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Adotar ações sustentáveis na cadeia produtiva da construção civil já não
é mistério. Difícil é distinguir o discurso da ação efetiva. Como saber, por exemplo,
se uma obra está sendo erguida de acordo com critérios que asseguram a redução de emissão
de gases causadores do efeito estufa? Que referências construtores, fornecedores e clientes têm para saber se
o volume de emissões dos empreendimentos é alto ou baixo? É nessa fase de questionamentos que se encontram
as discussões acerca do controle das emissòes de gás carbônico no setor da construção.
O que significa dizer que, apesar de iniciativas de algumas empresas, que inventariam as emissões em suas obras e já
possuem programas de redução, o setor ainda tem muito a fazer nesse quesito. Uma das causas da lentidão em encontrar a pegada de carbono do setor está no fato de o Brasil, na condição
de país emergente, não ter obrigação de cumprir as metas de redução estabelecidas
em 2005 pelo Protocolo de Kyoto. Outra é que a questão não é vista como prioridade, por mais que
a academia e ambientalistas demonstrem sua importância. Também faltam dados nacionais e um esforço coordenado
para obtê-los. Mas a lei de 2009 que instituiu a Política Nacional sobre Mudanças do Clima e estabelece
a meta de reduzir entre 36,1% e 38,9% a emissão de CO, até 2020 parece estar imprimindo novo ritmo à
pesquisa do tema. O grupo formado pelo Sinduscon-SP, por exemplo, reuniu em agosto empresas como Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez,
Odebrecht, Construcap, Tecnisa Cyrella, representantes da Cetesb, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e do Centro de Estudos
em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVces) para conhecer melhor a metodologia do GHG Protocol(Corporate
Accountingand Reporting Standard) aplicada ao setor da construção. "Encontros como este deixam claro que precisamos
entender e divulgar o tema", diz1.ilian Sarrouf, coordenadora-técnica do comitê de meio ambiente do Sindicato
da Construção de São Paulo (Sinduscon-SP). O sindicato também apoia o trabalho da Universidade
Estadual de Campinas(Unicamp), focado na produção de um levantamento de materiais essenciais para a construção
e na definição de bases metolodógicas para as medições de emissões. "A idéia
é permitir que o setor conheça um pouco melhor seu impacto na emissão de CO2 e possa traçar estratégias
para melhoria de desempenho", explica a professora Vanessa Gomes, pesquisadora-líder do Grupo de Pesquisa Qualidade
e Sustentabilidade do Ambiente Construído da Unicamp. Essa busca por informação é exatamente o que o setor precisa, diz Vanderley M. John, professor da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e membro do Conselho Brasileiro de Construção
Sustentável (CBCS). John é autor de um estudo que mostra que é necessário cuidado com parâmetros
internacionais. Segundo o estudo, a contribuição do uso dos edifícios brasileiros para a emissão
antrópica de CO2, por exemplo, é de 2,8%, quase uma ordem de grandeza menor que os valores médios mundiais.
Em relação ao cimento, as emissões médias de CO2 foram estimadas em 2005 em 594 kg/t, enquanto
a média mundial está entre 814 e 870 kg/t. Enquanto os estudos avançam em busca de um indicador setorial nacional, as empresas fazem a sua parte. A Even dedicou
dois anos ao desenvolvimento de um inventário das emissões de seus empreendimentos. A decisão foi tomada
um ano depois da guinada pró-sustentabilidade da empresa, em 2007, quando a gestão e as obras começaram
a ter processos, produtos e materiais sustentáveis. "Queríamos ter um número, uma medida das nossas emissões
de carbono para depois colocar em ação um plano de redução", diz Silvio Gava, diretor-técnico
e de sustentabilidade da empresa, que hoje tem um inventário alinhado com as diretrizes da ISO 14064-1 e com as especificações
do GHG Protocol. Não foi um trabalho fácil. "Fizemos um cálculo com três empreendimentos, um construído
da forma antiga e dois, de acordo com métodos sustentáveis de construção. No primeiro, encontramos
0,310 tonelada de carbono equivalente por metro quadrado. No segundo, a emissão foi de 0,275 e no terceiro, de 0,230",
diz GAva. Segundo ele, depois de muito estudo, a empresa chegou à conclusão de que a forma mais adequada para
fazer o inventário é utilizar como base os empreendimentos entregues no ano e o volume emitido na construção. Para checar o indicador, que leva em conta 45 grupos de produtos e materiais utilizados no processo da construção,
a empresa inventariou 32 empreendimentos e chegou a um índice de 0,275 tonelada de CO2 equivalente por metro quadrado
construído. Desse total, mais de 99,9% estão relacionados às emissões do escopo 3, aquelas que
ocorrem fora da empresa, mas estão relacionadas à sua atividade, como a fabricação e o transporte
dos materiais. A ideia agora é caminhar para o carbono zero, com investimento em tecnologia e seleção de fornecedores
igualmente comprometidos com as reduções, diz Gava. É este também o norte da Camargo Corrêa,
a primeira empresa de construção pesada do Brasil a fazer m plano para a gestão do carbono, baseado em
um inventário de emissão de gases de efeito estufa em suas obras e na definição de metas de redução.
"A partir de inventários realizados em 32 obras em 2009 e 2010, a companhia tem como meta reduzir suas emissões
em 21% até 2016 e 37% até 2020", dis Kalil Farran, gerente-executivo de sustentabilidade da construtora Camargo
Corrêa. Segundo ele, a primeira experiência foi feita em 2007, com o inventário da Usina Foz de Chapecó, em
Santa Catarina. No ano seguinte, a empresa inventariou cinco outras obras e em 2009 aplicou o procedimento às 32 em
carteira. Em 2010, já com sua agenda climática estruturada, o inventário virou processo e faz agora parte
da rotina da empresa. De acordo com o inventário da construtora, uma das principais fontes de emissões é a supressão
de vegetação para a instalação do canteiro de obras, mas também pesam o consumo de combustíveis
de energia elétrica e o uso de cimento e aço. "Por meio de engenharia de valor e ações de inovação
encontramos soluções e já aplicamos ações de redução", diz Farran. Segndo
ele, nas 32 obras inventariadas foi possível reduzir a área de desmatamento em 26%. A meta é chegar a
30% da emissão de GEE por meio da supressão vegetal nos canteiros de obras até 2016. No quesito combustível,
a meta é reduzir em 11% as emissões até 2016. A estratégia, nesse caso, passa pela redução
do consumo, treinamento de motoristas e pela troca do diesel pelo biodiesel. Conforme Farran, a motivação interna pelo sucesso do plano é grande não só porque o
cumprimento das metas está associado à remuneração variável dos times de cada obra, mas
também por que a iniciativa já desponta como um diferencial competitivo que confere vantagens à empresa
na disputa por novos negócios.