O 6º Reabilitação, Inclusão e Tecnologia – Reatiba, promovido pelo Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE), instituição ligada ao Serviço Social da Indústria (Sesi), aconteceu no último dia 20 e teve como tema Novos Caminhos para Inclusão. Nesta edição, o evento tinha como objetivo oferecer as últimas atualizações referentes à lei de cotas, emprego apoiado e inclusão de pessoas com deficiência (PcD) no mundo do trabalho.
A gerente de projetos estratégicos do Sesi, Maria Christina Rocha, abriu o evento e ressaltou sua importância para a discussão do tema entre empresas e instituições. “O Reatiba tem como objetivo estabelecer um diálogo com as empresas para vermos como melhorar e avançar no processo de inclusão. E é isso que vamos fazer hoje, aprender mais, dialogar, trocar, ouvir, sugerir e vamos aos poucos mudar essa realidade”, explica Maria Christina.
O trabalho da equipe de projetos para realização do encontro foi ressaltado pela coordenadora executiva do CPCE, Rosane Fontoura. “A história do Reatiba se confunde com a história do CPCE e, para nós, é realmente um prazer ter essa discussão dentro do Conselho, assim como a adesão das empresas ao Pacto Global, das instituições de ensino superior ao PRME, a questão da qualificação do 3º setor e outros projetos do portfólio”, completa Rosane. Ela também ressaltou que a inclusão da PcD é um tema relevante levantado pelo Núcleo de Indústria e Sindicatos (NIS).
O Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência foi abordado pela secretária dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Mirela Prosdócimo, que ressaltou a importância da gestão de carreira das PcD. “Precisamos do desenvolvimento tanto das pessoas com deficiência, que estejam buscando sua qualificação, quanto das empresas, abrindo vagas e oportunidades mais iguais. Mas, as indústrias também devem pensar na retenção dessas pessoas, buscar um plano de carreira como é feito com os outros funcionários”, ressalta Mirella.
A procuradora do Ministério Público do Trabalho do Paraná, Thereza Cristina Gosdal, falou sobre a Inclusão da Pessoa com Deficiência no Estado do Paraná, ressaltando que a lei de cotas é uma medida de ação afirmativa e uma forma de oferecer acesso ao trabalho. “A lei de cotas é um conjunto de medidas legais que se destinam a permitir o exercício de direitos em igualdade por um determinado grupo ou seguimento da população que tem, no caso das pessoas com deficiência, uma dificuldade maior de exercer os seus direitos. Elas vêm para empoderar de certa maneira as pessoas com deficiência”, explica a procuradora.
Em sua fala, Thereza também tratou de desmistificar a imagem que as pessoas têm de que a pessoa com deficiência tem estabilidade em seu emprego. O que existe, na verdade, é que quando uma empresa demite uma PcD, antes ela deve contratar outro de condição semelhante para garantir o alcance da cota. Ela ressaltou também que existem segmentos onde a inclusão realmente é mais difícil de ser feita pela necessidade de qualificação, porém, existem empresas que não contratam puramente por preconceito. “Nós temos algumas situações em que as empresas têm uma resistência pura e simples ao cumprimento da cota. O brasileiro tem cultura de afrouxamento no cumprimento da legislação, costumamos a não dar muita importância para isso até que batam na nossa porta como uma cobrança, até mesmo judicial”, complementa.
Emprego Apoiado
O Emprego Apoiado é uma metodologia que visa a inclusão no mercado competitivo de trabalho de pessoas em situação de incapacidade mais significativa; respeitando e reconhecendo suas escolhas, interesses, pontos fortes e necessidades de apoio. O assunto foi abordado pelo psicólogo, Alexandre Prado Betti, autor do livro ‘Emprego apoiado’ e que, entre outros pontos, ressaltou que a PcD deve ter à sua disposição sempre que precisar os apoios necessários para conseguir obter, manter e se desenvolver no trabalho.
De acordo com Betti a atual luta do emprego apoiado é contra a institucionalização das pessoas. “Lutamos contra a institucionalização das pessoas, pois é muito fácil colocá-las dentro de uma instituição e esquecê-las lá, por que nós transitamos, trabalhamos, estudamos. É uma luta social, política, para acabar com a institucionalização de pessoas em situação de incapacidade”, afirma Betti.
Mesa com especialistas
O 6º Reatiba também contou com uma mesa redonda onde os participantes puderam fazer um diálogo e trocar informações sobre a Instrução Normativa 98/2012, com Moacir Machado Neto do Projeto de Inclusão da Pessoa com Deficiência SRTE PR; sobre Aplicabilidade da Lei, com José Carlos do Carmo (Dr.Kal) do Projeto de Inclusão da Pessoa com Deficiência SRTE SP – TEM; e sobre Cumprir a Lei é possível?, com Carlos Aparício Clemente do Espaço da Cidadania. A mediação foi feita pela coordenadora do Programa Gestão da Inclusão na Indústria do Sesi, Regiane de Cássia Ruivo Maturo.
Diálogo sobre inclusão
O período da tarde contou com um diálogo entre os participantes mediado também pela coordenadora do Programa Gestão da Inclusão na Indústria do Sesi, Regiane de Cássia Ruivo Maturo. Ela instigou os participantes mostrando os estigmas mais conhecidos por quem trabalha na área de inclusão, pensamentos como não existem PcD qualificadas; se contratarmos uma PcD ela vai ter seu estado de saúde agravado; tenho um excelente funcionário mas não posso colocar ele na cota, não posso fazer isto com ele; as PcD se afastam do trabalho com maior frequência; entre outros.
Além disso, ela ressaltou que o Pcd não deve ser encaixado na empresa, mas sim o contrário. “Não estamos brincando de lego, não vamos encaixar a PcD num posto de trabalho. O desafio de quem trabalha com recursos humanos é antigo, que é adapte o trabalho ao homem, não adapte o homem ao trabalho”, enfatiza Regiane.
A profissional de recursos humanos da Aker Solutions, Margarida Habitzreuter Kowalski, ressaltou a experiência da empresa no processo de inclusão que possui um programa específico chamado Incluir. “Recentemente fizemos um processo seletivo em que precisávamos de 23 pessoas, compareceram 33. Fico assustada quando ouço que não têm pessoas com deficiência, é que não podemos contratar a deficiência, e sim a pessoa”, comenta Margarida.
Formato inclusivo
A plateia do 6º Reatiba foi formada por dezenas de gestores de recursos humanos que tiveram a oportunidade de dialogar com especialistas e com pessoas com deficiências físicas, auditivas, visuais e intelectuais que estavam presentes. O ambiente proporcionou o que a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência prega de que “Nada sobre Nós, sem Nós” contando também com a tradução simultânea na língua brasileira de sinais (libras) possível por meio da parceria com o Grupo Uninter.
À distância, mais de 30 pessoas se reuniram Núcleo Regional de Educação de Campo Mourão para acompanharem o evento e mais de 90 pessoas assistiram via web, possível por meio da parceria com a Secretaria de Estado de Assuntos Estratégicos.
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