No mundo, quatro bilhões de pessoas vivem com menos de dois dólares por dia. Entre 1,5 e 1,75 bilhões,
com renda entre 1.500 e 20.000 dólares. Apenas 100 milhões de pessoas têm renda superior a 20.000 dólares
anuais. No Brasil, esses números não são muito diferentes: 46% da população ganha menos
que R$ 570,00 mensais, e 82% do nosso povo pertence às classes C,D e E com teto de rendimento na faixa de R$ 1160,00. |
O futuro dos negócios está na base da pirâmide, nas classes menos favorecidas. Não apenas isso:
concentrar-se em criar produtos e serviços acessíveis às camadas carentes da população
é uma forte estratégia para a diminuição da pobreza que assola vários países do
mundo, dentre eles, o Brasil.
Essa é a proposta de C. K. Prahalad, um dos mais influentes especialistas em
estratégia empresarial da atualidade. O pensador indiano tem grande prestígio no meio acadêmico e também
no mundo dos negócios. Seus artigos foram publicados nos mais importantes jornais e revistas internacionais, recebendo
diversos prêmios como o McKinsey Prize (melhor artigo do ano publicado na Harvard Business Review) por dois anos consecutivos,
além do prêmio de melhor artigo da década do Strategic Managment Journal e o European Foundation for Management
Award. Para quem não lembra, Prahalad é autor dos importantes livros Competindo pelo Futuro (em parceria com
Gary Hamel), e O Futuro da Competição (juntamente com Venkat Ramaswamy).
C. K. Prahalad observa que
estamos fazendo muito pouco pelos países mais pobres do mundo. Com toda a nossa tecnologia, know-how gerencial e capacidade
de investimento, somos incapazes de nos concentrarmos no problema da alastrante pobreza e alienação globais.
Motivado para encontrar uma solução para aqueles que ocupam a base da pirâmide social, Prahalad tem dedicado
mais de uma década em uma jornada intelectual voltada à proposição de alternativas que possibilitem
a erradicação da pobreza através do lucro.
Os resultados de seu estudo podem ser conferidos em
seu livro A Riqueza na Base da Pirâmide. Nessa obra, o autor identifica todo o potencial dos mercados de baixa renda,
situados em países pobres e de grande população. Por dentro da realidade brasileira, Prahalad apresenta
casos de empresas brasileiras de sucesso que se voltaram para as classes C, D e E, como as Casas Bahia, o Habibs e a Gol.
Questionei o próprio se a sua proposta não era meramente a de identificar nichos de mercado nas classes
menos favorecidas, canção antiga da escola de posicionamento estratégico. Em um sentido pragmático,
Prahalad não está interessado apenas em proferir um discurso socialmente responsável, visando melhorar
as condições de vida dos mais pobres. Esse é o seu objetivo maior. Mas o seu real interesse é
o de despertar a atenção de administradores e empreendedores às oportunidades que residem na base da
pirâmide, para, aí sim, atingir o seu objetivo principal.
Além disso, incluir os pobres no jogo
do mercado é um importante meio para se fomentar o empreendedorismo e o surgimento de inovações na própria
base. Segundo ele, "se pararmos de pensar nos pobres como vítimas ou como um fardo e começarmos a reconhecê-los
como empreendedores incansáveis e criativos e consumidores conscientes de valor, um mundo totalmente novo de oportunidades
se abrirá". Dei o braço a torcer...
Na coletiva de imprensa da Expomanagement 2005, Prahalad encerrou
sua participação com o seguinte comentário gracioso: "Se Lou Dobbs, famoso comentarista da CNN, passasse
a se queixar tanto do Brasil quanto o faz em relação à Índia e à China, o Brasil certamente
seria um país muito melhor".
Alguém aí tem o e-mail do Lou Dobbs?
Fonte: Blog do Marketing de Relacionamento por Ricardo Pomeranz
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