A Covid-19 é algo absolutamente trágico nas questões de vida e saúde e deixará um imenso rastro de destruição nas economias da maioria dos países e das pessoas. Dentro dela, as questões de gênero estão de certa forma encobertas, porém, como em toda situação extrema, por um lado é potencialmente revolucionária para as relações humanas, principalmente da classe média: a quarentena, indispensável para reduzir o impacto da epidemia, mantém as pessoas em casa, isoladas.
Homens e mulheres deste extrato passam a realizar todos os serviços domésticos, antes delegados a auxiliares. Isso traz rediscussão de papeis aos mais esclarecidos, mas por outro lado pode acirrar os ânimos em ambientes mais vulneráveis, menos instruídos ou com mais dificuldades financeiras, e o confinamento também é um tempo em que podem aflorar rancores e ressentimentos: relacionamentos com algumas dificuldades pré-existentes podem tornar-se mais tóxicos, e atos de agressões – mulheres convivendo em tempo integral com companheiros agressivos, crianças expostas a violência de toda ordem, agressões à população LGBTI, e todas as mazelas que sempre enfrentamos em épocas ditas “normais” tendem a acontecer com mais frequência.
Embora tenhamos hoje algumas entidades de proteção às mulheres, às crianças e aos homossexuais e transsexuais, boa parte delas online, com possibilidade de recorrer ao Disque 190 ou o Disque 180, assim como aos aplicativos em páginas da internet ou em redes sociais, e outros que conectam pessoas a advogados, e acolhimento a vítimas de violência física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral, que tem sido indispensáveis para minorar estas ocorrências, infelizmente ainda estamos longe de atingir a equidade de gênero e a paz social, como preconizado pelo ODS 5. Wanda Camargo – Unibrasil