Responsabilidade - 24/05/2010

As metas de Loures

Fervoroso defensor da inovação e do compromisso social das empresas, o comandante da Nutrimental opera uma revolução cultural no Paraná
clique para ampliar clique para ampliarPresidente da Fiep, Rodrigo da Rocha Loures (Foto: Gilson Abreu)

Inovação. Esse parece o conceito associado à trajetória do paranaense Rodrigo Loures. O empresário é uma usina de ideias, com as quais motiva, sensibiliza e conduz à ação todos os que cruzam seu caminho. Vice-presidente da Confederação Nacional das Indústrias, ganhou notoriedade de empreendedor ousado como sócio da Nutrimental, nascida em 1968, a partir de pesquisas em tecnologia de alimentos em parceria com a Universidade Federal do Paraná.

A empresa, que saiu fortalecida e renovada de uma grave crise nos anos 90, tem hoje mil funcionários e a liderança do mercado de barras de cereais, que inaugurou no Brasil com o lançamento do Nutry.

Comandante da Nutrimental e entusiasta de processos participativos de gestão, Loures foi um dos criadores, em 1992, da Fundação Brasileira do Desenvolvimento Sustentável. Desde 2003, preside a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).

À frente da Fiep, o empresário lidera uma verdadeira revolução tecnológico-cultural, digamos assim, com reflexos por todo o Brasil. "Vim para a Fiep consciente de que o modelo, feito há 60 anos e baseado em fundamentos antigos, precisava ser repensado. Assim como o papel das empresas e de todo o sistema", afirma. Entre as propostas de gestão mais eficiente e humana, conseguiu emplacar a da "prosperidade sustentável", que ele define como um empreendedorismo que respeita as "peculiaridades, os atributos e as características da cultura brasileira".

O empresário, que participa da World Business Academy (a favor da ética e transparência nos negócios), do Global Compact da ONU (um pacto para atuação empresarial responsável) e da Society for Organizational Learning (para a liderança e o aprendizado sustentável), não é muito fã do modelo fordista, norte-americano. "No Brasil, o ambiente tem de ser diferente, sem esses padrões robotizados, cerceadores. Do contrário não dá para ser feliz no trabalho", defende. Na sua opinião, o objetivo primordial das empresas não deveria ser o lucro. "O lucro é obrigação, um desafio de competência de gestão. O objetivo é ter uma causa, porque as pessoas se movem por causas", ensina.

Se uma empresa deve ter uma causa, uma organização representativa poderosa - como são as federações de indústrias - deveria ter várias. A Fiep tem e abraça aquelas que mais contribuem para ampliar a sua atuação, fincada em três pilares: educação transformadora, sustentabilidade e inovação. Sob a supervisão de Loures, o empresariado paranaense ganhou uma agenda de vanguarda. O cardápio é variado: vai de propostas urbanísticas sustentáveis, para pensar a Curitiba de 2030, por exemplo, ao trabalho intenso do Centro internacional de Inovação, que compartilha com indústrias de qualquer porte conhecimento em áreas como eficiência energética, biotecnologia e design.

Num tour pelas instalações da federação, Loures abre as portas e descreve as novidades em curso. "Temos mais de 130 programas com relações sinérgicas entre si, instalando as bases estruturais, sociais e, principalmente, culturais para que o desenvolvimento tenha continuidade e se acelere", discursa.

Um dos maiores motivos de orgulho de sua gestão está materializado no observatório Regional Base de Indicadores de Sustentabilidade (Orbis), primeira experiência mundial de observatório urbano apoiada em entidades empresariais. Integrado à Rede Mundial de observatórios do Habitat (Programa das Nações Unidas), organiza e monitora o sistema de indicadores de sustentabilidade de todas as cidades do Brasil, servindo de apoio para a tomada de decisões sobre políticas públicas locais e nacionais.

O Orbis nasceu em 2004 como desdobramento da primeira conferência mundial disposta a discutir indicadores alternativos ao PIB para medir o desenvolvimento. O encontro, articulado por Loures, aconteceu em Curitiba. A conferência internacional reuniu cerca de 700 estatísticos, legisladores, economistas, representantes de governos e empresários.
Especialistas no assunto de várias partes do mundo, como a economista evolucionista britânica Hazel Henderson, uma das inspiradoras da Icons - e ela própria cocriadora do Indicador Calvert sobre Qualidade de Vida -, saíram de Curitiba impressionados com o poder aglutinador de Loures. "Admiro, especialmente, os esforços de Rodrigo em reformar as estatísticas econômicas vigentes no País. Eu o conheci há dez anos, numa conferência sobre Espiritualidade nos Negócios, na Suíça. Desde então, tenho visto sua influência se disseminar no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos e, particularmente, nas Nações Unidas. É um privilégio vocês poderem contar com líderes empresariais do calibre ético e intelectual dele", declara.

Montar um sistema de monitoramento de indicadores, uma das propostas da Icons, passou a ser a meta de Loures. Na impossibilidade de angariar apoio e financiamento para uma iniciativa de âmbito nacional, contentou-se em centrar esforços no Paraná. Assim nasceu, em março 2004 - apenas quatro meses depois da conferência -, o Orbis, principal instrumento para medir o avanço das ações em favor dos objetivos de Desenvolvimento do Milênio, propostos pela ONU. "Ele é um empresário com uma visão muita clara sobre as necessidades do Brasil. Não pensa em como adaptar as condições do País em benefício dos seus negócios, mas se apoia em seus negócios para trazer coisas úteis para o País", afirma o economista Ladislau Dowbor, referência em sustentabilidade.

Na maior parte do Brasil - e dos outros 191 países signatários do compromisso com a ONU -, o alcance das oito metas para tornar o mundo melhor até 2015 virou retórica. Em São Paulo, por exemplo, depois de um oba-oba empresarial, por volta de 2004, quando o governo Lula convocou a sociedade para a mobilização, o movimento murchou.
Enquanto isso, o Paraná trabalhava duro, a ponto de seus avanços virarem referência internacional. A metodologia, baseada no estímulo ao diálogo a partir da base da pirâmide, e a efetividade no alcance de bons resultados levaram o movimento Nós Podemos Paraná (iniciativa da Fiep) a Nova York. Ali, na Assembleia-Geral da ONU, e depois também no Encontro Mundial das Famílias, no Egito, Loures expôs o conjunto de ações em curso no estado.

Tamanha visibilidade fez com que o governo federal e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) convidassem o Nós Podemos Paraná a ser parceiro/gestor do Prêmio Objetivos do Milênio Brasil. Desde o ano passado, Loures é secretário executivo do Movimento Nacional de Cidadania e Solidariedade e coordenador nacional das ações voltadas ao cumprimento das metas.

A futurista Rosa Alegria, da equipe de Loures e consultora técnica do movimento, tem viajado pelo Brasil para auxiliar os demais estados a alcançar o estágio do Paraná. "Está tudo muito no início. Meu trabalho é ver o que está acontecendo e oferecer nossa metodologia para quem estiver interessado. Sou suspeitíssima para falar do Rodrigo, pois ele é aquele tipo de pessoa que te conduz a portais reveladores, a grandes dimensões para enxergar a realidade. Ele tem uma paz interior, uma delicadeza, uma sensibilidade, uma capacidade de escuta motivadora. O Rodrigo tem articulações no mundo inteiro e uma visão além de todas as fronteiras. Às vezes, não é compreendido, porque as pessoas só veem o que é concreto e objetivo", elogia.

Sonhadores com projetos exequíveis encontram em Loures um aliado. Quando o navegador Amyr Klink preparava sua primeira expedição solitária, em 1982, procurou o apoio da Nutrimental, que já era uma empresa de ponta no segmento nutricional. O empresário recorda ter ficado surpreso ao saber que o principal fator de risco da empreitada era a alimentação. "Para mim, o perigo era a proposta de atravessar o oceano a remo, era a própria viagem, os ventos, as ondas, ou o caiaque, mais adequado para cruzar um rio. Mas o relato do Amyr, pessoa que admiro muito pela disciplina, o autodomínio e a coragem, me convenceu de que valia a pena desenvolver uma dieta de produtos desidratados para ele."

Embora ciente dos danos institucionais que a Nutrimental poderia ter por apoiar uma aventura como aquela, Loures bancou o desafio, levado a cabo em 1984. "O Amyr saiu da África e chegou muito bem alimentado ao Brasil", brinca. Klink também se recorda: "Na época, houve uma divisão na Nutrimental, por causa dos riscos de a empresa se envolver com um maluco que podia morrer no meio do Atlântico. Mas o Rodrigo é um cara inovador, uma pessoa que valoriza muito o empenho, o sacrifício e o esforço".

As ligações e as motivações de Loures parecem não ter fim. O educador Claudio de Moura Castro resume bem o estilo do sessentão, que, em vez de estar em casa desfrutando dos prazeres da vida - ou apreciando as esculturas da mulher, a artista plástica Vera Lilia -, tem a cabeça borbulhando com novas ideias, pelas quais se apaixona. "Ele está sempre com uma nova devoção, uma nova cruzada para melhorar alguma coisa. E, como tem charme, poder e inteligência, consegue milagres."
Sobre ele, o urbanista e ex-integrante do governo Clinton Marc Weiss, também presidente da Global Urban Development (organização da qual Loures é vice-presidente), afirma: "Ele é um dos mais ativos e destacados líderes empresariais do Brasil e do mundo, no movimento da sustentabilidade. Eu admiro profundamente seu brilho, sua paixão, sua visão, seu comprometimento e, especialmente, a eficiência do seu estilo de liderança". A todos os elogios Loures retribui com novas ideias.

 Fonte:  Denise Ribeiro - Revista Carta Capital - Maio/2010

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