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Sindicato da Indústria da Construção Civil da Região Noroeste do Paraná

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Mercado precisa treinar profissional

26 de setembro de 2011

Maria Carolina Nomura

Além de cursos de alfabetização para operários, uma série de práticas tem de ser disseminada entre técnicos e engenheiros

Disseminado mais fortemente no Brasil a partir de 2006 - quando foram certificados os primeiros "green buildings" -, o conceito de sustentabilidade ganhou manchetes de jornais e força de vendas e, desde então, vem impulsionando a sua aplicação nas obras dos grandes centros. Apesar de todo o barulho, ainda são poucos os empreendimentos considerados sustentáveis no país. Com exceção de algumas construtoras e incorporadoras, a maioria das empresas não está preparada para atuar com esse novo modelo que envolve ações para tornar os processos menos onerosos para o meio ambiente e gerar impactos sociais positivos nas comunidades.

Para o engenheiro civil Marcelo Abrantes Linguitte, diretor da consultoria Terra Mater, a construção civil gera o maior impacto ambiental entre as cadeias produtivas. Estudo da consultoria constatou que 60% dos trabalhadores do setor não são formalizados. "Há um déficit brutal em termos de qualificação profissional e é no canteiro de obras que encontramos o primeiro nível de precariedade de proteção social e de falta de capacitação. Sem qualificação, aumentam o desperdício e a quebra de materiais, gerando a necessidade de compra de mais material, o que, por sua vez, aumenta os resíduos", diz Linguitte.

O engenheiro Roberto de Souza, presidente do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), afirma que, além da qualificação da mão de obra, a construção

sustentável envolve um conjunto de conceitos e metodologias. "Há uma série de práticas que os engenheiros não conheciam, como combater a erosão, lavar o caminhão antes de ele sair para não poluir, fazer a coleta seletiva de resíduos em parceria com as cooperativas, entre outras."

Paulo Vanzetto Garcia, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), diz que não adianta falar em sustentabilidade sem levar em consideração os custos para as empresas. "Minimizar a produção de resíduos, racionalizar o consumo de água para o empreendimento, diminuir o consumo de energia dos futuros moradores do empreendimento, nada mais é do que uma simples equação,na qual teremos as variáveis de investimento e de retorno. Esta equação precisa fechar positiva, caso contrário os negócios estarão ameaçados."

É por isso que a formação do profissional que trabalha com sustentabilidade deve ser ampla e multidisciplinar, assunto manco nas grades curriculares das universidades brasileiras, salvo raras exceções, como o Laboratório de Conforto Ambiental do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e algumas disciplinas voltadas à construção civil sustentável do curso de engenharia da Universidade de São Paulo (USP).

O Brasil está atrasado em relação aos países mais ricos, afirma a arquiteta Francine Naegele Vaz, consultora de projetos sustentáveis do CTE, com mestrado em arquitetura, energia e sustentabilidade pela London Metropolitan University, no Reino Unido. "Na Europa, a consciência sobre sustentabilidade é maior porque esse tema é estudado e desenvolvido há muito mais tempo. Isso significa que as legislações locais incorporaram uma série de boas práticas como mandatórias e os produtos lá utilizados vêm sendo testados e desenvolvidos com essa preocupação."

Outro termômetro que mede a falta de preparo do setor para a sustentabilidade é a pouca demanda de trabalho para engenheiros ambientais na construção civil. Fernando Barros, diretor da consultoria Master Ambiental, diz que os formados nessa área tem dificuldades até para conseguir estágios. "Os empresários não sabem direito o que faz um profissional com essa especialização. Entre uma de suas funções, por exemplo, está avaliar o cumprimento da legislação ambiental, que é desconhecida pela maioria expressiva dos engenheiros e arquitetos."

Giovanna Setti, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Consultoria e Engenharia Ambiental (Aesas), diz que o mercado está aquecido para os engenheiros ambientais apenas nos setores da indústria e em consultorias. "Para construtoras e incorporadoras ainda não." "Como não há um cargo específico com esse mote na construção civil, não noto um drive mandatório para a sustentabilidade. Se há necessidade desses profissionais, eles estão sendo formados dentro das próprias companhias", afirma Rafael Falcão, consultor da área de engenharia da Hays Recruiting.

Prova é que a demanda por cursos em companhias sobre questões de sustentabilidade é crescente. Na Fundação Vanzolini, os cursos sobre o processo AQUA (modelo francês de certificação ambiental) - que compõem critérios de sustentabilidade - têm suas vagas preenchidas quase que na sua totalidade, diz o engenheiro e professor da fundação Felipe Queiroz Coelho.

Na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), os cursos nas empresas são ministrados há pelo menos dois anos, afirma Orestes Gonçalves, professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil. Neste ano, foi aberta a primeira turma de pós-graduação em construção sustentável, com expectativa de bastante procura.

André Soares, diretor do Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (Ecocentro Ipec), afirma que as empresas buscam mais tecnologias sociais e soluções sustentáveis nas construções.No módulo do curso BioCidade, que tem grande demanda, são oferecidas aulas práticas, como a captação da água da chuva, telhados vivos e tratamento natural do esgoto.

"As empresas que buscam os cursos in company estão mais interessadas em formar uma cultura sustentável corporativa do que fazer propaganda para o mercado. Isso é uma boa notícia", afirma Márcio Augusto Araújo, sócio-fundador do Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica, que oferece cursos customizados.

A WTorre, que tem 80% de seus projetos com selo LEED (certificado ambiental pelo modelo americano do Green Building Council), investe de R$ 2,5 milhões a R$ 3 milhões por ano em capacitação. Sérgio Lindenberg, diretor-superintendente da WTorre Engenharia, diz que são feitos tanto ações no canteiro de obras quanto treinamento para níveis gerenciais. "Ao longo do processo de integração, todo operário recebe treinamento de segurança, meio ambiente e saúde, além de separação de resíduos. Em posições mais estratégicas, os profissionais participam de feiras internacionais, palestras e intercâmbio focado no que está sendo feito de mais moderno no mundo. Hoje, por exemplo, usamos vidros de fachada de alta performance para diminuir a necessidade de utilização de ar condicionado.

Ações sociais, como programas de alfabetização, fazem parte do pacote de sustentabilidade da empresa. "Não adianta falar em separar o resíduo se o operário não sabe ler. Essas pessoas ficam motivadas porque percebem a possibilidade de ascensão profissional. Começam como pedreiros e podem chegar a encarregados de obras. Nós também adotamos abrigos e contratamos alguns jovens como aprendizes. Muitos deles se desenvolvem e fazem carreira aqui."

A construtora Rio Verde Engenharia e Construções, com sede em Limeira, interior paulista, que recebeu neste ano o prêmio inédito ITCnet SustentaX de Sustentabilidade nas categorias Industrial e Residencial Baixa Renda, tem programas especiais focados no meio ambiente. O gerente de contrato,João Ridinaldo de Morais, diz que entre as ações desenvolvidas estão a conscientização dos operários para a prevenção de desperdício dos materiais. A companhia investe em treinamento sobre o desvio de resíduos de aterro sanitário e faz um plano de gerenciamento da qualidade do ar.

O grupo Camargo Corrêa estimula a busca de soluções sustentáveis para seus empreendimentos por meio do Prêmio Ideias e Práticas - Inovação Sustentável. Lançada em 2008, a iniciativa foi desenhada pela diretoria de sustentabilidade para tornar-se uma ferramenta de educação e engajamento do tema. Segundo a empresa, o prêmio acelerou a implantação da agenda de sustentabilidade do grupo, mobilizando milhares de profissionais, sistematizando diversas práticas e gerando centenas de ideias sustentáveis. Na edição de 2008, 425 trabalhos foram inscritos. No ano passado, 897.

Como o tema da sustentabilidade é multidisciplinar, não são apenas os engenheiros e arquitetos que devem conhecer seus fundamentos. Para a arquiteta Juliana Boer, do escritório Criar Arquitetura, em Campinas, é preciso que os profissionais da cadeia estejam preparados. "Não adianta instalar uma bacia com acionamento duplo se não souber usar corretamente. A sensibilização, mais do que a capacitação dos profissionais,é fundamental."

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