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Teor de sódio em alimentos industrializados deve cair em 30% até 2014 no Brasil. Anvisa vai monitorar hábitos da população e cruzar dados com incidência de doenças e custos no SUS
O consumo excessivo de sal está na mira do Ministério da Saúde. Ontem, durante as comemorações do Dia Mundial da Saúde, o órgão assinou acordos com indústrias de alimentos processados para reduzir o teor de sódio, principal composto do sal, na mesa dos brasileiros. A restrição vai atingir 16 categorias de alimentos, começando por pães, bisnaguinhas e massas instantâneas. Até 2014, a meta é reduzir em pelo menos 30% a concentração do produto, associado a uma série de doenças crônicas, como a hipertensão arterial, que atinge mais de 6 mil pessoas em Minas Gerais - cerca de um terço da população do estado.
O novo documento define o teor máximo de sódio a cada 100 gramas em alimentos industrializados. Nos pães
de forma, o acordo prevê limite de 645 miligramas de sódio, até 2012. Nas bisnaguinhas, a maior concentração
recomendada é 531 miligramas e, nas massas instantâneas, 1,9 grama. Essas metas estabelecidas correspondem a
uma redução de 10% ao ano. E, até 2014, a diminuição do teor de sódio deve cair
em 30%. Em julho, novos produtos entrarão na lista de controle do governo federal, como bolos prontos, misturas para
bolos, salgadinhos de milho e batatas fritas.
Até o fim do ano, será a vez dos biscoitos de sal e recheados,
embutidos (salsicha, presunto, hambúrguer, empanados, linguiça, salame e mortadela), caldos e temperos, margarinas
vegetais, maioneses, derivados de cereais, laticínios (bebidas lácteas, queijos e requeijão) e refeições
prontas (pizza, lasanha, papa infantil salgada e sopas). O teor de sal nos alimentos será monitorado pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que vai acompanhar as tendências de consumo alimentar da população
e ajudar a avaliar o impacto desses novos hábitos na incidência de doenças crônicas e nos custos
do Sistema Único de Saúde (SUS).
Com essas ações, o governo pretende ajudar o brasileiro
a reduzir à metade o consumo de sal. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cada pessoa
deve ingerir até cinco gramas de sal (ou dois gramas de sódio) por dia. Isso equivale a uma tampa de caneta
cheia. Mas dados da Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) indicam que o consumo individual de sal, apenas nos domicílios
brasileiros, foi de 9,6 gramas diários.
A novidade foi comemorada pela Sociedade Mineira de Cardiologia, preocupada com índices alarmantes de doenças como a hipertensão arterial. "O sal é usado para melhorar o paladar dos alimentos e também para aumentar a durabilidade dos produtos. Mas ele também está fortemente relacionado ao desenvolvimento da hipertensão arterial, uma doença assintomática e traiçoeira. Portanto, nossa recomendação é para que as pessoas joguem fora os saleiros e optem por uma alimentação mais saudável", explica o presidente da sociedade, José Maria Peixoto. No dia 26, a entidade vai lançar a campanha "Eu sou 12 por 8", em comemoração ao Dia Nacional de Combate à Hipertensão Arterial.
Em padarias de Belo Horizonte, o controle do teor de sal também foi bem recebido por clientes. "O pão está na mesa dos brasileiros diariamente, fazendo parte de várias refeições. Se ele vai se tornar um alimento mais saudável, é sinal de que nosso corpo e bem-estar estarão melhor preservados", diz a aposentada Maria Geralda Gonçalves Silva, de 53 anos. Segundo a nutricionista e gerente de um estabelecimento recentemente inaugurado no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul da capital, Paula Dias, a procura pelo pão francês light e por receitas mais equilibradas têm aumentado. "O consumidor hoje está mais consciente, por isso apostamos em pães light, em que a concentração de sal não chega a 1%, e pães italianos, também com menos sódio. Para não prejudicar o sabor, uma das alternativas são as ervas", diz Paula.
O esforço para redução do sal na alimentação é semelhante ao lançado pelo Ministério da Saúde, em 2007, para evitar gorduras trans nos alimentos processados. Nessa campanha, o governo federal limitou em 5% a presença desse tipo de gordura nos produtos e o último balanço da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) indica que a mobilização conseguiu retirar cerca de 230 toneladas de gorduras trans ao ano dos itens. Procuradas pelo Estado de Minas, a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip) e a Associação Mineira de Indústria de Panificação (Amipão), não se pronunciaram sobre o novo acordo.
Por Glória Tupinambás