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A captação de recursos via Lei Rouanet para a realização de desfiles de moda tem causado polêmica.
Os três primeiros estilistas a se beneficiarem de uma aprovação do Ministério da Cultura, no dia
22 de agosto, são Alexandre Herchcovitch (com desfiles em Nova York e São Paulo, com captação
de R$ 2,6 milhões), Pedro Lourenço (desfile em Paris, com R$ 2,9 milhões) e Ronaldo Fraga (desfile em
São Paulo, com R$ 2 milhões). A medida gerou uma série de debates sobre a validade de se financiar a
moda com dinheiro público. Para o professor, produtor cultural e um dos diretores do Sindivest, Júnior Gabardo,
a Lei Rouanet deve apoiar a moda e o design, desde que os projetos tenham objetivos claramente culturais. “É
preciso analisar bem o propósito de cada projeto. É valido usar a lei se você criar, por exemplo, um desfile
embasado em uma pesquisa cultural e cujo patrimônio será democratizado depois. Mas se você faz algo que
só visa ao lucro e todo o patrimônio final fica restrito a uma empresa, nesse caso não vale”, afirma
Gabardo.
O fato de o desfile de Pedro Lourenço ter sido aprovado por decisão da ministra Marta Suplicy,
que ignorou o veto da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (Cnic), levanta questionamentos sobre os critérios
de seleção dos projetos. “Se a comissão reprova um desfile, mas a ministra aprova, ficamos sem
saber quais são os critérios. Para entender melhor isso, vale a pena observarmos quem serão os próximos
aprovados.”
Para Gabardo, o uso da Lei Rouanet pode gerar ainda um desconforto para as empresas que se associarem
aos desfiles. “A captação poderá ser difícil, porque nenhuma empresa quer se associar a
uma imagem negativa que está sendo gerada. Essa má repercussão pode prejudicar todo o setor da moda.”
Por
outro lado, após a primeira aceitação dos desfiles pelo Ministério da Cultura, Gabardo acredita
que muitos estilistas, inclusive paranaenses, deverão procurar esse caminho. “Acho que agora muitos vão
querer buscar isso. Em Curitiba há vários projetos que mereciam financiamento. Só esperamos que projetos
relevantes recebam a mesma atenção dada pela ministra a esses recentes aprovados.”
Confira a descrição,
publicada no Diário Oficial, dos três projetos de desfiles aprovados pela Lei Rouanet:
Moda brasileira
em Paris: internacionalização da criatividade, Pedro Lourenço
Valor do Apoio R$: 2.830.106,00
Resumo
do Projeto: “A exposição de artefatos e de criações artísticas pretende mostrar duas
coleções contemporâneas de moda feitas por um designer brasileiro, pensadas através da ótica
do jovem e internacionalmente renomado estilista Pedro Lourenço, que interpretará valores culturais e estéticos
da performer e cantora Carmem Miranda e que os traduzirá para os dias atuais em duas mostras diferentes desfiladas
na semana de moda de Paris”.
Mostra de Moda em São Paulo e Nova York: Herchcovitch fala de Antropofagia
Americana
Valor do Apoio R$: 2.616.173,50
Resumo do Projeto: “O resultado do processo de pesquisa e criação
será apresentado na forma de uma coleção feminina desfilada em duas cidades centrais no calendário
da moda nas Américas, São Paulo e Nova York, revisitando o movimento de antropofagia cultural em sentido amplo,
criando obras de vestuário contemporâneo na dialética viva entre estranho e o familiar, estrangeiro migrante
e o sedimento local, extraindo a experiência conceitual que emerge do passado colonial no contato dos europeus com corpos
ameríndios.”
Mostra Artesãos do Brasil na poética da moda: Sedimentos criativos revisitados
por Ronaldo Fraga
Valor do Apoio R$: 2.040.500,00
Resumo do Projeto: “A exposição de cultura
visual contemporânea e de criações de cunho autoral de Ronaldo Fraga apresentará artefatos têxteis
e técnicas brasileiras que transitam do popular ao erudito e do erudito ao popular, trabalho que se desdobra em duas
coleções desfiladas nas temporadas de moda de São Paulo, evento conhecido como São Paulo Fashion
Week. Mário de Andrade, João Cabral de Melo Neto e o artesão Espedito Seleiro são inspirações
para estas duas Mostras.”