Conselho Automotivo da Fiep debate impactos do governo Trump

Em sua segunda reunião de 2025, o Conselho Setorial da Indústria Automotiva da Fiep promoveu um amplo debate sobre ações de fortalecimento da cadeia produtiva do setor no Paraná e os potenciais impactos da política comercial dos Estados Unidos sob o novo mandato de Donald Trump. O encontro reuniu mais de 40 representantes da indústria, governo, academia e instituições de apoio.

Abertura e Macro Ações

A abertura foi conduzida pelo coordenador do Conselho, Carlos de Paula, que apresentou um resumo das 11 Macro Ações em andamento voltadas ao fortalecimento de Micro, Pequenas e Médias Empresas automotivas. Um dos destaques foi a proposta de alteração da Lei Estadual nº 21.181/2022, que trata do Fundo de Capital de Risco, com o objetivo de redirecionar parte dos recursos do programa Paraná Competitivo para investimentos em MPMEs fornecedoras do setor. A estimativa é que a medida possa liberar até R$ 8,4 milhões por ano em apoio a esses empreendimentos. A Secretaria da Indústria e Comércio (SEIC) e outras instituições parceiras seguem envolvidas na articulação do novo projeto de lei.

Isenção de ICMS e IPI

Outro avanço apresentado foi a conquista da isenção de ICMS para doações de veículos que seriam destruídos por montadoras às escolas do Senai no Paraná. A Fiep também protocolou, em Brasília, proposta semelhante para isenção de IPI em âmbito federal, com relatoria do deputado Luiz Carlos Hauly e expectativa de votação no Congresso.

Plataforma de Fornecedores

Sidarta Ruthes e Márcia Arantes, do Observatório da Fiep, apresentaram a nova plataforma em desenvolvimento para mapear potenciais fornecedores do setor automotivo no Paraná, com base na Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). A iniciativa visa identificar empresas com capacidade técnica e estrutural para atender às demandas de grandes montadoras, utilizando dados de fontes secundárias como registros de patentes, certificações, acesso a linhas de fomento e histórico de exportações. O projeto, em fase final de validação de variáveis, deverá resultar em uma plataforma online interativa, com filtros por localização, certificações e outros critérios, prevista para ser lançada no fim de abril. A ação busca ampliar a nacionalização da cadeia automotiva, estimular a inovação e consolidar o Paraná como um polo de referência no setor.

Impactos do Governo Trump

O ponto alto da reunião foi a apresentação de Marcos de Abreu, gerente da Anfavea, sobre os impactos do segundo mandato de Donald Trump no comércio exterior automotivo. Abreu apontou o risco global representado pelo retorno ao protecionismo americano, com a elevação de tarifas sobre aço e veículos, especialmente oriundos de México, Canadá e China. Ele explicou que, embora o Brasil não seja um grande exportador direto para os EUA, os efeitos indiretos são significativos. O redirecionamento de veículos excedentes ao mercado brasileiro, por exemplo, pode intensificar a concorrência e comprometer a competitividade das montadoras nacionais. Também foram discutidas as políticas de Trump que desestimulam a transição energética e afetam a logística global de produção.

Cenário Sul-Americano

O cenário sul-americano também preocupa. A possível saída da Argentina do Mercosul e do Acordo de Paris, somada à isenção de suas tarifas para importação de veículos elétricos, abre caminho para que montadoras chinesas se instalem no país vizinho, prejudicando as estratégias brasileiras de inovação automotiva. O México, por sua vez, busca flexibilizar acordos comerciais com o Brasil, o que pode tornar sua produção — já 18% mais competitiva — uma ameaça ainda maior para o setor nacional.