Os líderes do G20 têm uma oportunidade histórica e sem precedentes para reduzir o deficit de confiança do povo; para isso, devem estar unidos - Agora que a população mundial ultrapassa 7 bilhões de pessoas, os alarmes estão começando a disparar. Crescentes protestos cidadãos são a expressão popular de um fato evidente: a incerteza econômica cada vez maior, a volatilidade dos mercados e excessivas desigualdades chegaram a um ponto crítico. Muitas pessoas vivem com medo. Sentem-se desanimadas pela incerteza e com raiva pelo empobrecimento das suas perspectivas. Em torno da mesa da cozinha e em lugares públicos, se perguntam: "Quem olhará pela minha família e pela minha comunidade?". Nestes tempos difíceis, o maior desafio que enfrentam os governos não é o deficit de recursos; é o deficit de confiança. A população está perdendo a fé de que seus líderes e as instituições públicas darão conta das responsabilidades. A reunião do G20 em Cannes ocorrerá nesse contexto dramático. Os líderes das maiores economias do mundo têm uma oportunidade histórica -e sem precedentes- para reduzir o deficit de confiança. Para isso, devem estar unidos. Em meio à crise e à incerteza, devem oferecer propósitos claros e soluções ousadas. Está claro que, para ser eficaz, qualquer resposta aos múltiplos desafios precisa ser global. Mais do que isso, deve vir acompanhada de um ambicioso programa social de longo prazo. Não podemos permitir que sejam esquecidos os mais vulneráveis: os pobres, o planeta, as mulheres e os jovens. Os que têm menos responsabilidade são os que estão pagando o preço mais alto. Pedir-lhes que esperem enquanto solucionam outros problemas não é só contraproducente, também é imoral. Em Cannes, os líderes deveriam acordar um plano de ação concreto que promova o bem-estar de todas as nações e pessoas, não só das mais ricas e das mais poderosas. Na cúpula do G20 do ano passado, em Seul, os líderes reconheceram uma realidade fundamental: não pode haver crescimento sustentável sem desenvolvimento. As economias emergentes estão impulsionando o futuro. Em Cannes, os líderes devem mostrar um forte apoio para o programa em favor dos pobres e do crescimento que se reflete nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Sabemos que é o que funciona; devemos continuar investindo em políticas e programas que dão bons frutos: na saúde das mulheres e crianças, na alimentação e agricultura e na igualdade de gênero, para citar alguns exemplos. Da mesma forma, não pode haver desenvolvimento sustentável sem proteger o planeta. Em junho de 2012, 20 anos após a primeira Cúpula da Terra, as Nações Unidas realizarão uma grande conferência sobre desenvolvimento sustentável. A Rio+20 nos oferece a oportunidade de definir caminho claro para um futuro melhor: um futuro de soluções integradas para problemas inter-relacionados. Isso significa avançar no âmbito de mudanças climáticas e de energias renováveis, incluindo a implantação de meios de financiamento inovadores. Para os líderes que se reunirão em Cannes, esta cúpula é um teste. O mundo está esperando. As decisões que serão tomadas afetarão todos os países e todas as pessoas, direta ou indiretamente. Um fracasso seria desastroso.
Com sabedoria e visão, podemos aproveitar este momento para lançar os alicerces de uma prosperidade econômica saudável, inclusiva e responsável com o meio ambiente, e que chegue a todos.
Se agirmos todos juntos -agora- podemos nos afastar do precipício e melhorar a situação para as gerações futuras. Não nos enganemos: essas são decisões difíceis e não podem ser adiadas. O tempo está passando.
BAN KI-MOON, mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA), é o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Foi ministro das Relações Exteriores e do Comércio da República da Coreia.
Fonte: FOLHA DE S.PAULO - 02/11/2011
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