípios brasileiros. Três vezes mais meninas
foram vítimas de abuso sexual, em relação aos meninos. Em 90% dos casos de violência física e 54% dos casos de abuso sexual,
os agressores foram os próprios parentes.
Busca de solução (segundo o Unicef)
Para se enfrentar a desigualdade existente em todo o mundo entre mulheres e
homens, o relatório Situação Mundial da Infância 2007 propõe medidas urgentes que visem:
- garantir educação a todas as meninas e mulheres;
- assegurar recursos nos orçamentos governamentais para a redução da iniqüidade
de gênero;
- abolir ou corrigir legislações discriminatórias;
- garantir cotas para mulheres no poder legislativo;
- ampliar a participação das mulheres na construção de políticas públicas;
- promover o envolvimento de homens e meninos na luta pela eqüidade;
- melhorar a qualidade das pesquisas e dados sobre a situação de mulheres e
meninas.
Fonte: Último Segundo
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