Luiz Silveira lsilveira@brasileconomico.com.br
Três grandes importadores
de carne que impõem restrições ao produto brasileiro por conta do suposto risco de febre aftosa estão
neste momento sofrendo ou se recuperando de focos da doença: Japão, Coreia do Sul e União Europeia (UE).Os
três incidentes ocorrem enquanto o Brasil negocia a abertura parcial desses mercados para a sua carne suína,
o que pode colocar em xeque as barreiras contra o país e os sistemas de controle dos importadores.
Mas o reflexo
mais direto desses incidentes no Brasil ocorre sobre a política de vacinação contra a aftosa, já
que vários estados estudam parar de vacinar seus rebanhos contra a doença.
Tanto a Coreia do Sul quanto
o Japão e a Bulgária—onde surgiu o foco na UE — não vacinam seus animais contra a febre aftosa.
Para a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), as regiões que são livres da doença
sem usar a vacina possuem um status sanitário superior àqueles que aplicam a proteção viral, e
por isso têm acesso a um número maior de mercados. Nenhum desses três mercados recém-infectados
importa carne suína brasileira justamente porque o país utiliza a vacinação de seu rebanho.
Mas
os exemplos que vêm desses países mostram os riscos de abandonar a vacinação. O Japão conseguiu
controlar a doença em 70 dias, e desde 5 de julho do ano passado não registrou mais nenhum caso. Já a
Coreia do Sul, que demorou um mês para decidir vacinar seus rebanhos, viu a doença se espalhar de norte a sul
do país e já abateu 2 milhões de animais desde o último dia 29 de novembro. O governo estima que
o país destruiu mais de 12% do seu rebanho e perdeu mais de US$ 1 bilhão.
No Brasil, o Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento diz avaliar com cautela a redução e posterior suspensão
da vacina em determinados estados. Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, por exemplo, já pediram para
diminuir a vacinação para seguir Santa Catarina, que desde 2007 é reconhecido pela OIE como zona livre
de aftosa sem vacinação.
No ano passado, os EUA abriram seu mercado para a carne in natura catarinense,
reconhecendo o status dado pela OIE. “A não-vacinação é o futuro, mas a determinação
do ministro Wagner Rossi é trabalhar firme para não haver recuos”, afirma o secretário de Defesa
Agropecuária, Francisco Jardim. Segundo ele, o ministério vai avaliar os pedidos dos estados com cuidado, já
que suspender a vacinação compulsória exige medidas auxiliares de controle e resposta à aftosa.
“Acho bom que haja pressão para que os estados reforcem seus sistemas de vigilância sanitária
e resposta a emergências”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora
e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto. Para ele, áreas sem vacinação “terão
a doença, mais cedo ou mais tarde”, por isso é importante estar preparado para dar uma resposta rápida
ao problema.
A Coreia do Sul, por exemplo, preferiu não adotar a vacinação assim que encontrou
o primeiro foco da aftosa, para que pudesse recuperar mais rapidamente o seu status, o que mostrou-se um erro. “Cinco
anos após deixar de vacinar, todo o rebanho já é suscetível à aftosa e o controle passa
a ser feito apenas no trânsito de animais”, diz o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos
para Saúde Animal (Sindan), Emílio Salani. “Há estados prontos para isso e outros não”,
afirma Camargo Neto.
Fonte: Brasil Econômico, 18/01/2011