Elaborar projetos e captar recursos foram os assuntos abordados pelo economista Ricardo Falcão no curso promovido pelo Núcleo do Terceiro Setor (NTS) do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE), instituição ligada ao Sistema Fiep (SESI/SENAI/IEL). O evento tinha como objetivo capacitar os profissionais de organizações não governamentais (Ongs) a fim de desenvolverem projetos completos e de acordo com o perfil de cada seleção.
O evento contou com ótimo público, sendo 160 pessoas no curso presencial e um fluxo de acesso variável de 200 outras acompanhando à distância pela internet, devido à parceria realizada com a Secretaria de Estados de Assuntos Estratégicos, e os participantes estavam representando de mais de cem instituições do terceiro setor.
A coordenadora executiva do CPCE, Rosane Fontoura, abriu o evento com o coordenador do núcleo, Luciano Diniz. Ela ressaltou a atuação do Serviço Social da Indústria (Sesi) na elaboração e apoio a projetos de responsabilidade socioambiental por meio de suas ações. “Nestes últimos anos, articulados pelo movimento Nós Podemos Paraná, foram gratuitamente ofertados 136 oficinas de elaboração de projetos que reuniu mais de 3.300 pessoas. O Conselho também entende que esta qualificação garante a elaboração de bons projetos e consequente empoderamento local de lideranças para a mobilização de recursos em prol do alcance dos objetivos de desenvolvimento do milênio e outras boas causas locais e a captação dos recursos necessários”, explica Rosane.
As atividades do núcleo foram apresentadas por Diniz que deu boas-vindas aos participantes, agradeceu o apoio do CPCE e falou da importância da qualificação e profissionalização das entidades. “Esse núcleo do terceiro setor é composto por dezenas de entidades que vêm voluntariamente e trabalham mês a mês buscando agregar valor ao nosso terceiro setor. Buscamos mostrar que existe um terceiro setor que é competente, é sério e que faz valer cada centavo investido nele”, completa Diniz.
Projeto social precisa oferecer autonomia
O palestrante Ricardo Falcão enfatizou a importância do terceiro setor saber onde estão os recursos e como conseguir ter acesso a eles. Consultor na área de elaboração, gerenciamento e avaliação de projetos, planejamento estratégico e captação de recursos, Falcão já trabalhou nos dois lados da área, tanto como captador de recursos para uma entidade quanto financiador avaliando projetos em organismos internacionais.
"Quem tem que elaborar projetos é o terceiro setor, não precisa ter curso superior pra isso, apenas bom senso, pois o projeto não pode gerar dependência das entidades e deve promover a autonomia das pessoas beneficiadas por ele”, completa Falcão.
Para ele, quando as instituições elaborarem um projeto para captar recursos é importante que elas se planejem e que mostrem objetividade e organização na descrição da ação. “Um novo e bom projeto leva, no mínimo, um mês para ser elaborado e dá muito trabalho, mas não é complicado, recursos existem, o que faltam são bons projetos”, complementa.
Em sua palestra, Falcão estabeleceu os seguintes tópicos básicos necessários para a estrutura de um projeto: Dados da instituição; Justificativa do projeto; Objetivo Geral; Objetivo Específico; Etapas; Atividades; Indicadores; Fatores de risco e mitigantes; Metodologia; Cronograma e Orçamento.
Captação de recursos e a economia
A pessoa responsável pela captação de recursos precisa estar sempre informada do panorama econômico geral e da situação que a empresa em questão está passando. "O captador de recursos precisa prestar atenção na situação econômica antes de oferecer projetos às empresas, precisa saber negociar e conquistar. A fidelização de parceiros também é importante e mostra o profissionalismo e credibilidade da entidade”, ressalta Falcão.
Além disso, o palestrante também mostrou quais são as organizações nacionais e internacionais que oferecem editais para captação de recursos. Entre as referências eletrônicas de editais, Falcão citou o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) e o Instituto Ethos; além das agências internacionais multilaterais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), União Europeia (EU), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), entre outros.
Entre as principais áreas de interesse dos editais internacionais propostos, Falcão enfatiza que a maior parte dos recursos é voltada para projetos com ações para o meio ambiente, geração de renda e para a infância. “As instituições também podem mandar seus projetos em português para a Agência Nacional de Cooperação, que entra em contato com as agências internacionais e fazem o contato para participar dos editais de outros países”, explica Falcão.
Outra dica dada pelo palestrante foi a de fazer uma lista dos editais, pois estes se repetem anualmente e isso faz com que as entidades possam ter um calendário fixo de captação de recursos. Ter uma pessoa específica para a formatação de projetos e captação também foi algo enfatizado por Falcão, que incentiva a profissionalização da pessoa que trabalha nessa área.
“Abrir as portas das empresas não é difícil, difícil é saber o que dizer quando chegar lá. O maior erro dos captadores é falar tudo o que fez eles se apaixonarem pelo projeto em vez de falar coisas que façam a empresa se apaixonar pela iniciativa”, comenta Falcão.
Investimento em projetos é uma parceria
Outro ponto abordado por Falcão é que as instituições precisam ver que a empresa que financia o projeto é uma parceira e que ela também deve se envolver no processo e nas ações realizadas. “É necessário que os parceiros conquistados tenham afinidade com o projeto e com a entidade, caso contrário não haverá fidelização desse parceiro”, explica Falcão.
Ele ainda listou os três principais problemas que existem na captação de recursos. O primeiro, segundo ele, é o hábito que as entidades têm de ‘pedir dinheirinho’ para as empresas, e tentar fazer muito com pouco recurso. Outro ponto enfatizado foi o conhecido ‘jeitinho brasileiro’, pois, “ninguém dá jeitinho nas coisas, quem não planeja nada e vive improvisando não faz nada bem feito. Projeto é planejamento! E precisamos começar a por planejamento na nossa vida”, complementa Falcão.
O último problema listado é a falta de profissionalização do setor, pois não adianta a atividade-fim ser profissional e a atividade-meio não ser, é necessário estar preparado para fazer o gerenciamento da instituição.
De acordo com a Diretora de Relações Institucionais da Associação Franciscana de Educação ao Cidadão Especial (AFECE), Nilda Mott Loiola Gonçalves, concorda com o palestrante e diz que o evento foi uma ótima oportunidade para que ongs de todo o estado pudesse entender a melhor forma de propor projetos. “Para todo o terceiro setor esta sendo uma grande oportunidade de profissionalização, de saber realmente como se apresentam os projetos e os cuidados que precisamos ter em relação à abordagem e que pode refletir nas próximas ações das entidades do terceiro setor que estão participando”, comemora Nilda.